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Eu sou Ingrid Bergman – a maior axila já vista

Eduardo Escorel | 21 jan 2016_16h39
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O título sugere que Eu sou Ingrid Bergman seja uma autobiografia na qual a própria atriz se apresente na primeira pessoa. Impressão confirmada apenas em parte ao serem lidos em voz off  trechos do diário de Ingrid Bergman. O que prevalece, porém, é o ponto de vista de terceiros, principalmente dos seus quatro filhos, três mulheres e um homem, colaboradores do projeto dirigido por Stig Bjorkman.

Desse modo, o perfil traçado da atriz sequer tenta ir além da superfície. A personagem permanece tão enigmática e distante quanto sempre foi. O documentário se satisfaz em coletar clips, tendo como único insight revelar o cuidado que Ingrid Bergman teve para preservar sua própria memória. Empenho de colecionadora que assegura sua glorificação póstuma.

Para comentar Eu sou Ingrid Bergman mais detidamente, seria preciso ter a liberdade e talento que Vinícius de Moraes revela nos textos que escreveu sobre Ingrid Bergman. Na coletânea recém reeditada, organizada por Carlos Augusto Calil (O cinema de meus olhos. Companhia das Letras, 2015) há dois textos, um de 1941, outro de 1953, nos quais o poeta e cronista de cinema revela seu encanto pela atriz sueca.

Rosalind Russell, com a qual Vinícius implicava, não merece, “como atriz e como mulher”, escreve Vinícius, “nem sequer catar pulgas nos cachorros de Ingrid Bergman. Esta criatura, uma das coisas mais sérias do atual Cinema, é realmente um tipo excelente de mulher. À primeira vista pode não dizer nada; tem, assim, uma fisionomia bem lavada de escandinava, um ar asséptico de enfermeira bonita, um jeito de quem escala o monte Branco uma vez por semana só para ficar em forma. Aos poucos, no entanto, vai se revelando no seu rosto, no seu sorriso, no seu modo de olhar, na sua naturalidade de gestos, uma emoção, um impulso sincero para as coisas, uma iluminação íntima que a transformam. Tudo passa a existir fundamente nessa mulher de Cinema, que também deve ser uma grande mulher fora da tela. […]”

Em poucas linhas Vinícius nos diz mais sobre Ingrid Bergman do que todo o documentário de Bjorkman.

No que parece um delírio erótico, em A asa do arcanjo Vinícius faz uma elegia à axila de Ingrid Bergman ao contar como viu Ingrid Bergman pela primeira vez. Ele estava numa banca de jornais, em Los Angeles, quando ouviu alguém dizer: Excuse me. “Tratava-se de uma voz feminina […] e eu vi uma dona, que estirava o braço por cima de mim para apanhar uma revista colocada mais no alto. Foi aí que dei, a um palmo do meu rosto (e falarei com a unção e gravidade que o momento comporta), com uma axila de Ingrid Bergman […] Tratava-se da maior axila que já vi, em ser vivente de qualquer espécie, com seguramente uns dez centímetros de diâmetro, sem falar nas circumvizinhanças.[…]”.

É preciso mais? Fiquemos por aqui, com aplausos à memória de Vinícius de Morais e à indiscutível beleza de Ingrid Bergman.

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