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questões cinematográficas

Fala Comigo – virtudes e deficiências

Ainda há quem diga que o cinema brasileiro vai bem. Quem é responsável?

Eduardo Escorel | 20 jul 2017_17h49
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Com roteiro e direção do estreante Felipe Sholl, Fala Comigo recebeu no Festival do Rio do ano passado os prêmios de melhor filme e melhor atriz, este atribuído a Karine Teles. Mesmo assim esperou nove meses até chegar aos cinemas na semana passada, já parecendo produção antiga.

O filme começa bem, explorando equívoco típico de comédias de erros, embora sem intenção cômica. Percebe-se que há uma espécie de linha cruzada nos telefonemas de Ângela (Karine Teles), mulher madura cujo marido teria ido embora de casa, e do adolescente Diogo (Tom Karabachian). Um dos dois parece enganado e, enquanto a situação não é esclarecida, Sholl sustenta o interesse da trama.

Outros aspectos positivos de Fala Comigo são o elenco, a adequação dos atores a seus personagens e, de modo geral, as atuações. Isso, não apenas no que se refere a atrizes consagradas como Karine Teles e Denise Fraga, mas também a Tom Karabachian e Anita Ferraz, ela no papel de Mariana, irmã menor de Diogo. Todos bem dirigidos, inclusive a menina e o adolescente prestes a fazer 18 anos.

Fala Comigo procura reciclar o velho tema da iniciação sexual de um rapaz por uma mulher madura. Com esse propósito, atualiza com argúcia e certo senso de humor os conflitos decorrentes dessa experiência juvenil.

Nascido em 1982, Sholl é um jovem diretor e roteirista que revela sensibilidade para captar as inquietações eróticas de Diogo, um jovem de classe média. Com relação à mãe e ao pai do garoto, porém, não demonstra a mesma capacidade de criar personagens interessantes. Fala Comigo fraqueja, caindo no lugar comum, ao tratar do casal em crise, formado por Clarice (Denise Fraga) e Marcos (Emílio de Mello). Ela, uma psicanalista que atende em casa, ele, seu marido insatisfeito.

Pouco satisfatória, igualmente, é a progressão da narrativa a partir do momento em que começa a ser esclarecido o desencontro do diálogo inicial por telefone de Diogo e Ângela. Além de outras situações deficientes, há uma que na forma encenada resulta inverossímil – a ida de Ângela ao quarto de Diogo após uma sessão de análise –, e a trama, em algumas passagens, avança aos solavancos, com cenas estanques, sem conexão e fluidez de uma para a seguinte.

Chama atenção também a trivialidade da fotografia e da maneira de filmar. Como vem se tornando usual em filmes brasileiros, Fala Comigo não tem imagens e sons elaborados. O visual e a sonoridade do filme são corretos, porém banais.

Gostaria de assistir a Fala Comigo outra vez para conferir minha primeira impressão, que pode ter sido influenciada por percalços enfrentados para conseguir assistir ao filme no sábado à tarde, a começar pelo sistema do exibidor que estava fora do ar, impedindo a compra de ingresso pela internet.

Chegando ao cinema, havia fila provocada pelo atendimento lento e confuso, não tendo sido possível pagar com cartão de crédito. E quando foi exibida uma chamada em que Selton Mello convida o público para assistir ao seu novo trabalho, O Filme da Minha Vida, o som estava inaudível, embora o trailer, exibido a seguir, estivesse com volume normal.

Esses pequenos obstáculos podem ter influenciado minha percepção de Fala Comigo, mas não foi possível assistir ao filme de novo antes de escrever este post.

Agora, tudo depende da resistência de Fala Comigo. Por quanto tempo permaneceráem cartaz? O filme de Sholl estava sitiado por concorrentes poderosos como Homem-Aranha: De Volta Ao Lar (produzido por 175 milhões de dólares, e que em menos de duas semanas rendeu 480 milhões de dólares no mercado mundial), Meu Malvado Favorito 3 (produzido por 75 milhões de dólares e que em menos de três semanas rendeu 629 milhões de dólares no mercado mundial), Carros 3 (custo de produção estimado em 175 milhões de dólares e que, até domingo, rendeu 220 milhões de dólares), além de outras produções menos milionárias, estreladas por gatos turcos, apelações franco-chilenas, e ainda por Emma Watson, Tom Hanks, Emmanuelle Riva e Depardieu.

Fala Comigo foi lançado com duas sessões por dia na sala de 165 lugares em que assisti ao filme na semana de estreia. Vinte e dois espectadores, representando ocupação da sala de 13.33%, viram o filme comigo. Na segunda-feira, passou a ser exibido em apenas uma sessão, às 22h. Hoje já não está mais em cartaz. E ainda há quem diga que o cinema brasileiro vai bem.

Quem é responsável?

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