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    Ilustração: Caio Borges

vultos do streaming

Folia no sofá

Uma coletânea de dez minisséries para maratonar durante o Carnaval

Miguel Barbieri Jr., especial para piauí | 02 mar 2025_08h30
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O Carnaval chegou, mas há quem prefira o sossego do sofá à folia dos blocos. Por isso, a piauí reuniu dez minisséries que estão no streaming com duas características: são curtas, com no máximo dez episódios; ou ligeiras, com capítulos de até 35 minutos. Em ambos os casos, as histórias estão distribuídas em uma única temporada.

O tempo que te dou (Netflix) – A produção espanhola tem apenas um casal de protagonistas (Nadia de Santiago e Álvaro Cervantes) e uma engenhosa estrutura narrativa. Funciona assim: todos os dez episódios têm entre 12 e 13 minutos e são divididos entre passado e presente enfocando a relação amorosa de uma garçonete com um biólogo. No primeiro capítulo, 10 minutos são dedicados ao passado e 1 minuto se passa no presente. No segundo, são 9 minutos para o passado e 2 para o presente… e assim por diante. Além de intérprete, Nadia de Santiago é uma das criadoras e, assim, prevalece a ótica feminina para o início, meio e fim do romance. E é bonita a metáfora que fica: as memórias do amor se apagam conforme o tempo passa.

 

Geração 30 e poucos (Netflix) – Quem foi criança, adolescente ou mesmo adulto na década de 1990, vai se identificar com os personagens da série italiana, que tem oito episódios de meia hora cada. Com uma mistura de drama, romance e comédia, a história se passa em duas épocas distintas. Nos dias de hoje, três amigos trabalham como desenvolvedores de aplicativos e um deles se pega apaixonado por uma moça que conheceu num encontro às escuras. O passado, ambientado em 1998, se mostra mais envolvente e divertido. É quando eles eram moleques, moravam numa ilha próxima a Nápoles, e descobriram o mundo no início da internet. A ótica infantil para fatos ora relevantes, ora corriqueiros, se revela deliciosamente nostálgica.

 

Halston (Netflix) – Ewan McGregor está estupendo como o estilista Roy Halston (1932-1990), um dos maiores nomes da moda, que construiu seu império a partir de um chapéu icônico feito para Jacqueline Kennedy, então primeira-dama dos Estados Unidos, em 1961. A minissérie de cinco episódios com média de 50 minutos cada, de Ryan Murphy, o grande showrunner por trás de Dahmer, Pose, Glee, Irmãos Menendez e Feud, traz a obra e a vida pessoal do costureiro com detalhes impressionantes. De seu problemático relacionamento com um garoto de programa à amizade com a cantora Liza Minnelli, a biografia de Halson também vai do vício em cocaína aos ataques de estrelismo. A recriação de época é um espetáculo à parte, com destaque para os figurinos e a reconstituição impecável do Studio 54, a famosa discoteca de Nova York.

 

Landscapers (Disney+) – Olivia Colman e David Thewlis formam um casal inglês que, misteriosamente, mora na França. Eles não têm dinheiro nem emprego e o futuro que os espera não é nada promissor. A minissérie, de quatro episódios, é inspirada em um caso verídico, ocorrido em 2013, e envolve um crime relacionado aos pais dela. No vaivém do tempo, o roteiro destrincha o fato mostrando os pontos de vista da esposa, do marido e também da polícia. É um interessante quebra-cabeça investigativo em que, por trás das incertezas, desponta uma bela (e igualmente triste) história de amor.

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O faz nada (Disney+) – Mariano Cohn e Gastón Duprat formam a dupla mais criativa do audiovisual argentino. São deles os filmes Concorrência oficial e O cidadão ilustre, além da bem-sucedida série Meu querido zelador. Nessa minissérie, de apenas cinco episódios com tempo médio de 35 minutos, o foco está em Manuel Tamayo Prats (papel de Luis Brandoni), um crítico gastronômico de Buenos Aires que, mesmo com pompa e circunstância, amarga a decadência e a instabilidade financeira. Bon vivant arrogante e meticuloso na culinária, ele terá de rever seu estiloso modo de vida na convivência com sua nova empregada doméstica. Humor afiado e drama comovente compõem a história de redenção e aprendizados. E tem uma participação fabulosa de Robert De Niro, que interpreta o amigo americano do crítico.

 

A teacher (Disney+) – Hannah Fidell é uma diretora e roteirista que, em 2013, levou ao cinema praticamente a mesma história – o filme também se chama A teacher e está disponível no streaming. Sete anos depois, Hannah se aprofundou e explorou melhor a polêmica relação entre uma mulher casada e um rapaz menor de idade nessa minissérie de dez episódios. Eric (Nick Robinson) tem 17 anos, vem de uma família humilde e precisa de um tutor para fortificar seus estudos e poder entrar na universidade. A professora Claire (Kate Mara), de 30 anos, está insatisfeita no casamento, se oferece para ajudá-lo e, pá!, nasce uma forte atração sexual entre eles. Os minutos finais da atração, dividida em dez episódios, cada um deles com tempo médio de 20 minutos, que marcam um reencontro, deixam expostas algumas questões relevantes que vão além do incendiário romance.

 

A autonomia (Max) – A autonomia retrata um futuro distópico. A série se passa em Jerusalém que, depois de uma guerra civil, virou a capital dos judeus ortodoxos. É um lugar protegido por muros e vigiado por seguranças. Há personagens curiosos, como um agente funerário que faz tráfico de carne de porco e de DVDs pornográficos e é infiel à esposa. Contudo, é a disputa por uma garota que vai gerar o maior impasse. A menina tem 9 anos, foi criada por um casal de Tel Aviv (a capital de um Estado laico), mas, na verdade, é neta do rabino que lidera a Autonomia. São cinco episódios, com cerca de 45 minutos cada, para mostrar a tensão que nasce entre radicais e moderados e a hipocrisia que ronda os ambientes fundamentalistas.

 

Olive Kitteridge (Max) – Antes de ganhar seus dois Oscars de melhor atriz, por Três anúncios para um crime (2017) e Nomadland (2020), Frances McDormand, uma das atrizes vivas mais premiadas com a estatueta dourada, estrelou essa minissérie da HBO. Ela interpreta Olive, que mora num vilarejo em Maine, nos Estados Unidos, e é uma professora amarga que mantém um casamento com um farmacêutico (Richard Jenkins) que há tempos deixou de amar. A primeira cena do episódio inaugural mostra uma tentativa de suicídio da personagem. A trama, então, volta 25 anos no tempo para narrar como essa mulher se tornou uma pessoa insensível e autoritária. O roteiro, inspirado no livro homônimo da americana Elizabeth Strout, examina com riqueza de detalhes a protagonista, suas escolhas de vida e suas desesperanças. 

 

Eu te amo, agora morra (Max) – Foi um caso que repercutiu na mídia e ganhou uma minissérie documental de curta duração e muito fôlego. Michelle Carter tinha 17 anos quando encorajou seu namorado, de 18, a cometer suicídio. Eles se relacionavam virtualmente e tiveram apenas um encontro frente a frente. São dois episódios (de uma hora cada) para relembrar o início do relacionamento deles e a investigação que se seguiu após Conrad tirar a própria vida. Um dos mais macabros capítulos da história policial americana ganhou uma pergunta pertinente: Michelle foi responsável pela morte do amado? Em 2022, a atriz Elle Fanning interpretou muito bem Michelle na também minissérie The girl from plainville, que, infelizmente, não está disponível no streaming.

 

Cinco dias no Hospital Memorial (AppleTV+) – Durante as enchentes no Rio Grande do Sul, entre abril e maio do ano passado, um outro fato muito parecido voltou à tona: a inundação que o furacão Katrina provocou em Nova Orleans, em agosto de 2005. A dica é dupla. Para quem gosta de documentários, assista à minissérie em cinco episódios Quando os diques se romperam, dirigida por Spike Lee e disponível na Max. Cinco dias no Hospital Memorial é igualmente impressionante por mostrar, de forma ficcionalizada, o isolamento do Memorial Hospital durante a tragédia. As fortes chuvas fizeram com que os diques se rompessem e 80% da cidade ficou alagada. Os cinco primeiros episódios mostram o nervoso e o angustiante dia a dia de médicos e enfermeiros para cuidar de mais de duzentos pacientes. Os três últimos capítulos, inspirados no livro da americana Sheri Fink, são dedicados a uma investigação inusitada: a vida dos doentes teria sido abreviada com injeções letais?