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questões cinematográficas

Godard antissemita? (3)

Para Richard Brody, Nossa música, de 2004, “é um filme de preconceitos pré-guerra enfeitados com ressentimentos pós-guerra – e, como muitas outras coisas na história do antissemitismo, com frustrações pessoais.” Nada convence Brody do contrário, nem mesmo o “simbolismo pessoal” indicado por Godard em entrevistas citadas pelo próprio Brody na biografia “Everything is Cinema The Working Life of Jean-Luc Godard” (sem edição brasileira).

| 07 fev 2011_12h03
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Para Richard Brody, , de 2004, “é um filme de preconceitos pré-guerra enfeitados com ressentimentos pós-guerra – e, como muitas outras coisas na história do antissemitismo, com frustrações pessoais.” Nada convence Brody do contrário, nem mesmo o “simbolismo pessoal” indicado por Godard em entrevistas citadas pelo próprio Brody na biografia “Everything is Cinema The Working Life of Jean-Luc Godard” (sem edição brasileira):

“Como marginais, expulsos do nosso jardim cinematográfico pelo que é chamado de cinema americano, eu me sinto próximo deles, os vietnamitas, os palestinos…Como criadores, nos tornamos sem-teto. Por muito tempo eu disse que estava à margem, mas que a margem é o que mantém as páginas unidas. Hoje, eu caí da margem, eu sinto que estou entre as páginas.”

Egocêntrico? Sem dúvida. Antissemita? Sinceramente, não sei.

Mas Brody não tem dúvida. Para ele, “ é uma diatribe mascarada de meditação, uma obra de preconceito abusivo disfarçada de reflexão calma, uma produção perniciosa escondida sob uma máscara. Depois da rejeição de Elogio do Amor, seu melhor filme, além de mais elevado e conciliador, Godard descontou sua rejeição nos alvos de sempre – os judeus.”

teria sido, segundo Brody, a maneira que Godard encontrou para se reconciliar com intelectuais e jovens franceses, “numa época em que paroxismos de retórica anti-americana e anti-israelenses varreram a França à medida que a guerra no Iraque parecia inevitável”.

Revendo hoje, é difícil entender a violência dos termos de Brody e a equivalência que estabelece entre antissemitismo e oposição ao estado de Israel.

Apesar de se deixar levar por um linguajar bélico, Brody não deixa de citar declarações de outros participantes da polêmica, além das do próprio Godard.

No New York Times, Manohla Dargis nega “o conteúdo doutrinário de Nossa Música; Andrew Sarris, por sua vez, no New York Observer, menciona “banais preconceitos antissionistas/antiamericanos que [Godard] compartilha com seus compatriotas, franceses ou suiços.”

Manohla Dargis, no caso, parece mais esclarecedora. Para ela, “como um pedagogo benevolente, [Godard] traça linhas pontilhadas entre suas preocupações, aponta em muitas direções, sugere vários meios de interpretação e fornece múltiplas referências. Mas o que ele teimosamente recusa fazer, nos seus filmes e em outros lugares, é tirar conclusões para nós, o que pode ser o maior elogio que um cineasta pode fazer ao seu público.” [continua]

Leia os posts anteriores sobre este tema

Godard antissemita [1]

Godard antissemita [2]

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