CRÉDITO: ANDRÉ DAHMER_2024
Guardiões do tempo rejeitam o Antropoceno
Especialistas votam contra a criação de uma nova época geológica do planeta
Em 2000, o biólogo americano Eugene Stoermer e o químico holandês Paul Crutzen, que ganhou o Nobel em 1995, propuseram definir uma nova época geológica caracterizada pelo impacto da espécie humana sobre o planeta. O termo sugerido foi Antropoceno, que junta o radical grego ánthropos, que designa os humanos, com o sufixo ceno, que significa “recente” e é usado para nomear outras épocas da linha geológica. O novo capítulo da humanidade colocaria fim ao Holoceno, que teve início por volta de 11,7 mil anos atrás.
O Antropoceno ganhou adeptos entre pesquisadores de várias disciplinas, virou nome de revistas científicas, seminários, linhas de pesquisa, documentários, reportagens e até canções populares. Faltava apenas referendá-lo junto aos guardiões da escala do tempo geológico. Afinal, os defensores do Antropoceno sustentam que já é possível identificar nas camadas rochosas da Terra os rastros deixados pelo Homo sapiens: a prática da agricultura e da pecuária de grande escala, a queima de combustíveis fósseis em volume colossal, o entupimento de mares e continentes com plástico, a explosão de armas nucleares e a extinção de incontáveis espécies de plantas e animais.
Bernardo Esteves, na edição deste mês da piauí, conta que o processo de reconhecimento da nova época se iniciou em 2009, com a criação de um grupo de trabalho dentro da Comissão Internacional de Estratigrafia da União Internacional de Ciências Geológicas (Iugs, na sigla em inglês), sediada em Pequim. Depois de catorze anos de análise, em outubro de 2023 o grupo apresentou a proposta que formalizaria a novidade: estamos em pleno Antropoceno.
Mas não. A votação da proposta por uma subcomissão de especialista Iugs começou em fevereiro, durou um mês e foi derrotada. Por 12 votos a 4, os peritos decidiram que não faz sentido criar a nova época. Com isso, continuamos vivendo no Holoceno. A discussão rachou a comunidade de geólogos e contrariou cientistas de outras disciplinas – e, de certo modo, continua viva.
Assinantes da revista podem ler a íntegra da reportagem neste link.
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