BRASÍLIA – Possuído, de súbito, pelo espírito cívico de próceres de seu partido, em especial as almas agregadoras de Tancredo Neves, Ulisses Guimarães e Michel Temer, o mártir Renan Calheiros abriu um pergaminho com propostas para todas as crises brasileiras. "Ofereço meu corpo, meus cargos comissionados e minhas concessões de rádio e TV pelo bem geral da Nação", anunciou, com a voz grave e braços abertos. Em seguida, com uma bata branca e um violão, entoou "É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã/ Por que se você para pra pensar, na verdade não há."

Dentre as propostas apresentadas por Calheiros, há uma tábua de salvação para a novela Babilônia. "São 27 itens para tornar a trama mais ágil, interessante e afeita ao gosto médio do brasileiro", ponderou, enquanto uma pomba branca posava em seu ombro esquerdo. Magoado por não ter sido consultado, Eduardo Cunha desdenhou e ordenou aos deputados que parem de assistir à novela. "O senador não entende nada de dramaturgia. Vou cortar o ponto de quem acompanhar esse dramalhão", bradou, com os olhos esbugalhados e os ombros curvados para frente.

Calheiros prometeu também salvar o Vasco da Gama do rebaixamento, reeleger Fernando Haddad e despoluir a Baía de Guanabara. Ao tomar conhecimento de que a Assembleia Geral da União Astronômica Internacional constatou que as galáxias produzem cada vez menos energia e que o Universo pode, com isso, estar morrendo, Calheiros bateu no peito e foi enfático: "Deixa comigo."

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