Foi um feriado agitado para alguns físicos. Circulou na internet mais um boato de que o bóson de Higgs teria sido detectado no LHC, o grande acelerador de partículas construído na fronteira entre a França e a Suíça. A notícia veio de um documento interno vazado em um blog."> Higgs entre a prudência e a histeria | revista piauí
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Questões da Ciência

Higgs entre a prudência e a histeria

Foi um feriado agitado para alguns físicos. Circulou na internet mais um boato de que o bóson de Higgs teria sido detectado no LHC, o grande acelerador de partículas construído na fronteira entre a França e a Suíça. A notícia veio de um documento interno vazado em um blog.

Bernardo Esteves | 26 abr 2011_00h51
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Foi um feriado agitado para alguns físicos. Circulou na internet mais um boato de que o bóson de Higgs teria sido detectado no LHC, o grande acelerador de partículas construído na fronteira entre a França e a Suíça. A notícia veio de um documento interno vazado em um blog.

Muitos físicos aguardam ansiosos a confirmação experimental da existência do bóson de Higgs. Essa é a partícula que explica a massa do universo de acordo com o chamado modelo padrão, a teoria que descreve as partículas subatômicas que compõem a matéria. Das 17 partículas previstas pelo modelo, 16 já foram observadas experimentalmente. Falta Higgs.

O relato da possível detecção desse bóson foi vazado no blog de um matemático da Universidade de Colúmbia, atribuído a quatro físicos vinculados ao experimento Atlas, em curso no LHC. Trata-se de um comunicado destinado a outros cientistas do projeto para notificar a observação de um resultado inesperado que poderia ser um indício do bóson de Higgs, embora o fenômeno registrado destoe em alguns aspectos das previsões teóricas.

O tom empolgado da conclusão do relato contrasta com o estilo contido da prosa científica. “Este resultado é a primeira observação definitiva da física além do modelo padrão”, afirmam os autores. “Pode-se esperar encontrar uma nova física excitante, e inclusive novas partículas, num futuro muito próximo.”

Outros físicos não tardaram a vir a público para minimizar o impacto das alegações bombásticas. A líder do experimento, a italiana Fabiola Gianotti, foi taxativa. “Só devem ser levados a sério os resultados oficiais do Atlas, ou seja, que tiverem passado por todas as checagens científicas necessárias”, afirmou ela ao blog The Great Beyond, da Nature.

O anúncio vazado de fato foi precipitado. Mas levar a fala de Gianotti às últimas consequências e aguardar pacientemente por uma publicação oficial seria perder uma ótima oportunidade de olhar um pouco mais de perto como é feita a física de ponta em grandes colaborações como o LHC.

Observações inesperadas são frequentes em experimentos como o Atlas, e muitas delas são descartadas após análises posteriores. Reações empolgadas com esse tipo de resultado tampouco são incomuns. Este não é o primeiro rumor de detecção de Higgs. De acordo com o último boato, o bóson teria sido identificado em julho de 2010 no Tevatron, nos Estados Unidos, o segundo maior acelerador de partículas do mundo.

O britânico Jon Butterworth, físico do Atlas, reconhece que o anúncio não é uma farsa, mas quer ver mais antes de se alinhar com o otimismo dos autores do comunicado vazado. “Os rumores estão baseados numa análise que tem que passar por muitos níveis de escrutínio científico antes que eu fique empolgado. E ela pode ser derrubada em qualquer estágio”, lembra ele em seu blog do Guardian. “Se ela persistir, será divulgada pelo Atlas e então será submetida a um periódico.”

Para um resultado científico de natureza controversa, até que a cobertura da imprensa foi comportada. Os sites e jornais que relataram o caso chamaram a atenção para a necessidade de confirmação oficial – inclusive o tabloide britânico Daily Mail, que trouxe o título mais original. Afinal, se é para noticiar o anúncio bombástico da detecção da partícula que dá massa às outras, por que não cravar logo “Histeria em massa”?

Foto: Equipamento usado no LHC para tentar detectar o bóson de Higgs. (ATLAS Experiment © 2011 CERN) 

Acima: Les Horribles Cernettes interpretam “Mr. Higgs”

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