Cenário de destruição no Rio Grande do Sul com a passagem de um ciclone extratropical - Foto: André Ávila/Agência RBS
Ilhados em meio ao ciclone
O relato de uma professora que perdeu tudo – mas abriu a porta de casa para deixar a água sair e conseguiu sobreviver
A professora Deili Mateus, de 58 anos, viveu um pesadelo na noite desta quinta-feira (15). Moradora do Garapiá, comunidade do município de Maquiné, no litoral norte do Rio Grande do Sul, presenciou a passagem do ciclone extratropical que atinge o estado. Em meio ao temporal, ela e o marido não conseguiram pregar os olhos à noite: a chuva invadiu a casa em que moram, e eles ficaram com água pelos joelhos. A força da água fez a casa estalar. O marido tem uma mercearia na residência, e os produtos começaram a boiar. Os dois tiveram de escolher: “Tivemos que abrir todas as portas para dar vazão à água, ou a casa ia ser levada junto. A gente preferiu deixar a mercadoria ir embora e preservar a nossa vida”, afirmou Deili. Eles perderam tudo.
Na manhã desta sexta, ela pediu ajuda em um grupo de WhatsApp de moradores da região para buscar abrigo. A mãe, de 86 anos, diabética, mora com ela e também presenciou o pesadelo da noite. Conseguiram alojamento na casa de uma vizinha que fica em uma região mais alta da cidade. Mesmo assim, Deili e outras tantas famílias continuam ilhadas e sem energia na região, já que pontes desabaram e inviabilizaram o tráfego até cidades próximas. Essa área tem muitas cachoeiras e rios. Em Maquiné, o rio e arroios subiram cerca de seis metros acima do nível normal.
O município é um dos mais afetados pelo ciclone extratropical que passou sobre o norte gaúcho e sul catarinense, causando uma série de estragos. Até às 6h desta sexta, choveu 250,2 mm em 24 horas – quase duas vezes o esperado para o mês. Na região, a média habitual em junho varia de 140 mm a 180 mm. Na noite desta quinta, o prefeito de Maquiné, João Marcos Bassani dos Santos, fez um apelo à população para que saísse de casa e buscasse lugares altos devido à inundação. Em entrevista à Rádio Gaúcha, ele afirmou que 80% da cidade ficou ilhada.
Maria Dolores Gussuli Pelisser mora em Pedra de Amolar, em Maquiné, e também foi uma das moradoras que ficou ilhada. Sem luz desde a noite de quinta-feira, passou a madrugada apreensiva, mas como a casa está localizada em uma região mais alta, não alagou. Diversos moradores da região que vivem da agricultura perderam grande parte das plantações. A força da água destruiu pontes, o que impossibilita a passagem das pessoas nessa região. “Não tenho como ir ao mercado, e os meus remédios estão terminando”, afirmou Pelisser.
O ciclone provocou alagamentos, deslizamentos de terra, bloqueios em estradas, queda de árvores e falta de energia elétrica na região metropolitana de Porto Alegre, no litoral, na serra gaúcha e na região dos vales. Até a noite desta sexta-feira (16), pelo menos três pessoas morreram, sendo uma delas em Maquiné, e onze estão desaparecidas. Em Sapiranga, na região metropolitana de Porto Alegre, a UPA alagou na última noite e pacientes precisaram ser transferidos de bote para o hospital do município.
Nesta tarde, o governador Eduardo Leite recebeu uma ligação de Lula. O presidente prestou solidariedade aos gaúchos e informou que enviará ao estado o ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes.
Por enquanto, Deili e sua família estão alojados na casa de vizinhos, mas esperam que por pouco tempo, já que a insulina que a mãe utiliza dura apenas mais três ou quatro dias no congelador. “Parece que amanhã o helicóptero vem buscar a gente.”
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