Jânio Quadros manda o bilhetinho 1634
Os avós e bisavós das gerações formadas no Facebook, Whatsapp e Twitter com certeza se lembram dos famosos “bilhetinhos do Jânio”, o meio preferido de comunicação do governador populista de São Paulo nos anos 50
Hoje, quando até mesmo o e-mail ameaça se tornar uma forma ultrapassada de comunicação, cartas e bilhetes manuscritos do passado recente remetem a costumes anti-diluvianos. A própria ideia de uma carta escrita à mão (ou datilografada) e enviada pelo correio é hoje difícil de entender para as novas gerações formadas no Facebook, WhatsApp e Twitter.
Já os avós e bisavós dos usuários desses recursos com certeza se lembram dos famosos “bilhetinhos do Jânio”. Era o meio preferido de comunicação do governador populista de São Paulo nos anos 50, que por alguns meses de 1961 chegou a execer o cargo de presidente da República. Sua renúncia irresponsável é vista por muitos como o longínquo estopim da sucessão de crises políticas das últimas cinco décadas.
No distante ano de 1958, o recurso aos bilhetes fazia parte da construção de uma imagem de suposta eficiência administrativa que o governador queria transmitir. Para um homem público que se dizia moderno, insistir que esse era o meio mais rápido e eficiente de contato com seus colaboradores teve tamanho efeito positivo na opinião pública que o detalhe acabou entrando para a história. Dada a boa repercussão do factoide, Jânio confirmou um estilo de governança que constituía em bombardear seus colaboradores próximos ou menos próximos com os tais bilhetes, que traziam as instruções que esperava ver cumpridas.
O que se encontra aqui reproduzido é batido à máquina e data de abril de 1958, quando Jânio era governador do estado de São Paulo havia já três anos. O texto comunica a inauguração de dois postos de identificação, no Ipiranga e em Pinheiros. O papel traz um carimbo vermelho dizendo “preferencial” e mostra um número de referência para resposta. O tal número é 1634, o que parece indicar que Jânio teria mandado anteriormente 1633 mensagens do mesmo tipo (intituladas internamente de “memorandos”).
Não parece um número excessivo para os mais de mil dias de governo que já haviam passado. Dá uma média de apenas dois bilhetes por dia útil, bem menos do que rezava a lenda e do que se instalou no imaginário popular.
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