Jean Rouch – cineastas nunca morrem (II)
Duas publicações recentes, editadas na França, oferecem novos acessos à obra de Jean Rouch.
Duas publicações recentes, editadas na França, oferecem novos acessos à obra de Jean Rouch.
Em 2009, Jean-Paul Colleyn – documentarista e antropólogo, especialista no Mali –, além de escrever a introdução, “Clés pour Jean Rouch” (“Chaves para Jean Rouch”), reuniu textos do próprio Rouch, em edição do “Cahiers du Cinéma” e do Institut national de l’audiovisuel – INA, com o título “Jean Rouch Cinéma et Anthropologie” ( “Jean Rouch Cinema e Antropologia” ). Dividido em três partes, a primeira é biográfica, seguida da que trata de cinema e da última sobre antropologia. Como pósfácio, reproduz o prefácio de Marc Henri Piault, “Regards croisés, regards partagés” ( “Olhares cruzados, olhares partilhados” ), publicado originalmente no livro do próprio Jean Rouch, “Les Hommes et les dieux du fleuve, Essai ethnographique sur les populations Songhay du Moyen Niger, 1941-1983” (“Os Homens e os deuses do rio, Ensaio de etnografia sobre os povos Songhay do médio Niger, 1941-1983”) 1941-1983, Paris: Artcom, 1997.
Esses textos, alguns dificeis de encontrar, formam excelente introdução ao pensamento de Rouch no período que vai de 1968 a 1995.
Em abril deste ano, o Arquivo francês de filmes do Centro Nacional de Cinematografia – CNC editou um catálogo fartamente ilustrado, inventariando 157 filmes de Rouch identificados até o momento, “Découvrir les films de Jean Rouch – collecte d’archives, inventaire et partage” (“Descobrir os filmes de Jean Rouch – coleta de arquivos, inventário e partilha”).
Apresentado como “um guia que dará chaves ao público para se apropriar dessa obra proteiforme, ainda em grande parte desconhecida”, reúne textos de vários autores, descrevendo diferentes aspectos do trabalho ainda em curso, que tem em vista a “salvaguarda, restauração e difusão do imenso trabalho de Rouch”, nas palavras de sua colaboradora François Foucault.
No Brasil, depois da publicação do valioso livro de Marco Antonio Gonçalves, em 2008, “O real imaginado Etnografia, Cinema e Surrealismo em Jean Rouch” ( Rio: Topbooks ), surge o catálogo da retrospectiva e colóquio dedicados a Jean Rouch, em 2009, editado pela Associação Balafon, de Belo Horizonte. Embora tenha ficado pronto com atraso e, até onde consegui saber, não esteja à venda, é uma contribuição significativa aos estudos rouchianos, tanto pela qualidade dos textos, alguns raros em qualquer língua, quanto pelas ilustrações.
Concebidos e com curadoria de Mateus Araújo Silva e Andrea Paganini, a retrospectiva e o colóquio, realizados no Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília, foram oportunidade única de conhecer parte expressiva da obra de Jean Rouch, tendo sido exibidos 76 dos seus filmes, e 14 relacionados a ele.
A morte do crítico Jean-André Fieschi, vítima de um infarto quando iniciava sua intervenção no colóquio em São Paulo, fez pairar sobre o evento a sombra da nossa transitoriedade. Além de ter vindo ao encontro do ceticismo daqueles que duvidam da perenidade dos cineastas, contrariando a sempre citada frase de Henri Langlois, que Jean Rouch gostava de repetir: “cineastas nunca morrem etc.”
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