INTERVENÇÃO DE PAULA CARDOSO SOBRE FOTOS DE ANDRÉ COELHO E PEDRO LADEIRA/FOLHAPRESS
Maia cresce no Twitter, Moro dispara e Mourão some
Vazamentos da Lava Jato mantêm ministro da Justiça como personagem do bolsonarismo mais citado na rede
Figura central na aprovação da reforma da Previdência e de outras pautas do governo – e um dos alvos prediletos do bolsonarismo –, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, vale mais, no Twitter, que quase todos os 25 ministros e ex-ministros de Bolsonaro. Dos integrantes da Esplanada, só Sergio Moro, da Justiça e Segurança Pública, teve mais menções na rede social, em 2019, do que o deputado do DEM. Maia também ultrapassou tuiteiros vorazes como Carlos e Eduardo Bolsonaro, filhos zero dois e zero três do presidente.
De janeiro a junho, Maia teve seu nome citado 4,3 milhões de vezes no Twitter. São mais menções do que tiveram, somados, os ministros Abraham Weintraub, da Educação; Ricardo Salles, do Meio Ambiente; e Onyx Lorenzoni, da Casa Civil, no mesmo período. Os dados foram compilados pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (DAPP-FGV), que, a pedido da piauí, monitora desde o início do ano as citações a políticos ligados ao governo nessa rede social.
Nesta terça-feira, 9, Maia tenta articular com líderes partidários uma estratégia para iniciar a votação da reforma da Previdência no plenário da Câmara. O objetivo é concluir a votação até o recesso parlamentar, que começa na semana que vem.
No Twitter, os debates sobre a reforma e seus efeitos multiplicaram as menções ao presidente da Câmara. No acumulado dos últimos três meses, na comparação com membros e aliados do governo, ele só ficou atrás do ministro da Justiça, Sergio Moro. As menções a Moro nessa rede social – que já tinham atingido um pico em maio – quadruplicaram em junho e chegaram a 9,3 milhões, após o site The Intercept Brasil publicar conversas do então juiz com o procurador Deltan Dallagnol, chefe da Operação Lava Jato em Curitiba. Personagem de pouco destaque até então, Dallagnol foi o segundo mais citado no Twitter em junho, com quase 2 milhões de menções.
O terceiro mais citado em junho foi Maia, com 986 mil menções. O barulho em torno do deputado do DEM contrasta com o silêncio crescente a respeito do vice-presidente, Hamilton Mourão. Após ter sido publicamente atacado por Carlos Bolsonaro nas redes, em abril, o militar saiu dos holofotes. De lá para cá, viu as citações a seu nome despencarem no Twitter: de 532 mil naquele mês, passaram a 259 mil em maio e 105 mil em junho.
Paralelamente, as citações ao nome de Rodrigo Maia atingiram dois picos no Twitter, sendo o primeiro deles em março. Naquele mês, o presidente da Câmara alfinetou Sergio Moro, chamando-o de “funcionário de Bolsonaro”, e trocou farpas com o próprio presidente – a quem recomendou “mais tempo para cuidar da Previdência e menos tempo cuidando do Twitter”. As redes bolsonaristas reagiram com fogo e fúria, alavancando hashtags como #calabocamaia.
Em maio, os ataques virtuais contra Maia aumentaram de intensidade e se materializaram nas ruas. O presidente da Câmara foi o principal alvo de protestos anti-Congresso convocados por apoiadores do governo para o dia 26 daquele mês. Virou boneco inflável, como o ex-presidente Lula, e recebeu, no Twitter, cinco vezes mais menções do que havia recebido no mês anterior.
As citações ao nome de Maia retrocederam em junho, mas ainda se mantêm num patamar elevado – mais alto, por exemplo, que o dos filhos de Bolsonaro. Como os principais projetos do governo ainda tramitam na Câmara, não parece provável que o deputado do DEM perca protagonismo tão cedo.
Passados seis meses de governo, Flavio, Carlos e Eduardo Bolsonaro continuam sendo os aliados do governo mais constantes no Twitter depois de Sergio Moro. Na média mensal de janeiro a junho, os filhos do presidente ficam à frente dos ministros mais citados na rede – entre eles Paulo Guedes, da Economia e Damares Alves, da Família – e do guru da nova direita, Olavo de Carvalho.
Na lista dos dez atores políticos do governo mais citados no Twitter em 2019, os filhos de Bolsonaro se destacam como os principais engajadores espontâneos. São, de certo modo, “dirigentes” do debate público no espectro da direita; mantêm uma média estável de menções na rede social desde 1º de janeiro. Seu comportamento nas redes difere dos “caroneiros”, figuras que ganham destaque de forma episódica, com grandes oscilações ao longo do tempo.
É o caso de Deltan Dallagnol – que despontou em junho devido aos vazamentos de conversas da Lava Jato – e, em menor escala, do ministro da Educação, Abraham Weintraub. Desconhecido do grande público até o início de abril, Weintraub foi o segundo bolsonarista mais citado no Twitter em maio. Teve seu desempenho catapultado por uma série de gafes e pelos protestos realizados naquele mês contra os cortes anunciados pelo governo na Educação.
Além dos “dirigentes” e dos “caroneiros”, pode-se dizer que há a categoria dos “atropelados”, aqueles que ganham visibilidade pontual no Twitter devido a ataques virtuais. Estão nesse rol o presidente do Senado, Davi Alcolumbre – quinto mais citado na rede social em junho, tendo mais que triplicado suas menções – e o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes – que multiplicou por cinco suas menções e foi o 11º mais citado no mês.
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