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“Mamonas pra sempre” – espectador à procura

Chegando a São Paulo, pensei aproveitar o fim da tarde para ver “Mamonas pra sempre”, dirigido por Cláudio Kahns, amigo de longa data e produtor de uma série de documentários ainda em curso, da qual sou diretor, tratando da disputa pelo poder político no Brasil a partir dos movimentos tenentistas e da Revolução de 1930. A proximidade com Cláudio Kahns me levou a não ver o documentário, nem ao receber uma cópia em DVD quando ficou pronto, nem ao estrear, em 34 salas, há 5 semanas. Surpreso pelo lançamento com 21 cópias, acima do padrão usual do mercado, li satisfeito as críticas ao filme, de maneira geral favoráveis, e fiquei na expectativa da voz da bilheteria, deixando para manifestar minha opinião depois que a sorte de “Mamonas para sempre” estivesse definida.

| 21 jul 2011_12h05
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Chegando a São Paulo, pensei aproveitar o fim da tarde para ver “Mamonas pra sempre”, dirigido por Cláudio Kahns, amigo de longa data e produtor de uma série de documentários ainda em curso, da qual sou diretor, tratando da disputa pelo poder político no Brasil a partir dos movimentos tenentistas e da Revolução de 1930.

A proximidade com Cláudio Kahns me levou a não ver o documentário, nem ao receber uma cópia em DVD quando ficou pronto, nem ao estrear, em 34 salas, há 5 semanas. Surpreso pelo lançamento com 21 cópias, acima do padrão usual do mercado, li satisfeito as críticas ao filme, de maneira geral favoráveis, e fiquei na expectativa da voz da bilheteria, deixando para manifestar minha opinião depois que a sorte de “Mamonas para sempre” estivesse definida.

Como já comentei em post anterior, o resultado do primeiro fim de semana foi abaixo da expectativa, com média de 179 espectadores por sala, e 6639 de público total, incluindo o das pré-estreias. Na segunda semana, o circuito foi reduzido pela metade, passando a 18 cinemas, com 12 cópias, a média de público por sala caíra para 88 espectadores, e o acumulado alcançara 13384. Depois de 5 semanas, foi visto por 15131 espectadores.

Sexta-feira passada, no caminho do aeroporto para o hotel, procurei cinemas e horários em que poderia ver “Mamonas pra sempre” e constatei, com aquela inútil sensação de ‘não falei?’, que estava em cartaz em um único cinema, no bairro da Pompeia, com uma sessão diária. O engarrafamento, a distância e o horário não me permitiriam chegar a tempo e acabei entrando num cinema da avenida Paulista para ver “Minhas tardes com Margueritte”, mais um filme com Gérard Depardieu, dirigido por Jean Becker.

Naquele dia, “Mamonas pra sempre” perdeu um espectador, o que não terá influido na sua carreira comercial. Quanto a “Minhas tardes com Margueritte”, ficou claro para mim por que minha mãe nonagenária o elogiou tanto quando conversamos por telefone de manhã – é um filme sensível, feito com delicadeza, em que o mundo parece um lugar possível para viver.

Buscando temperar com uma dose de realismo a visão rósea de “Minhas tardes com Margueritte”, ao sair do cinema continuei a leitura de “A Lebre da Patagônia”, memórias de Claude Lanzmann, que acabara de comprar na livraria do cinema, antes da sessão, e começara a ler pelos capítulos finais enquanto a luz da sala ficou acesa. Dedicados à realização de “Shoah”, acompanham o percurso de 12 anos, entre 1973 e 1985, que levou ao surgimento do marco essencial da história do cinema, caso raro de filme cujo título passou a designar evento da magnitude do que é conhecido como Holocausto.

Farei hoje nova tentativa de ver “Mamonas pra sempre”, se ainda estiver em cartaz. Convenhamos, porém, que há algo de errado se tamanha persistência é exigida até do espectador interessado em ver um filme 6 semanas depois da estreia.

Considerando que o mau resultado de bilheteria não é exclusivo de “Mamonas pra sempre”, mas também de outros documentários em cartaz, fora tantos já exibidos, mesmo os acolhidos com interesse pela imprensa e premiados em festivais – como explicar a ausência de espectadores nas salas?

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O que parece haver, de forma geral, é falta de sintonia entre realizadores e público. Algo indispensável que Ian Watt, no primeiro parágrafo do prefácio de “A ascenção do romance”, considera ter condicionado as obras de Defoe, Richardson e Fielding: “o novo clima de experiência social e moral que eles e seus leitores do século XVIII partilharam”. Foi dessa experiência compartilhada que, segundo Ian Watt, surgiu a nova forma literária conhecida como romance.

Se essa extrapolação fizer algum sentido, seria preciso pensar nas condições necessárias para que possa haver, se é que ainda é realmente possível, um “novo clima de experiência social e moral” partilhada entre cineastas e espectadores.

Enquanto isso, “Diário de uma busca”, dirigido por Flavia Castro, está para ser lançado, segundo o portal Filme B, só em Porto Alegre, suponho que em uma única sala, dia 2 de agosto. Aguardemos para ver se com essa estratégia o premiado documentário, distribuído pela Videofilmes, conseguirá atrair público e chegar aos espectadores do resto do Brasil, fazendo a carreira que merece.

Quanto a “A Lebre da Patagônia”, deixo meu comentário para outro post.

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