Mataram meu irmão
Mataram meu irmão – premiado no É Tudo Verdade
Ao escolher Mataram meu irmão, de Cristiano Burlan, como melhor documentário brasileiro do 18º Festival É Tudo Verdade, prêmio que tem o nome de “Janela para o contemporâneo”, o júri oficial, integrado por Flávia Castro, Marcelo Machado e Matias Mariani, deliberadamente ou não, deu um sinal claro não só para os outros realizadores cujos filmes estavam em competição, como também aos documentaristas, produtores e patrocinadores brasileiros em geral.
Ao escolher , de Cristiano Burlan, como melhor documentário brasileiro do 18º Festival É Tudo Verdade, prêmio que tem o nome de “Janela para o contemporâneo”, o júri oficial, integrado por Flávia Castro, Marcelo Machado e Matias Mariani, deliberadamente ou não, deu um sinal claro não só para os outros realizadores cujos filmes estavam em competição, como também aos documentaristas, produtores e patrocinadores brasileiros em geral.
Mataram meu irmão reúne pelo menos quatro qualidades, ausentes da maioria dos filmes que vêm sendo produzidos no Brasil. Trata de assunto contemporâneo de uma perspectiva pessoal, é centrado em tema delimitado, tem forma narrativa e visual rigorosamente planejada. Mesmo sem ser um documentário integralmente satisfatório, não há dúvida que está numa categoria à parte dos demais concorrentes ao prêmio no É Tudo Verdade.
Não terá sido por acaso, aliás, que o júri concedeu menção honrosa a Em busca de Iara, dirigido por Flavio Frederico, único outro concorrente em que há envolvimento pessoal da roteirista e produtora com a personagem do documentário. É Mariana Pamplona, sobrinha de Iara Iavelberg, quem investiga as circunstâncias da morte da sua tia e procura desmontar a versão oficial de que ele teria cometido suicídio.
O assassinato de um irmão ou de uma tia são, por si só, motivações suficientemente fortes, dificilmente suplantáveis, para realizar um documentário. Esses são filmes movidos pela dor, diante dos quais projetos em que o diretor está protegido atrás da câmera empalidecem. O movimento para tentar entender, por meio da feitura de um filme, as razões que levaram a perdas trágicas de pessoas próximas é um gesto de grandeza que merece respeito e reconhecimento.
Outro filme dessa linha é Elena, de Petra Costa, que ficou de fora do É Tudo Verdade por não ser inédito, mas estreia dia 10 de maio, depois de ter recebido vários prêmios no Festival de Brasília do ano passado e participado, entre outros, do Festival de Amsterdam (IDFA). Petra Costa procura sua irmã Elena, mas ao contrário de – um registro cru – faz da sua investigação uma sensível recriação dos sentimentos envolvidos na sua perda e na sua procura.
Encerrando o É Tudo Verdade, foi exibido, no Rio, Filha-problema, de Stéphanie Argerich, filha de Martha Argerich. Nesse caso, sem que haja morte próxima, não deixa de haver sentimento de perda por parte da diretora. Através do filme ela também está à procura de algo crucial para sua própria vida – conhecer melhor quem são sua mãe e seu pai.
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