A bacanal
Farsa
Samantha Las Casas | Edição 114, Março 2016
Hall da Fama, bar trash da pacata Araxá, agradava a cambada chapada — Mara, Jarbas, Max, Jack, Alan. Mara, a sapata, atacava a danada da garrafa da cachaça: “Marvada!”, grasnava. Jack traçava Plazas a largas tragadas; mascava Adams. Graça, a mana da Mara, arrastava as amplas ancas às palmas da cambada. Max, a anta da raça, apalpava a safada às gargalhadas. A Brahma grassava. Baratas passavam na calçada, mas a manada sambava, lambava, dançava tchans, trajava abadás laranjas. Cá pra lá, lá pra cá, Carnaval — as danças pagãs abrasavam a calma da lama d’Araxá, alavancavam a sanha das massas.
Cansada da cana barata, a assanhada Mara (da tanga prata), Bagdá já pra lá, brada:
— Basta! Basta! Pra casa da Graça!
— Pra já! À casa da Graça! — clamava a cambada, farta das cartas marcadas, da falta da grana, da sanha parca da falsa farra.
— Bacanal na casa da Graça! Rá rá rá!, babava a manada.
A casa da Graça, chácara clara à la Casablanca, jaz afastada da farra, mas, às calçadas, Caravans, Ladas, Kas, Pampas, vans, bastavam. A caravana zarpara.
Jarbas mascava Sandra, a mal-amada. Jack azarava a tal da Amanda, a acanhada, dada a Fanta Laranja, a chá, a tâmaras. “Barbada! Naba na aranha!” — Jack, canalha, rangava na alma as ancas da tal gata. Graça, mascarada, dava a cara a tapa, arrastava a carapaça na grama, amassava a calça na lama da casa.
Lá, na casa, a janta acabara. A babá anã, calva, fanha, gaga, manca, parda, armava as alvas camas. Achara na cama a mancha rara: a ama, tarada, sangrara! “Aplacara-a Jack”, achava a babá. “Satanás! Satanás!”
Mas: abracadabra! Já na casa, a manada alarmava a babá, atazanada. A alma malsã da ama armava altas baladas. Bradavam: “Às camas! Às camas!”. Chamavam Satã, Pã, Zapata, Karl Marx, Franz Kafka. A babá anã, atarantada, zanzava, arrastava a tamanca. A cambada avançava. Tavam c’a macaca. Max dava palmadas nas ancas da Clara. “Vagaba! Vagaba!” A Clara agradava: “Ranga, rapaz! ranga!” Max acatava, acasalava c’a Clara na varanda da casa.
Jazz, salsa, valsa, ska — altas danças arrastavam a farra. Cantavam Frank Zappa, Abba, Santana, Paralamas. Já afagavam as mamas das manas — alçavam tamanhas nabas. Jarbas na sala (mala!) atrapalhava a Graça a transar c’Alan.
Na cama, Sandra agachada: vara na garganta. A gravata amarrava-a na cara, aplacava a asma da magra danada. “Atrás! Avança, atrás! Avança, rasga, rasga!”, bradava a tarada. Rafa, bamba das savanas, ás das façanhas, atacava a danada, ganhava a batalha; arfava.
Max, atrás, rangava Frank, rasgava a cabaça. Arrasava-a. Frank clamava: “Mad Max! What a man!”, largava a franga. Sandra amava Frank; zangava amarga c’a cavalgada: “Babaca! Babaca!!”.
Hall: Alan aplacava a tara anal da Sasha, mandava a vara na dama abastada. Afã às pampas, Sasha amava, cavalgava pacas. Apagara; Sasha cagava a lasanha jantada na alva cara d’Alan, avacalhava.
Atrás da casa, na cabana, Abdala arfava. Ramadã acabara; gastava a tara na Alba, carcava-a, clamava: “Alá!”.
— Aaaahhh!!! — Lançara a rajada branca na cara da Alba.
Pasmada, a babá anã sacava a bacanal da sacada da sala. Parva, agarrava a Santa, chamava: “Má santa! Má santa!”. A farra carnal da ama saltava às barbas da atarracada anã.
Na rampa da casa, Frank flagrara a babá na sacada da sala. Chamava a manada: “A babá! Na sacada!”.
— A babá anã! A manca sarada!
— A anã parda! Amarra!!
— Papa a gaga! Mama nas banhas da fanha!
Na raça, Graça tratava d’ampará-la:
— Nada da babá! Carta branca pra anã!
Mas avançaram na sala: amavam anãs. Amarraram-na, atacaram: Rafa na chavasca, Frank atrás. Gargalhavam: “Ranga a vaca! Arrasa! Achata a anã, amassa!”.
A babá, amarrada, balançava, arrasada, agachada na marra, mas… zás-trás!… Alcançara a graça. “Saravá! Saravá!” — lavara a alma.
Na sala, nas camas, na mansarda… passavam as tantas badaladas, mas a bacanal, assaz assanhada, avançava, tal as safadas chanchadas. A anã, maltratada, apagara. A malvada cambada ralava a pança da babá, falava: “Taca na arca! Tranca a baranga na canastra!”.
— Vá, Jack, abra!
— Arranca a tranca!
— Taca na arca!
A tranca da arca arrancada, agarraram a anã — mas tchan, tchan, tchan, tchan!!!… “Há grana na arca!”
Acharam a grana! Cash! A grana trancada, la plata, a grana rara da Graça! “Farra! Farra! Afana a grana da arca!” — já clamava a canalha. Mas Graça, tal arara:
— Mancada! Nada da farra! Nã nã nã nã nã!
— Azar! Grana achada, nada afanada! — achava a malandra manada.
— Pára! — bradava Graça. — A grana sagrada! Nada gastada! Batalhada!
— Camaradas! Rachar a grana da arca c’as massas! — falava a Clara, Marx na alma.
— Afana! Gasta a grana! Cata a canastra! — chamava Jack.
— Palhaçada! — ralhava Graça, zangada. — Vá garfar a grana da mama, ratazana!
— Gasta a grana! Champanha! Champanha pra cambada!!!
— Batalharás nas armas para gastá-la, Jack! — Max avançava.
— Panaca! — Jack saltara: gravata.
Apanhavam já armas brancas — facas, adagas, navalhas. Alan atacava; tal praga, a bagarra alastrava. Varas, clavas, lanças, tralhas, zarabatanas abrasavam a batalha. Palmadas, tacadas, machadadas — na casa, nada calma, nada pacata, as almas sangravam.
A algazarra avançava; rasgavam, matavam, apanhavam. Mas Jarbas parara; sacara a arca largada às traças. Nada falaz, a cara lavada, açambarca a grana da arca. Trapaça. Caçava a anã; tramava raptá-la, zarpar c’a grana. “Caracas? Rabat? Havana? Praga? — Maracangalha!…”.
Arrasavam a chácara. Avassalaram a sala, rasgaram a cama, amassaram
a mandala, atacaram a fachada a bala, assaram as cabras. Caparam Frank. A facada fatal acabara c’Amanda: apagada, sangrava. Jack arfava, a maçã da cara ralada. A manhã já cavalgava; a balada acabara.
A manada, arrasada, nada falava. Babava. A babá anã, malfadada, mancava pacas. Jarbas achara-a na varanda:
— Jarbas! Canalha!
— Babá! Babá amada!
Jack matara a charada: Jarbas amava a babá — a babá anã, calva, fanha, gaga, manca, parda! Abraçava-a, amparava-a.
— Casará c’a anã? Cascata!! — achava a cambada.
A babá, parada na sala, calava. Mas agarra Jarbas; afaga — brada:
— Às favas! Pra Pasárgada!!!
—
Conto integrante da Pentalogia Monovocálica, originalmente publicada na extinta revista Ácaro. Este texto é citado na reportagem Ratos no Labirinto, da piauí_114.
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