A capa do beijo na boca suscita polêmica
| Edição 84, Setembro 2013
DIRCEU
Até que eu tinha vontade de ler esta biografia de José Dirceu. Mas depois do artigo de Mario Sergio Conti (“Chutes para todo lado”, piauí_83, agosto), desisti. Nem tanto por discordar de quase tudo que José Dirceu diz. Mas pela quantidade de erros que aparecem no livro. Um jornalista que se preza não pode cometer erros como o de inventar que José Dirceu esteve no Haiti para o jogo do Brasil, entre tantos outros apontados na resenha. Isso é desinformação.
JOSÉ CÁCIO JÚNIOR_SÃO JOSÉ/SC
Os erros de Otávio Cabral no livro sobre Zé Dirceu não modificam a biografia desse estranhíssimo personagem. Os fatos estão lá, mais ou menos romanceados, um ou outro personagem presente para valorizar uma cena, alguns pequenos erros de cronologia, o cardápio da ambição gastronômica nos primeiros encontros com o poder. Nada, porém, desmente a atividade fundamental do vaidoso agente duplo que, para mudar a fisionomia, em nome da necessidade de tornar-se irreconhecível, corrigiu um nariz adunco que o perseguia desde menino.
O comissário jogou umas pedras na polícia e entregou mais de mil companheiros em Ibiúna, entrou e saiu clandestinamente do país nas horas de maior repressão, surgiu do nada numa cidade do interior do Paraná, casou-se, constituiu família e nunca despertou a menor curiosidade do aparato repressor. Hum…
FERNANDO TAVARES_RIO DE JANEIRO/RJ
Acho que para a maioria dos leitores de piauí é evidente que um livro como a biografia de Dirceu não é lá uma produção jornalística das mais sérias. Depois de um certo tempo, passa a ser fácil distinguir entre um best-seller e um livro de verdade. Mas, mais do que isso, acho que o sr. Conti não ignora esse fato e não estava, no artigo, tentando defender a história de José Dirceu (e só Deus sabe do quanto ela precisa de defesa) e tampouco tentando livrar o leitor de uma tremenda furada. Por que se dignou a escrever uma resenha tão extensa sobre uma coisa tão pequena?
VICTOR JOSÉ DE SOUZA TEODORO_SÃO PAULO/SP
O ÔNUS DA PROVA
Sou sargento da PMERJ e estou há treze anos na corporação, seis dos quais trabalhando diretamente no Complexo da Maré.
Entendo perfeitamente a situação dramática de quem vive em territórios ainda dominados pelo poder paralelo do tráfico de drogas, mas fiquei intrigado com os argumentos tendenciosos da matéria que parece induzir os leitores à ideia de que a PM é vilã e inimiga número 1 dos favelados (“Os invisíveis”, piauí_83, agosto).
Gostaria de esclarecer que há uma regra básica no direito: o ônus da prova cabe a quem acusa, porém para a Polícia Militar esse princípio funciona ao contrário, considerando que cabe a nós o dever de provar primeiro que somos inocentes. O in dubio pro reo, a dúvida e o contraditório nunca se aplicam aos policiais envolvidos em situações de conflito.
Os moradores dessas comunidades são orientados pelas ONGs a imputar as mortes que ocorrem durante os confrontos à polícia, visando a indenizações do Estado. Não adianta entrevistar somente “policiólogos”, digo, sociólogos, filósofos e afins. É necessário ampliar o debate e ouvir também a versão de quem esteve no front.
WILLIAM ALVES_RIO DE JANEIRO/RJ
TANTO LÁ COMO CÁ
Assustador o artigo “A democracia na praça” (piauí_83, agosto) do Germán Labrador Méndez. Li muitas análises sobre as recentes manifestações no Brasil. Entretanto, nada foi tão revelador quanto este artigo que descreve a situação na Espanha. Merecia uma comparação com a situação do Brasil atual. O texto é um primor de análise política e econômica.
MARIO ALBERTO FILHO_SÃO PAULO/SP
BEIJO NA BOCA
A capa da última edição de piauí_83, agosto, é polêmica por natureza. Numa terra onde um simples selinho do jogador Sheik assusta, imaginem um beijaço exposto numa banca de jornal o mês todo. Foi o que aconteceu numa delas, aqui em Bauru, onde encontrei a capa da revista ao contrário. Perguntei o motivo ao jornaleiro e ele disse: “Não aguento ver esse beijo. Ele me incomoda.” Não ousei explicar-lhe quem era Snowden, Putin nem a banda russa Pussy Riot. Eu mesmo, ao ler a revista numa fila de banco, me vi sendo observado de maneira estranha.
Portanto, por favor, sejam mais recatados. Ofereçam ao menos uma burca aos leitores e jornaleiros.
HENRIQUE PERAZZI DE AQUINO_BAURU/SP
NOTA DA REDAÇÃO: Cientes do nosso compromisso com os bons modos, optamos este mês por uma capa inocente e primaveril. Informe ao seu jornaleiro que ela foi impressa em tinta perfumada.
MÊS DOS LOUCOS
Não, não está petista a piauí_83 de agosto. A saborosa capa vermelha é da russa Nadia Khuzina, que também desperta sentimentos mais profundos. O presidente Rui Falcão é apenas mais um vulto da República muito bem retratado por Daniela Pinheiro (“O comissário”), o lulismo é uma corrente como outra qualquer nas palavras de César Benjamin (“O longo prazo chegou”), Mario Sergio Conti fala de um livro ruim de um petista pouco importante (“Chutes para todo lado”) e a Dilma Rousseff de seu diário não parece ser ela mesma (“Em festa de formiga não se elogia tamanduá”).
Coincidência? Ou mais um prenúncio da capacidade premonitória de piauí de que o mês de loucos e mortes súbitas é para ser um marco na história do PT? Gostei de tudo e li com avidez. E, quando folheava as páginas da revista, enroscava um pouco na estrelinha espetada em minha camisa.
ADILSON ROBERTO GONÇALVES_LORENA/SP
VARIG, VARIG, VARIG
É sempre oportuno propor a discussão de casos ainda não esclarecidos. Contudo, deve-se respaldar em informações verídicas. A reportagem “A disputa que matou a Varig” (piauí_82, julho) ficou comprometida no que diz respeito aos dados sobre a Panair do Brasil.
Ao contrário do que se publicou, a companhia nunca repassara “quase todas as linhas internacionais a outras empresas”. Também não é verdade que “cambaleava depois de vendida a Celso da Rocha Miranda e Mario Wallace Simonsen”. Embora enfrentasse dificuldades por causa do câmbio desvalorizado, era a companhia aérea brasileira com melhores chances de recuperação, segundo estudos realizados pela Ecotec em 1964. Operava normalmente com as contas em dia quando teve o direito cassado subitamente, sem aviso prévio ou oportunidade de defesa. Sem que houvesse qualquer título em protesto ou dívida vencida exigível, a Panair teve a falência decretada por pressão do governo – parte de uma perseguição que se estendeu aos outros negócios do grupo, não alinhado ao regime.
Hoje reabilitada, a Panair do Brasil ainda tem dinheiro em caixa – mesmo há 48 anos sem operar. Esse, sim, “é o caso mais rumoroso de falência da história do país”.
DANIEL LEB SASAKI_SÃO PAULO/SP
NOTA DA REDAÇÃO: Na matéria sobre a Varig, publicamos que a Panair repassou “quase todas as linhas internas [e não internacionais] a outras empresas”.
Não entendi o título “A disputa que matou a Varig”, atribuído à excelente reportagem de Consuelo Dieguez sobre a companhia aérea. É verdade que a inexperiência da equipe petista, somada à sua mania de aparelhar, ou tentar aparelhar, toda estrutura empresarial – estatal ou não –, montou uma conjuntura desfavorável na busca de uma solução a um processo letal que, se veio a público somente nos anos 2000, teve início nos idos da ditadura militar. Quando terminei a leitura, concluí que os custos da troca de favores com o governo militar, bem como os desmandos da Fundação Ruben Berta na administração da companhia, agravados pelo furacão que nos atingiu a todos em 1986 – o Plano Cruzado –, é que foram a causa mortis da Varig.
ESTELA VILELA GONÇALVES_SÃO PAULO/SP
Muito esclarecedora a matéria sobre a quebra da Varig. O que causou espanto foram as palavras do Rolim Amaro: “Eu sou o único que pode enquadrar os pilotos da Varig. […] Na TAM, se o piloto fala grosso eu demito, na Varig eles se acham deuses.” Na verdade quem se achava Deus era o Rolim, que morreu porque, como era Deus, garantia que seu helicóptero voaria sem combustível; foi enquadrado pelas circunstâncias em um acidente evitável.
ROBERTO V. JANCZURA_PORTO ALEGRE/RS
IGREJAS DE ILHÉUS
A reportagem “Via-sacra” (piauí_82, julho), de Paula Scarpin, retrata com precisão e profundidade a realidade religiosa urbana brasileira. É impressionante o rigor das informações, e como de praxe na revista piauí, repassadas de modo respeitoso, o que é incomum em textos sobre as igrejas evangélicas, mesmo na literatura acadêmica.
ORIVALDO P. LOPES JR._NATAL/RN
PIAUÍ_79
Acredito que não foi por acaso que vocês colocaram estes três textos na mesma edição e praticamente em sequência: “Laerte em trânsito”, “O povoado dos Kirchner” e “Bafo em Paris” (piauí_79, abril). É o podre da condição humana subvertido. A hipocrisia podre do poder podre dos podres Kirchner e seus podres asseclas. Um mundo do qual resolvemos ter nojo, mas que, ainda, a maior parte de nós, quando exposta a ele, acaba sucumbindo e se corrompendo por reles “terreninhos”. A Argentina dos Kirchner é o Brasil do PMDB (e seus aliados de hoje e de ontem) em muitos rincões país afora. A podridão do luxo no mundo irreal e inumano da moda, mas contraditoriamente aspirado por todos em maior ou menor grau (e aí, “O cidadão como consumidor” diz muito sobre como chegamos a esse ponto). E, no entanto, tudo começa com Laerte, o travesti de classe média. É deste mundo, em geral considerado podre e infra-humano, que emerge a lucidez sobre a condição humana. Laerte, que começou crossdresser (eufemismo pedante que tem preconceito de si mesmo), teve a coragem de se reconhecer como travesti e se identificar com a rua. Ele enxergou o humano por baixo de todo o imbróglio do gênero. É do mais “baixo” da condição humana que emergiu o belo nessa edição; e do mais “alto”, dos pináculos do poder e do luxo, que o podre eclodiu como pus de uma pústula velha e nojenta.
GUSTAVO GOMES_BELO HORIZONTE/MG
SEM CRÉDITO
piauí publicou um dos mais incríveis retratos de Getúlio Vargas, flagrado dando uma descontraída baforada de charuto (“Tiros na fronteira”, piauí_82, julho). Leonard McCombe, autor desse retrato, de inúmeras capas e de reportagens publicadas nas páginas da Life, foi um dos mais importantes e influentes fotógrafos daquela época dourada do fotojornalismo. No entanto, seu nome nem foi citado no crédito da fotografia. Há somente a menção “Time & Life Pictures_Getty Images”. Creditar uma fotografia ao banco de imagens pode ser comparado a creditar o texto de um autor à editora que o publica.
CRISTIANO MASCARO_CARAPICUÍBA/SP
O CRONISTA
Na boa matéria com Antonio Prata e os cronistas (“No epicentro da barafunda”, piauí_82, julho), gostei da lembrança sobre o texto “How do you do, Dutra?”, da segunda edição (piauí_02, novembro 2006). Lembro que tinha 19 anos e estava na casa do meu tio quando peguei a revista para ler e fiquei fascinado com essa matéria e com o decadente Papai Noel escutando Osvaldo Montenegro em Penedo. Comecei a comprar a piauí no mês seguinte e nunca mais parei (mentira, ganhei uma assinatura desse mesmo tio). Que Antonio Prata, quem sabe um dia, volte a escrever na revista.
GUILHERME BLATT_CUIABÁ/MT
PROTESTOS
Não pude deixar de saborear certos detalhes da edição de julho, pelo que eles revelaram da linha editorial da revista e sua posição diante dos protestos de junho: a charge (de Claudius Ceccon) deixava entrever a impaciência da classe média alta ilustrada paulistana quando se trata do “lulismo”: “Fair play uma ova!” Mas também a coisa não pode descambar para o fascismo e para a violência em cima do pessoal de esquerda. Agora, o que fazer se foi isso mesmo que aconteceu nos protestos, se quem apanhou da juventude verde-amarelo e branca dos skinheads e pitboys foram justamente os “otários” de camiseta e bandeira vermelha? Muito simples: vamos reinventar a realidade! Foi o que fez Renato Terra em “O pit bull de passeata”, destinado a aliviar nossas consciências tucanas culpadas – demonstrando um talento goebbelsiano, o autor inventou um pitboy democrático, que distribuiu porrada à direita (nos “coxinhas nervosinhos”) e à esquerda (nos “barbudinhos radicais”). Fui dormir mais tranquilo.
EDUARDO CORREIA_SÃO PAULO/SP
NOTA DA REDAÇÃO: Obrigado, Eduardo. Você acaba de nos inspirar para outro tipo brasileiro: o PTboy da seção de cartas.
A edição de julho foi uma tradução muito bem-humorada e realista da copa das manifestações. Claudius Ceccon soube incorporar muito bem o espírito dos cartazes vistos durante as manifestações.
GUARACIARA DE LAVOR LOPES_VOLTA REDONDA/RJ
ESQUERDA À DERIVA
“Sobrou para o PSTU” (piauí_82, julho) fechou com chave de ouro essa edição. Nonato Viegas soube expor de forma brilhante as contradições dos envolvidos nos protestos e dos ditos “revolucionários”.
MAICON ANTONIO PAIM_BAGÉ/RS
CÉU DE BRIGADEIRO
“Tio, estou com medo”, disse uma menina de 6 anos em seu primeiro voo. Eu respondi: “Vamos ver uns desenhos” e peguei a piauí de julho. A cada desenho dos manifestantes, inventava uma história para Maria Luiza. Os quadrinhos (“O sentido da vida”, de Uwe Heidschötter) foram os que mais a alegraram e me criaram um certo desconcerto. Aquela menina delicada não poderia lidar com pintinhos sendo assassinados. O final trágico deles se conectou com os personagens dos protestos, em uma história de libertação e saída das cascas. E aí Maria Luiza dormiu. Também dormi, torcendo para que os movimentos e protestos continuem. Obrigado por proporcionar mais este momento único, com excelentes textos e ilustrações incríveis, capazes de acalmar uma criança em pânico de voo e um adulto em sua expectativa de chegar.
ANDRÉ COSTA NAHUR_BRASÍLIA/DF
CORPORATIVISMO MÉDICO
Mais uma vez piauí se supera com uma edição primorosa. Na edição 81 (junho), o destaque foi “A doutora”, de Daniela Pinheiro. Mais do que um perfil da médica Virgínia Soares de Souza, o que vemos é um instantâneo do corporativismo dos médicos brasileiros. É chocante ver com que facilidade esses profissionais se arriscam a defender uma pessoa que sofre acusações graves, simplesmente por ser uma colega de profissão. Isso fica patente quando todos os médicos, conhecidos ou não da dra. Virgínia, se utilizavam basicamente de três argumentos para defendê-la: 1º: Ela é uma médica experiente; 2º: As acusações não são feitas por médicos, apenas por pacientes e (ex) funcionários do hospital; 3º (meu preferido, que faria Foucault rolar de rir): as UTIs têm procedimentos que podem ser “mal interpretados por leigos”. Afinal, nada pode contra o discurso médico.
DANIEL LOPES_RIO CLARO/SP