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Guilherme Derrite: nas palavras de um juiz da Justiça Militar, ao comentar as mudanças promovidas na PM, o secretário e o governador estão “virando a pirâmide de cabeça para baixo” CREDITO: GABRIEL SILVA_ATOPRESS_ESTADÃO CONTEÚDO_27/09/23
O homem e seu passado
A desconhecida história de Guilherme Derrite, o secretário de Segurança Pública de São Paulo
João Batista Jr. | Edição 212, Maio 2024
Na noite do dia 9 de novembro de 2011, assim que o tiroteio acabou, um jovem de 15 anos correu até a casa assaltada. Houve disparos para todos os lados e o adolescente estava apreensivo. Temia que seu irmão fosse um dos assaltantes. Ao chegar ao local, ouviu a seguinte notícia sobre o destino de seu irmão. “Se ele for trabalhador, pode ir para a sua casa que ele está lá. Se não for, pode ir pro IML”, disse um PM. O adolescente correu para o IML. Ficou duas semanas sem dormir, abalado pela visão do cadáver do irmão, que estava coberto de sangue e de olhos abertos. “Parecia que ele estava assustado”, diz. Marcelo Barbosa Soares, de 17 anos, levara dois tiros durante o assalto. Morreu de “hemorragia interna traumática aguda”.
O caso ocorreu no Jardim Arpoador, bairro paulistano quase na divisa com Osasco. Os três assaltantes foram mortos. Na soma, levaram nove tiros. O policial que mandou o rapaz de 15 anos ao IML era um tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Chamava-se Guilherme Muraro Derrite. Tinha 27 anos, estava no segundo ano de trabalho na Rota, a tropa de elite da PM paulista, e gostava de dizer que sua missão era “tirar vagabundo de circulação”. Ficou quase doze anos na PM, entrou para a reserva como capitão, elegeu-se e reelegeu-se deputado federal e foi vice-líder do governo de Jair Bolsonaro na Câmara. Hoje, é secretário da Segurança Pública do governador Tarcísio de Freitas. É o primeiro policial militar tão jovem e com patente tão baixa a assumir o cargo.
Também é o primeiro a ter criticado colegas de farda que mataram menos de três pessoas em cinco anos de serviço. “É vergonhoso”, disse ele, em áudio revelado pelo site Ponte Jornalismo. Mas Derrite, ele mesmo, nunca falou quantos matou. Em 2021, numa entrevista, comentou que participou de cinco intervenções nas quais foi o responsável por disparar os tiros que mataram suspeitos. Em 2023, em outra entrevista, já no cargo de secretário de Segurança, se disse arrependido por ter criticado os colegas menos letais. A piauí consultou sua certidão criminal, apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral quando concorreu a deputado, pegou o número de cada um dos seis inquéritos em que foi investigado e pediu o desarquivamento de todos. Com isso, descobriu que – oficialmente – Derrite tomou parte de intervenções que somaram dez homicídios.
Os homicídios ocorreram num período de três anos e nove meses de patrulhamento ostensivo, entre fevereiro de 2008 e novembro de 2011, época em que Derrite integrou o 14º Batalhão e, depois, a Rota. Não significa, frise-se, que Derrite tenha matado as dez pessoas, pois os inquéritos nem sempre apontam o autor do disparo fatal, mas que participou de ações policiais que resultaram nesse saldo de mortos. É uma média alta: um morto a cada quatro meses e meio. Nos documentos, chama a atenção como a dinâmica dos homicídios se repete, com pequenas variações. Em todos os casos, as vítimas atiram contra os policiais, mas nunca acertam. Em todos os casos, são atingidas em órgãos vitais, como coração ou pulmão. Em todos os casos, são homens e já tinham, à exceção de uma vítima cujo histórico policial não foi confirmado, ficha por roubo ou uso de drogas, ou então passaram pela Fundação Casa, que abriga jovens que cometeram alguma infração. E em raríssimos casos há testemunhas civis dos fatos.
Considerando que na vida real confrontos entre policiais e bandidos nunca se passam da mesma forma, a repetição do padrão é um mau indicador. As cenas sugerem que nem sempre houve confronto, dada a improbabilidade de que os criminosos tenham um índice de 100% de erro nos disparos. Também sugerem que quase nunca houve tiros de advertência, pois os disparos dos policiais acertaram regiões vitais. Eis a ficha do secretário de Segurança:
10 DE FEVEREIRO DE 2008, DOMINGO_Derrite, então tenente do 14º Batalhão, foi chamado pelo rádio para atender a uma ocorrência no km 15 do Rodoanel, o anel rodoviário que circunda a Grande São Paulo. Um homem fora flagrado tentando assaltar um veículo no acostamento da rodovia. Houve um tiroteio e o ladrão embrenhou-se no matagal à beira da estrada. Derrite chegou ao local e, junto com um soldado, meteu-se na trilha atrás do assaltante. No inquérito, Derrite disse que o homem começou a atirar na sua direção, e ele revidou. Colocado numa viatura, o homem foi levado a um pronto-socorro em Osasco, onde foi identificado: Leandro da Silva, 24 anos. Um disparo lesionou coração e pulmão. Outro perfurou o estômago e o fígado, e alojou-se na lombar. Segundo a ocorrência, o assaltante tinha passagem pela polícia por furto.
Em um podcast, gravado em maio de 2021, Derrite narra a ocorrência “sinistra” com as devidas onomatopeias: “Eu só lembro dessa cena, dos tiros, pá, pá, pá. Era terra subindo, mano, a metralhadora sempre na rajada e eu tive que revidar, né, mano, sobreviver. Prá, rá, rá, rá, rá.” Na ocorrência, não há menção a qualquer metralhadora, mas a duas pistolas Taurus calibre .40 e dois revólveres calibre .38.
O Ministério Público entendeu que Derrite e seus colegas agiram em legítima defesa “sem vislumbre de excesso de conduta”.
10 DE AGOSTO DE 2009, SEGUNDA-FEIRA_A bordo de um automóvel roubado havia dois dias, Danilo Messias Rebollo, de 20 anos, junto com um amigo, avistou a polícia em Osasco. Arrancou o carro, foi perseguido, bateu num barranco – e desceu do veículo atirando contra os policiais. Levou três tiros e morreu ali mesmo. Do banco de trás, saiu o amigo – também atirando – e refugiou-se num matagal, segundo descrição posterior dos policiais. Nesse momento, de acordo com a versão oficial, Derrite entrou no mato, e o jovem começou a disparar. Não acertou nenhum tiro, mas foi alvejado com quatro. Era José Carlos Pereira Barbosa, também de 20 anos. Os dois tinham passagem pela Fundação Casa.
O Ministério Público, com base na versão dos PMs, concluiu que havia “claríssimos sinais de que os policiais agiram amparados na excludente do estrito cumprimento do dever legal”.
(As mães dos dois jovens mortos contaram outra história. Dulcineia Rebollo, mãe de Danilo, descobriu que havia uma testemunha do tiroteio e compartilhou a informação com Vera Aparecida Pereira, mãe de José Carlos. A testemunha disse que os dois foram executados, mas nunca foi ouvida no inquérito. Chamava-se Rafael Rodrigues da Silva. Três anos depois, em 2012, ele foi assassinado a tiros dentro do carro que dirigia em Carapicuíba, na Grande São Paulo. Os disparos foram feitos contra o vidro do motorista e mataram também o ocupante do banco do passageiro.)
14 DE MAIO DE 2010, SEXTA-FEIRA_Depois de receber uma denúncia de tráfico de drogas na favela do Sambaiatuba, em São Vicente, na Baixada Santista, Derrite, que já trocara o 14º Batalhão pela Rota, foi até o endereço suspeito. Segundo o relatório da PM, ele e sua equipe foram recebidos a bala por dois homens. Os atiradores não acertaram ninguém, mas um deles foi alvejado duas vezes. Um dos tiros atingiu o lado esquerdo do tórax, causando ferimentos fatais no coração e no pulmão. O segundo atirador fugiu. O morto era Leandro Sampaio Fernandes, de 31 anos. Não há informação sobre sua ficha policial.
Um dos soldados sob comando de Derrite descreveu assim o que aconteceu: “Estava de serviço […] pelo interior da favela do Sambaiatuba onde, segundo a denúncia, eram comercializadas drogas tipo maconha e cocaína e os traficantes do local portavam armas, inclusive de grosso calibre. A equipe deparou com dois indivíduos saindo do interior de uma viela, ambos de arma em punho e que um deles passou a efetuar disparos de arma de fogo contra os policiais.”
Um segundo soldado, também sob comando de Derrite, depôs em separado e descreveu a cena com as mesmíssimas palavras: “Estava de serviço […] pelo interior da favela do Sambaiatuba onde, segundo a denúncia, eram comercializadas drogas tipo maconha e cocaína e os traficantes do local portavam armas, inclusive de grosso calibre. A equipe deparou com dois indivíduos saindo do interior de uma viela, ambos de arma em punho e que um deles passou a efetuar disparos de arma de fogo contra os policiais.”
A prática do “copia e cola” aparece em pelo menos cinco depoimentos, inclusive no do próprio Derrite, e a frase original foi extraída do relatório inicial da ocorrência. O oficial encarregado do caso achou que os policiais se comportaram corretamente e reforçou sua conclusão com uma observação: “Não há, até o momento, comoção popular que deprecie a atuação dos policiais militares.”
27 DE JULHO DE 2010, TERÇA-FEIRA_Numa ronda noturna da Rota, Derrite e três soldados disseram ter se deparado com um Kadett preto usado em um assalto a uma loja de informática naquele mesmo dia. Havia dois homens no carro. Eles tentaram fugir, bateram na parede de um restaurante e desceram do veículo atirando. Não acertaram nem a viatura. O motorista, Claudionor da Silva, de 24 anos, levou três tiros. O outro, Expedito Henrique Pinheiro, da mesma idade, levou dois. Todos atingiram órgãos vitais, incluindo o coração. Os dois foram reconhecidos no IML pelo dono da loja. O motorista passou pela Fundação Casa. Expedito Pinheiro, segundo o delegado do caso, “seria pessoa procurada pela Justiça”.
Nunca ficou esclarecido por que os assaltantes usaram um carro que estava no nome da mulher de um deles, sem recorrer a uma placa clonada. Nem por que, depois do assalto, ficaram rodando com o mesmo carro no bairro onde haviam praticado o crime.
O Ministério Público entendeu que “as condutas praticadas pelos policiais militares encontram-se acobertadas pela legítima defesa, causa de excludente de ilicitude […], obstando o ingresso de ação penal”.
20 DE MAIO DE 2011, SEXTA-FEIRA_Durante um patrulhamento de rotina na Zona Leste da capital paulista, Derrite e colegas avistaram um carro roubado havia poucas horas. O motorista Michel Deivid da Cruz não obedeceu à ordem de parar, bateu em outro veículo e desceu atirando, sem acertar em nenhum alvo. Enquanto isso, seus dois comparsas escaparam a pé. Cruz levou três tiros, com ferimentos no coração, no pulmão direito, nas alças intestinais e na lombar. Sua ficha incluía seis atos infracionais e acusações de corrupção de menores, ameaça e lesão corporal. Tinha 24 anos.
No Inquérito Policial Militar (IPM), o oficial concluiu pela “existência de excludentes de ilicitude na ação dos policiais militares, uma vez que repeliram injusta agressão efetuada pelos meliantes.” Depois desse episódio, Derrite foi obrigado a frequentar aulas sobre direitos humanos e consultar-se com um terapeuta do Programa de Acompanhamento a Policiais Militares Envolvidos em Ocorrências de Alto Risco, entre 24 de maio e 19 de junho.
9 DE NOVEMBRO DE 2011, QUARTA-FEIRA_É o caso que abre esta reportagem. Acionado por telefone, Derrite e equipe foram até a casa no Jardim Arpoador que estava sendo assaltada por três jovens. O dono do imóvel, rendido no portão, e outras quatro pessoas viraram reféns. Quando a polícia chegou, os ladrões soltaram todos e tentaram fugir. O dono da casa indicou a rota de fuga, pelo telhado de uma edícula nos fundos. Nove policiais chegaram ao local, seis entraram na casa, Derrite entre eles. Disseram que Nevito Ferreira dos Santos, de 17 anos, disparou contra eles. No revide, o assaltante levou três tiros. Em seguida, segundo os policiais, Marcelo Barbosa Soares, também de 17 anos, não obedeceu à ordem de soltar a pistola e atirou. Levou dois tiros. Josivan Soares dos Santos, de 20 anos, disparou quatro vezes contra os policiais. Não acertou nenhuma vez e levou quatro tiros. Os três, de acordo com os laudos necroscópicos, morreram de “hemorragia interna traumática aguda”. Todos tinham histórico de furto ou roubo.
O promotor Rogério Leão Zagallo pediu o arquivamento do inquérito sob o argumento de que “as vítimas morreram porque atiraram contra os policiais militares”. E arrematou: “Morreram de forma justa. Afinal de contas, são bandidos.”
Guilherme Derrite não foi denunciado por nenhum dos homicídios.
Numa noite de maio de 2012, um pequeno comboio de viaturas da PM de São Paulo se dirigiu para o estacionamento da Barracuda, uma casa noturna na Zona Leste de São Paulo. Ali, funcionava um lava-rápido, onde integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), a organização criminosa que se espalhou pelo país, fariam uma reunião. O encontro destinava-se a planejar o resgate de um criminoso que seria transferido de São Paulo para uma prisão em Presidente Venceslau, a 215 km da capital. A Rota, sabendo do plano, montou uma estratégia para prender os bandidos durante a reunião. Derrite pediu para comandar a operação. Foi uma catástrofe.
Depois de um intenso tiroteio, o saldo foi macabro: seis homens mortos e três policiais presos, sob a suspeita de torturar e matar um homem que, escondido sob um caminhão, viu e ouviu tudo o que aconteceu. Segundo a versão oficial, a testemunha, Anderson Minhano, de 31 anos, foi colocada numa viatura para ser levada ao hospital. No caminho, a viatura parou para que o cabo Levi Cosme da Silva Júnior aliviasse “as câimbras e as pernas dormentes” – e, ali, no km 4 da Rodovia Ayrton Senna, com a viatura no acostamento, a testemunha “caiu no chão”. Ninguém sabe se Minhano, que pertencia ao PCC, chegou vivo ou morto ao hospital. Tinha quatro tiros no peito.
A Testemunha Alpha – assim conhecida porque entrou no programa de proteção e manteve o anonimato – conta outra história. De sua janela, Alpha viu o Minhano ser torturado. Ligou para o 190 e fez uma denúncia. O telefonema foi gravado. No início da conversa, Alpha disse que “o cara tava vivo, viu?” e, em seguida, relatou que os policiais pisavam sobre sua cabeça e, depois, colocaram o corpo na viatura. No telefonema, Alpha já intuía que o homem fora assassinado. “Só Deus na vida desse homem, viu, pra sobreviver pra contar a história”, disse.
Além do cabo Cosme, havia outros dois policiais na viatura: o sargento Carlos Aurélio Nogueira e o soldado Marcos Aparecido da Silva. Os três foram presos para responder à acusação de tortura e assassinato. Um mês depois, foram soltos e, mais tarde, acabaram absolvidos. Durante a prisão dos três, Derrite não participou da vaquinha que os militares fazem quando algum colega é detido – e, assim, impedido de fazer os bicos que complementam a renda familiar. O sargento Nogueira, por exemplo, prestava segurança para o publicitário e apresentador Roberto Justus. “Além de não pagar a vaquinha, Derrite viajou com a família para a Disney”, diz Igor Andrij, ex-soldado da Rota.
Em seu depoimento durante a investigação do episódio, Derrite contou que a operação envolveu 24 militares. Disse que ele próprio fez apenas “três disparos”, mas não informou se atingiu ou matou alguém. Na mesma noite da carnificina, Derrite ficou recolhido dentro de uma sala na Corregedoria da PM para que ele não se comunicasse com os militares acusados de torturar e matar Minhano, nem acompanhasse os depoimentos. Só foi autorizado a sair da sala ao meio-dia do dia seguinte.
O inquérito investigou Derrite, mas não consta da certidão criminal que ele entregou ao Tribunal Superior Eleitoral quando do registro de sua candidatura a deputado. Por esse motivo, o Caso Barracuda não está na contabilidade dos dez homicídios – se estivesse, só aqui, a conta total dos homicídios em intervenções das quais Derrite participou subiria para dezesseis. No entanto, o Caso Barracuda entrou para a crônica policial como exemplo de um completo fracasso, do ponto de vista militar e dos direitos humanos, e ajudou a encerrar a carreira de Derrite. Ele foi afastado do patrulhamento e, menos de dois meses depois, foi convidado a deixar a Rota. Seus superiores entenderam que sua letalidade era alta demais.
Em entrevista a um canal do YouTube em 2021, o próprio Derrite falou sobre a razão de sua saída da Rota. “Porque eu matei muito ladrão. A real é essa, simples. Pá! Tive muita ocorrência de troca de tiro, eu ia para cima, entendeu? Quem vai para cima, está sujeito. Troquei tiro várias vezes, e uma atrás da outra. Acabou incomodando, não sei quem, mas veio a ordem de cima para baixo, questão política: ‘Tira o Derrite da Rota.’ E fui convidado a me retirar.”
Mas nem os dez homicídios oficiais, nem a catástrofe do Caso Barracuda surpreendem um criminoso que cumpre uma pena centenária na Penitenciária de Tremembé.
Entre junho e agosto de 2019, Wallace Oliveira Faria, condenado a 102 anos por cinco mortes e seis tentativas de homicídio, prestou dois depoimentos à Defensoria Pública do Estado de São Paulo, no presídio de Tremembé. Fez denúncias gravíssimas. Confessou que fora matador de um grupo de extermínio que se chamava Eu Sou a Morte e disse que atuava com conhecimento e aval de um tenente chamado Guilherme Derrite.
Faria foi preso aos 23 anos e – considerando que na época de sua condenação ninguém ficava mais de trinta anos na prisão (hoje são quarenta) – ganhará a liberdade, em tese, quando tiver 53 anos, a menos que faça uma delação para reduzir a pena. É um criminoso confesso, executava seus alvos com tiros pelas costas, no rosto. Suas denúncias podem ter sido exageradas apenas para fazer um acordo de delação e, quem sabe, arrancar algum benefício. Ele mesmo escreveu à piauí: “Eu preciso de ajuda […] para tentar baixar a minha pena.[…] Já estou há quinze anos preso e não vou aguentar ficar mais quinze.”
Em seus depoimentos à Defensoria Pública, aos quais a piauí teve acesso, Faria contou que, entre 2001 e 2002 começou a trabalhar como entregador de uma pizzaria em Osasco, onde PMs do 14º Batalhão prestavam segurança privada. Nesse serviço, aproximou-se de alguns policiais e, em 2005, acabou admitido na PM como soldado temporário, uma função que deixou de existir. Deveria se limitar às tarefas administrativas, sem acesso a armas, nem direito de exercer o poder de polícia.
Faria, no entanto, ganhou autorização velada para extrapolar suas funções. “Embora eu não fosse policial, eu usava farda, portava arma da corporação e andava em viatura oficial”, disse. (Em carta à piauí, Faria anexou um punhado de fotos. Numa delas, está usando o uniforme de educação física dos soldados e cabos da PM, ao lado de uma viatura. Em outra, aparece na companhia de seis policiais. Todos, Faria inclusive, usam a farda da corporação, com capacete na cabeça, cinturão atravessando o peito e mosquetão nas mãos.) Em 2006, ano em que se encerrou seu período como soldado temporário, Faria passou a trabalhar exclusivamente para os policiais que faziam segurança privada. Nessa época, o grupo de extermínio Eu Sou a Morte entrou em ação, na esteira de uma onda de atentados promovidos pelo PCC.
De acordo com a denúncia de Faria, o grupo de extermínio era integrado por policiais de dois batalhões da PM em Osasco – o 42º e o 14º. No final de 2006, pouco depois do início das atividades do grupo de matadores, Derrite entrou para o 14º Batalhão, onde ficou até o fim de 2009. Quando chegou, tinha 21 anos e assumiu o Pelotão de Rádio Patrulha, um coletivo que faz policiamento preventivo e atende demandas pelo 190.
À Defensoria Pública, Faria disse que matou “umas vinte pessoas”. O grupo executava suspeitos de pequenos furtos para proteger os estabelecimentos comerciais aos quais dava segurança, mas também executava pessoas com antecedentes criminais e, sobretudo, dependentes de drogas. Faria descreveu o funcionamento das execuções. Disse que o grupo escolhia a vítima e voltava à companhia para colocar jaqueta preta, capuz ou touca e capacete. Depois, saíam com a moto particular de Faria, sem placa, ou com o carro de alguns deles, para localizar a vítima previamente escolhida. Feita a execução, o grupo voltava à companhia, Faria era liberado e os policiais, agora fardados e em viaturas, saíam para atender a ocorrência como se não soubessem de nada.
Faria confessou que, na maioria dos casos, ele próprio foi o autor dos disparos, mas disse que não agia sozinho. Citou o nome de 25 policiais militares, entre soldados, cabos, sargentos e o tenente Guilherme Derrite. “Tudo o que a gente ia fazer avisava o Derrite. Ele tinha comando total”, disse. Em outro trecho do depoimento, afirmou: “O tenente Derrite sabia desse meu ‘trabalho informal’ e dava apoio. Eu falava com frequência com ele pelo [meu] número 8258-xxxx no período de 2008 e 2009. Às vezes, eu ligava para o motorista dele.” (Como as operadoras de telefone não são obrigadas a guardar os dados depois de cinco anos, o registro das ligações pode estar perdido. A piauí confirmou que o número citado pertencia a Faria.)
Em outubro do ano passado, a piauí mandou uma carta perguntando se Faria mantinha as acusações dos depoimentos à Defensoria Pública. No dia 1º de novembro, ele enviou uma longa carta à revista em que manteve as denúncias. Em cartas subsequentes, deu detalhes sobre a suposta atuação de Derrite. “Ele e outros policiais, nos dias de serviço, levantavam o endereço de ladrões, traficantes, pontos de tráfico etc., e selecionavam as vítimas, passavam para eu e outros PMs que estavam de folga fazer as execuções. Depois, ele mesmo ia até o local das execuções colher alguma informação e, como sempre, alterar o local do crime para dificultar a perícia. Ele que era o líder, ordenava onde as viaturas tinham que ficar e, quando ia acontecer alguma execução, ele tirava as viaturas dos bairros para facilitar o serviço. Tudo era combinado antes.” E completou: “Os homicídios aconteciam só na noite em que o tenente Derrite era o comandante. […] Ele dava as ordens e organizava as execuções.”
Até prestar os depoimentos à Defensoria Pública, Faria mandou cartas para todas as autoridades possíveis revelando detalhes do grupo de extermínio, acusando Derrite e se oferecendo para fazer um acordo de delação. Mandou cartas para o Conselho Nacional do Ministério Público, para a Procuradoria-Geral da República, para o Supremo Tribunal Federal. A primeira carta-denúncia, enviada em setembro de 2018, quando Derrite era candidato a deputado pela primeira vez, chegou às mãos do delegado Francisco Pereira Lima. O delegado, que está lotado há mais de vinte anos na Delegacia de Homicídios de Osasco e foi o autor da prisão de Faria quase dez anos antes, mandou a carta-denúncia para o Ministério Público, que, por sua vez, ouviu Faria por vídeo.
Foi seu primeiro depoimento. A promotora de Osasco, Helena Bonilha de Toledo Leite, acompanhou. Ela rememora: “Eu pedi provas, mas ele não apresentou nada de significativo nesse sentido.” De fato, o depoimento de Faria foi tímido. Numa das cartas à piauí, ele explicou a razão. Para fazer a videoconferência, ele fora conduzido até o fórum de Taubaté, escoltado por policiais militares, que ficaram na porta, de onde talvez pudessem escutar o depoimento. “Não consegui falar nada. Tinha policiais na sala ouvindo.”
Mesmo assim, considerando a gravidade das acusações, a promotora Helena Leite acionou o Gaeco, o grupo do Ministério Público especializado no combate ao crime organizado, para avaliar a possibilidade de abrir uma investigação preliminar. O Gaeco achou que não havia elementos suficientemente fortes que justificassem uma apuração e entendeu que, decorrido tanto tempo dos acontecimentos, era “extremamente improvável” que encontrassem provas. Diante disso, o Gaeco não entrou no caso. Inconformado, Faria começou então a disparar cartas-denúncia até que foi ouvido pela Defensoria Pública.
Em dezembro de 2019, depois de colher os dois depoimentos de Faria, os defensores públicos fizeram um documento genérico, pedindo ao Ministério Público que abrisse negociações para uma delação. Disseram que, no acordo de colaboração, Faria pretendia “detalhar todos os crimes de que participou, apresentando provas que permitam a efetiva persecução de todos os autores”. Depois disso, os defensores enviaram um novo documento, com mais detalhes, mas a promotoria continuou achando bastante genérico.
“As provas nunca chegaram”, diz a promotora Helena Leite. “A palavra do denunciante não é suficiente. E não cabe ao Ministério Público correr atrás de provas para um eventual acordo de colaboração premiada que beneficiaria o preso. Isso é papel do advogado”, diz ela, frisando que, mediante qualquer avanço em termos de prova, a investigação será aberta. Faria não tem advogado particular e, estando preso, tampouco dispõe de meios para reunir provas. E denuncia: “Estão tentando colocar panos quentes. Estão tentando me calar, pois eles sabem que eu sou um arquivo vivo.”
A piauí ouviu seis autoridades que tiveram envolvimento com o caso do grupo de extermínio em Osasco. Todas pediram o anonimato, e nenhuma considerou que o relato de Faria traga incongruências gritantes – embora nenhuma das autoridades consultadas tenha qualquer informação objetiva sobre a suposta participação de Derrite no grupo de matadores. Desde 2007, circulam notícias sobre esse grupo. No dia 21 de setembro daquele ano, por exemplo, a Folha de S.Paulo publicou uma reportagem dizendo que a lista das pessoas assassinadas tinha “mais de 40 nomes”, que as “circunstâncias apontam a ação de um grupo de extermínio formado por policiais militares em Osasco” e que boa parte das vítimas tinham “antecedentes criminais, segundo testemunhas que afirmam ter ouvido ameaças dos próprios PMs”.
A mesma reportagem informava que os policiais suspeitos integravam o 14º e o 42º Batalhão da PM. Os crimes ocorreram num período que coincide com o tempo em que Derrite já trabalhava em operações de rua. A reportagem ainda dizia que os policiais agiam encapuzados e se intitulavam Eu Sou a Morte. (O nome do grupo, segundo Faria, veio de um episódio em que um sobrevivente declarou que o atirador, antes de disparar, perguntou: “Você conhece a morte?” E, sem esperar a resposta, o próprio atirador respondeu: “Eu sou a morte.”)
Procurado pela piauí, o secretário de Segurança Pública não quis dar entrevista e preferiu responder às perguntas por escrito. Em um e-mail, a reportagem perguntou se Derrite conhecia Wallace Faria; se sabia de sua tentativa de fazer uma delação premiada; se poderia informar sua escala de plantão no período em que trabalhou no 14º Batalhão em Osasco; se ouvira falar do grupo de extermínio Eu Sou a Morte e o que tinha a dizer sobre a acusação de que ele próprio comandava as ações dos matadores. A nota não responde às indagações e limita-se a dizer o seguinte: “O secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, lamenta que as acusações infundadas, colocadas a partir da denúncia de um criminoso que cumpre pena neste momento, tenham espaço.”
Em julho de 2022, os pais do soldado Patrick Bastos Reis se mudaram de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, para a capital paulista. Queriam ficar mais perto do filho único, que estava feliz atuando na Rota, e do neto de 2 anos. O casal não se adaptou bem a São Paulo e, meses depois, se mudou para o interior do estado. “Eu estava assistindo televisão e recebi uma ligação de uma pessoa próxima da família me informando”, lembra Cláudia Reis, mãe do soldado. A informação era de que seu filho havia sido assassinado.
Patrick Bastos Reis, o soldado Reis, tinha 30 anos. Foi baleado entre o ombro e o braço, no Guarujá, litoral de São Paulo, onde a Rota fazia um patrulhamento, na noite de 27 de julho do ano passado. A bala atravessou o tórax e atingiu seus pulmões e a aorta ascendente. Morreu na unidade de saúde em que foi socorrido. Sua morte desencadeou a mais mortífera operação da PM paulista desde o massacre de 111 presos no presídio do Carandiru. Desde julho do ano passado até o fechamento desta edição, no fim de abril, outros três policiais – dois soldados e um cabo – haviam sido assassinados, e a PM havia realizado operações que resultaram numa conta assombrosa e, talvez, até subnotificada: 84 mortos.
Um dos soldados mortos, Samuel Wesley Cosmo, de 35 anos, foi baleado durante uma patrulha em Bom Retiro, em Santos. Morreu no hospital. O assassino fugiu. O mesmo soldado Cosmo vinha sendo investigado havia seis meses sob a suspeita de ter forjado um tiroteio para justificar o assassinato de um homem que vivia em situação de rua. Quando o Ministério Público finalmente apresentou a denúncia contra Cosmo (e outros dois colegas da Rota), o soldado já estava morto com um tiro no rosto. Era a nova rotina selvagem da Baixada Santista desde a morte do soldado Reis: mata-se hoje, morre-se amanhã.
Entre as 84 vítimas dos militares no litoral paulista, estão um deficiente visual (que teria mirado um fuzil nos policiais e foi morto em cima de uma cama), um homem paralítico (que teria disparado uma arma enquanto se sustentava sobre as muletas), um jovem destroçado (que levou oito tiros de fuzil nas costas) e uma mulher de 31 anos, mãe de seis filhos (que foi atingida na cabeça por uma bala perdida). Samira Bueno, diretora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, colheu histórias do massacre: “Teve corpo que foi retirado do mangue. Há suspeita de que pelo menos sete homens foram enterrados como indigentes.” Enquanto isso, PMs comemoravam as mortes no Instagram, enfeitando os posts com emojis de caixão. “A operação proporcionou mortes instagramáveis, de gente pobre, preta e vulnerável, que servem para muitos policiais postarem e ganharem seguidores e likes”, diz Cláudio Aparecido da Silva, ouvidor da polícia de São Paulo.
A vingança da PM começou na sexta-feira, dia seguinte à morte do soldado Reis. “No fim de semana, recebemos ligações de moradores sem entender o que estava acontecendo”, lembra Fernanda Balera, coordenadora do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da Defensoria Pública de São Paulo. Na segunda-feira, representantes da Ouvidoria da Polícia e da própria Defensoria desceram para o litoral a fim de tomar pé da situação. Balera conta que, ao chegar no Guarujá, já soube que a revanche seria sangrenta. “Ouvi que seriam ao todo trinta pessoas mortas, uma para cada ano de vida do soldado Reis”, diz ela.
A maioria das vítimas que foram identificadas tinha histórico de envolvimento com tráfico de drogas e passagens pela polícia por pequenos furtos e roubos. Algumas viviam em barracos de palafitas nas favelas do litoral. Quase todas eram desempregadas ou se sustentavam fazendo bicos. A maioria, como sempre acontece nas matanças policiais, eram jovens e negros. Com base no perfil da maior parte das vítimas, Samira Bueno conclui: “É um devaneio o governo justificar as ações dizendo que as vítimas são integrantes do alto-comando de facção criminosa. Elas viviam em situação de miséria.”
Até hoje, a Secretaria de Segurança Pública mantém a versão de que a operação não era vingança contra a morte dos policiais, mas fazia parte de um plano prévio destinado a asfixiar a venda de drogas na região portuária, controlada pelo PCC. Depois de 84 mortos, a PM prendeu 2 mil pessoas, apreendeu 240 armas e quase 3,6 toneladas de drogas. Os especialistas dizem que o volume de droga apreendido até agora é de pouco mais de 5% do que o PCC despacha por ano pelo Porto de Santos. (Em paralelo a isso, o Gaeco, do Ministério Público, com trabalho de inteligência, desferiu um ataque duro contra o PCC ao desbaratar duas empresas de ônibus que faturavam mais de 800 milhões de reais e vinham sendo usadas pela organização criminosa para lavar dinheiro do tráfico de drogas. A PM apoiou a operação. Não precisou dar um único tiro.)
A operação no Guarujá também despertou suspeitas no campo das relações nebulosas. Conforme revelou o repórter Marcelo Godoy, de O Estado de S. Paulo, o empresário José Vicente Santini, hoje assessor do governador, associou-se com seu irmão Nelson Santini numa empresa, a CampSeg, que presta serviços de segurança à linha férrea da Baixada Santista, região onde a matança aconteceu. Segundo mensagens de WhatsApp divulgadas pelo Estadão, a CampSeg acionava PMs para zelar pela segurança dos seus clientes. Vicente Santini, que deixou a CampSeg em 2019, tornou-se conhecido ao ser demitido (e depois recontratado) no governo Bolsonaro pelo uso de um avião da FAB para voar da Suíça à Índia. Seu irmão Nelson, ex-vereador em Campinas, continua na CampSeg. Ele fez a maior doação financeira individual para a campanha de reeleição de Derrite: 88 655 reais.
A fúria sangrenta da PM não trouxe consolo para a mãe do soldado Reis. Assim que soube da morte do filho, pediu a um comandante da Rota, cujo nome ela não quis identificar, que o enterro fosse em Santa Maria, onde fica o jazigo da família. O oficial negou o pedido, em razão de uma regra segundo a qual o corpo precisaria ficar pelo menos cinco anos enterrado no mausoléu da PM, no Cemitério do Araçá, em São Paulo. (A regra não existe, mas, abalada com a perda do filho, Cláudia não teve energia para pesquisar sobre o assunto.) Ouviu que um helicóptero da PM buscaria a família no interior para comparecer ao velório na capital. “Mas daí ninguém mais ligou. Eu peguei uma carona para não perder o enterro do meu filho.”
O sepultamento tornou-se um grande ato político, com a presença do governador Tarcísio de Freitas e do secretário Guilherme Derrite. Encerrada a cerimônia fúnebre, Cláudia diz que nunca mais teve contato com a PM. “O Derrite nunca se deu ao trabalho de me ligar”, lamenta ela. Depois que soube que a regra dos cinco anos era invenção, Cláudia começou a procurar um advogado para transferir os restos mortais do filho para Santa Maria. Ela diz que não tem sido informada sobre o andamento das investigações. “Fiquei sabendo pela imprensa que a bala que atingiu o meu filho não veio da arma apreendida pela polícia”, disse. De fato, um laudo comprovou que o disparo que matou o soldado Reis não saiu da pistola Taurus modelo PT 92 AF, apreendida pela polícia.
Quando a polícia informou que Erickson David da Silva, de 28 anos, apontado como autor do disparo que matou o soldado, havia se entregado à polícia, o governador Tarcísio comemorou a prisão do “sniper do tráfico”. Pode ter sido precipitação. Afinal, o exame residuográfico posterior não detectou a presença de pólvora nas mãos de Erickson da Silva, o que não é suficiente para descartá-lo como autor do disparo, mas deixa a suspeita de que depois de 84 mortes e 2 mil presos, é possível que o “sniper do tráfico” continue à solta. Apesar de ter se entregado, Silva nega ter atirado contra o soldado.
No dia 8 de março, num evento em comemoração ao Dia da Mulher, Tarcísio voltou a falar sobre a matança. Questionado sobre as denúncias de execução, abusos e falhas na investigação, Tarcísio começou defendendo as operações: “Sinceramente, temos muita tranquilidade com relação ao que está sendo feito.” Mais adiante, irritado com as cobranças, disse a frase que ficará colada à sua biografia: “Aí o pessoal pode ir na ONU, na Liga da Justiça, no raio que o parta que eu não estou nem aí.” A tropa aplaudiu.
“O que estamos vivendo no Guarujá é lamentável, mas é o cenário que nós encontramos”, disse o secretário Guilherme Derrite em entrevista à Jovem Pan, ao comentar as ações no litoral paulista. A matança, pela dinâmica e pela dimensão, tornou-se um divisor de águas na violência policial. De lá para cá, as ações da PM ficaram mais truculentas e o uso das câmeras de segurança no uniforme passou a ser boicotado. Em 2019, a PM matou 697 pessoas. Em 2020, quando três batalhões ganharam as primeiras câmeras corporais, o número caiu para 662. Em 2021, o equipamento chegou a quinze batalhões, incluindo a Rota, e o número baixou para 442. Em 2022, com dezenas de batalhões usando câmeras, o índice de letalidade policial desabou: 260 mortes.
“A situação piorou neste ano com execuções sumárias, torturas e episódios de violência contra idosos e crianças”, afirma Bueno, a diretora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “Os boletins de ocorrência deixaram de identificar se os policiais portavam câmeras ou o batalhão a que pertencem. A maior parte dos casos não teve perícia. Eu recebi um laudo necroscópico que sequer identificava quantos tiros a pessoa levou”, diz ela. Em um caso examinado pelos promotores, identificou-se que o policial havia ligado e desligado a câmera do uniforme mais de cinquenta vezes para consumir a bateria o mais rápido possível. Bueno prossegue: “No ano passado, a polícia dizia que as câmeras estavam descarregadas. Neste ano, eles não dão nenhuma explicação sobre a ausência das imagens.”
A piauí teve acesso a um apanhado de 28 boletins de ocorrência, lavrados entre julho do ano passado e março. Em apenas um, há informação de que os policiais estavam usando câmeras corporais. Os demais boletins nem mencionam o assunto ou, quando o fazem, é para dizer que ninguém estava equipado com o dispositivo.
O sinal de que a situação pode se manter – ou piorar – aconteceu no dia 21 de fevereiro, quando Derrite promoveu uma mudança radical no comando da PM: afastou 34 coronéis, sem aviso prévio. Eles ficaram sabendo da notícia pelo Diário Oficial. Entre os afastados, estão os coronéis José Alexander Freixo, número 2 da corporação, Alexandre César Prates, coordenador operacional da PM, e Edson Luís Simeira, corregedor da PM. No começo da matança no Guarujá, os três estavam de férias. Quando voltaram ao trabalho, se reuniram com o comandante-geral da corporação, Cássio Araújo de Freitas, para pedir moderação e apelar para que apenas policiais com câmeras nos uniformes participassem da operação. Os apelos foram ignorados.
Quando a primeira fase da matança se encerrou, ainda no ano passado, as investigações da PM empacaram. As Comissões de Mitigação de Riscos, que devem ser abertas cada vez que um policial se envolve em uma ação letal, foram protocolares. Todos os policiais seguiram suas atividades nas ruas, sem suspensão temporária. Os IPMs também foram instaurados apenas para cumprir tabela. O trabalho foi tão malfeito que a Justiça Militar recebeu 28 inquéritos e mandou devolver 18, pedindo que fossem refeitos.
A Corregedoria da PM, então ainda sob a chefia do coronel Simeira, se encarregaria de refazer os IPMs. Dias depois, com a dança das cadeiras dos 34 coronéis, Simeira foi removido do cargo e deslocado para a Coordenadoria de Assuntos Jurídicos. Incomodado com a transferência, pediu afastamento e foi para a reserva. No lugar dele, Derrite nomeou Fábio Sérgio do Amaral, responsável pelo Comando do Policiamento de Choque, que atuou na matança do Guarujá. O chefe do setor de inquéritos da Corregedoria, tenente-coronel Fabiano Batista do Prado, também foi removido. Até agora, os IPMs não foram refeitos.
Em outra mudança relevante, mas menos visível, Derrite colocou o cientista político João Henrique Martins, um ex-tenente especializado em segurança pública para a iniciativa privada, no comando de um órgão estratégico de sua secretaria: o Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), cuja função é analisar dados para criar projetos de segurança. O CICC tem acesso aos boletins de ocorrência, mas, assim que assumiu, Martins pediu para também acessar o Infocrim, o mais valioso sistema de informações da polícia, cujo banco de dados é sigiloso. Além de mapear a criminalidade, o Infocrim acompanha a produtividade do trabalho policial. O chefe do Centro de Inteligência da PM, João Luís Minghetti Costa, não autorizou o acesso. Havia o temor dentro da corporação de que os dados pudessem ser fornecidos a empresas privadas. Minghetti Costa está entre os 34 coronéis que foram removidos de sua função.
O CICC de Martins expandiu seus poderes no âmbito financeiro. Pela primeira vez na história quase bicentenária da PM paulista, a Diretoria de Logística deixou de ser a única responsável pelas licitações para insumos da corporação. Em dezembro do ano passado, já coube ao CICC promover três leilões para comprar viaturas (23,6 milhões de reais), quadriciclos (4,4 milhões) e coletes balísticos (2,6 milhões). “Causa preocupação que Martins, um oficial afastado e de baixa patente, sem a competência necessária para comandar um órgão sensível como o CICC, esteja agora com essas atividades, ainda mais tendo trabalhado como consultor de segurança no setor privado”, afirma José Vicente da Silva Filho, coronel da reserva da PM e ex-secretário nacional de Segurança do Ministério da Justiça.
Desde que assumiu seu cargo no governo paulista, em janeiro de 2023, Derrite deu sinais de que também pretendia afrouxar os controles internos da polícia. Antes de completar um mês no cargo, ele defendeu a ação de uma patrulha da Rota que disparou 28 vezes contra um Honda Fit, sob a justificativa de que seus três ocupantes iriam fazer um assalto na Rua da Consolação, na região central de São Paulo. Matou dois. As câmeras dos quatro agentes da Rota não registraram a ação, mas uma câmera da estação mais próxima do metrô gravou a cena, como mostrou a repórter Jeniffer Mendonça, do site Ponte Jornalismo. Nela, o sargento Vinícius de Sena Santos aparece tirando um objeto de sua farda e colocando debaixo do corpo de uma das vítimas. Estava plantando uma arma para simular que houve reação a tiros. Com 28 disparos, dois mortos e uma arma plantada, a ação não rendeu nenhuma punição aos policiais.
No segundo mês no cargo, Derrite cancelou a punição contra quinze agentes da Rota, que estavam afastados do serviço de patrulha em razão do alto índice de mortes. A medida foi comemorada pela tropa. Dois dias antes de transferir os 34 coronéis, Derrite fez outro movimento: perdoou cerca de cinquenta policiais militares que também estavam afastados do serviço de rua devido à alta letalidade. Os beneficiados trabalham em diferentes cidades paulistas. Derrite colocou todos de volta às ruas, atropelando o trabalho da Corregedoria em casos que remontavam a 2018.
De acordo com um coronel bem posicionado na corporação, a PM registrou o número mais baixo de policiais expulsos e demitidos no ano passado, o que pode ser um sinal do enfraquecimento da Corregedoria. “Uma cultura organizacional que estava sendo construída ao longo dos anos, em respeito à legalidade, foi dinamitada logo de cara. O recado é claro: a polícia tem autorização para matar. Está tudo dominado”, avalia um coronel que pediu para ficar no anonimato porque ainda está na ativa. No início de julho do ano passado, duas semanas antes do assassinato do soldado Reis, o comandante da PM, Cássio de Freitas, divulgou um vídeo nas redes sociais depois que um tenente aposentado foi vítima de latrocínio. Mandou uma mensagem aos policiais: “Não hesite em utilizar a legítima defesa a seu favor.”
Na campanha de 2018, Guilherme Derrite se aproximou de Eduardo Bolsonaro. Na época, os dois eram candidatos a deputado federal e percorriam o interior de São Paulo em campanha. Pediam votos para eles e para Jair Bolsonaro. Deu certo: Jair Bolsonaro foi eleito, Eduardo foi o deputado mais votado do estado e Derrite ganhou seu primeiro mandato, com 119 mil votos. Três meses depois da posse, foi escolhido vice-líder do governo na Câmara.
Cumpriu seu papel. Empenhou-se em afrouxar as regras para o porte legal de armas para fazendeiros e guardas municipais, lutou contra o isolamento social durante a pandemia de Covid, propôs o fim da visita íntima nos presídios e levantou a bandeira do fim da saidinha dos presos, projeto que acabou de ser parcialmente aprovado. Na campanha de 2022, candidatou-se à reeleição – venceu com o dobro de votos do pleito anterior – e aproximou-se de Tarcísio de Freitas, então candidato ao governo paulista. Tarcísio convidou Derrite para fazer o “plano de segurança pública” de sua gestão e colocá-lo em prática, caso fosse eleito.
Derrite fez um plano genérico, propondo usar “tecnologia de ponta”, integrar “bases de dados de interesse policial disponíveis nos níveis federal, estadual e municipal” e combater o crime organizado “sem trégua”. Com a vitória de Tarcísio, ele renunciou ao mandato de deputado e virou secretário de Segurança. Sua posse não foi bem recebida. Era jovem demais (38 anos), inexperiente (nunca tivera cargo de gestão), militar (rivalizava com a Polícia Civil) e tinha baixa patente (tenente, só virou capitão ao se aposentar). Seus antecessores eram procuradores de Justiça, general de Exército, professor de direito, como o atual ministro Alexandre de Moraes, do STF. Tecnicamente mais qualificados, não tinham ligação com qualquer uma das polícias, cuidado que os governadores paulistas tomavam para não estremecer uma relação sempre tensa.
Assim que assumiu, Derrite tentou neutralizar eventuais problemas com a Polícia Civil e escolheu Osvaldo Nico Gonçalves para secretário executivo da pasta. Nico é policial civil, tem mais de trinta anos de experiência, bom trânsito na corporação e apoio dos delegados. Com isso, Derrite afagou a Polícia Civil e pôde se dedicar ao que realmente gosta – a área militar. O assassinato do soldado Reis, ocorrido cerca de sete meses depois de sua posse, serviu como uma luva para colocar na rua a sua estratégia. Em entrevista ao podcast Inteligência Ltda, Derrite admitiu isso: “O caso do Guarujá foi o momento em que o estado mostrou como iria se organizar contra o crime organizado.”
A inquietação da Polícia Civil, no entanto, veio à tona mesmo assim. Há pouco, Derrite obteve o aval do governador para que a PM possa registrar e colher depoimentos de crimes de menor potencial, com pena de até dois anos de reclusão. São os chamados Termos Circunstanciados de Ocorrência (TCOs). Até o momento, esse papel é exclusivo da Polícia Civil, que não está gostando da possibilidade de compartilhar seus poderes com a outra força. Em mensagem encaminhada aos “prezados comandantes” à qual a piauí teve acesso, Cássio de Freitas, comandante-geral da PM, comemorou a novidade que favorece a sua corporação. Disse que “há uma campanha de desinformação em curso” e garantiu que “a relação entre as polícias nunca esteve tão próxima”. Não era bem assim. A Polícia Civil protestou alto, e Derrite foi obrigado a recuar e instalar uma comissão para discutir o projeto controverso.
A Polícia Civil também não gostou de ser excluída daquela operação que desbaratou as empresas de ônibus que lavavam dinheiro do PCC. Depois disso, no bojo da investigação do caso em que o condutor de um Porsche provocou um acidente que matou um motorista de aplicativo, a Polícia Civil entrou na Justiça exigindo que a PM entregasse as imagens captadas pelas câmeras corporais dos policiais. Com tudo isso, açulando uma disputa entre duas corporações, Derrite e o governador estão, nas palavras de um juiz da Justiça Militar que pediu o anonimato, “virando a pirâmide de cabeça para baixo”.
“Há mensagens sutis de que a polícia tem autorização para matar”, avalia o advogado Rafael Alcadipani, professor de gestão e políticas públicas que acompanha a violência policial. “A começar por um governador que manda reclamar na Liga da Justiça e um secretário de Segurança com um histórico de letalidades.” Alcadipani diz que a razão de tudo está no populismo penal da necropolítica. “Esse é o principal da história: ganhar votos. Funciona à semelhança do Império Romano, quando as pessoas iam assistir gente ser arremessada aos leões. Agora, a população deseja que a polícia mate mesmo.”
Na avaliação de Bruno Paes Manso, jornalista e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP, “Derrite está fazendo em São Paulo uma coisa semelhante ao que Bolsonaro fez em Brasília, quando politizou as Forças Armadas. Depois que ele deixou o poder, viu-se a dimensão do estrago, que levou vários oficiais à investigação”. Segundo ele, “Derrite está prestigiando oficiais por afinidades ideológicas com sua história de violência e truculência. Está fazendo uma leitura de segurança pública do passado, apostando na violência como sinônimo de ordem”. Manso prossegue: “Com isso, ele está rachando a polícia. Uma série de oficiais está indignada. Havia um esforço com instalação de câmeras nos uniformes e a criação de uma comissão de letalidade, que vinha dando resultados. Tudo isso está indo por água abaixo.” Um dado grave que não deve ser ignorado: no ano passado, a PM paulista registrou o maior número de suicídios de sua história. Foram 32, dos quais 20 estavam no serviço ativo.
No e-mail que enviou ao secretário, a piauí reuniu um total de 24 perguntas. Entre elas, além de mencionar a denúncia do matador do grupo de extermínio, a revista incluiu questões sobre o perfil das vítimas nas operações realizadas na Baixada Santista, a ausência de câmera corporais, a remoção dos coronéis, o perdão aos policiais que haviam sido retirados das ruas, os IPMs incompletos, a anunciada queda de 30% nos roubos de carga. Segue a íntegra a nota da assessoria de Derrite:
A linha de atuação adotada pelo secretário à frente da pasta é baseada na asfixia financeira do crime organizado com ações que desarticulem a cadeia ilícita.
As forças de segurança do estado de São Paulo são instituições legalistas que operam estritamente dentro de seu dever constitucional, seguindo protocolos operacionais rigorosos, não sendo tolerados excessos, indisciplina ou desvios de conduta. Todos os casos de morte decorrente de intervenção policial são rigorosamente investigados pelas polícias Civil e Militar, com o acompanhamento do Ministério Público e do Poder Judiciário, que inclusive têm acesso às imagens das câmeras corporais portáteis utilizadas pelos PMs envolvidos nas ocorrências.
O confronto não é uma escolha dos policiais, mas uma reação à ação violenta de criminosos nas operações de combate ao crime organizado. O compromisso das forças de segurança é com a preservação da vida, por isso medidas para reduzir as mortes em confronto são permanentemente avaliadas e adotadas. Temos investido em treinamento do efetivo, aquisição de equipamentos não letais e demais iniciativas voltadas ao aperfeiçoamento dos agentes de segurança, inclusive com o uso do método Giraldi.[1] Somado a isso, o programa de câmeras corporais segue em operação, inclusive está em andamento uma licitação para a contratação de mais três mil dispositivos para serem acoplados às viaturas. Atualmente, 10 125 câmeras corporais estão disponíveis, abrangendo 52% dos policiais do território paulista.
As operações de combate ao crime organizado realizadas na Baixada Santista, entre 28 de julho e 5 de setembro de 2023 e a partir de 3 de fevereiro deste ano, resultaram na prisão de importantes lideranças do tráfico de drogas na região. Entre elas, Karen Tanaka Mori, conhecida como “Japa”, responsável por lavar dinheiro de uma facção criminosa; Caio Vinicius, apelidado de “Nego Boy” e acusado de liderar o tráfico de drogas na comunidade onde o soldado Cosmo foi morto; Patinho, executor de uma série de assassinatos a mando dos criminosos, entre outros. Além destes, mais de mil criminosos foram presos pelas forças de segurança, dentre os quais 438 procurados pela Justiça; também foram retiradas das ruas 119 armas de fogo ilegais e cerca de uma tonelada de drogas, gerando prejuízos significativos às atividades criminosas na região.
Em relação aos roubos de carga, as políticas públicas adotadas têm se mostrado eficientes, possibilitando uma redução de 17,8% no número de ocorrências em todo o território paulista nos dois meses deste ano, em comparação com igual período do ano passado. Quanto à Baixada Santista, houve a queda de 8%, no bimestre. Temos envidado esforços por meio das nossas forças policiais para combater este tipo de delito com uso de inteligência, tecnologia e operações integradas.
(Aparentemente, por um equívoco, a assessoria de Derrite contabilizou prisões e apreensões de armas e drogas ocorridas apenas de dezembro do ano passado em diante. Somando-se os resultados divulgados pela própria Secretaria em relação às operações realizadas antes de dezembro, os números são aqueles que apareceram antes nesta reportagem: 2 mil prisões, 240 armas e 3,6 toneladas de drogas. Quanto ao roubo de cargas, o secretário anunciara queda de 30%, mas a nota corrigiu para 17,8%.)
O governador Tarcísio de Freitas já disse e desdisse o que pensa sobre as câmeras corporais. Afirmou que não tinham nenhuma relevância para a segurança da população, depois disse “não estou nem aí” quanto às preocupações sobre a violência policial e, por fim, falou que o uso das câmeras poderia até ser ampliado na sua gestão. Agora, em resposta a uma consulta feita pelo ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF, prometeu implementar o equipamento até setembro deste ano.
Filho do meio de um casal de classe média de Sorocaba, no interior de São Paulo, Guilherme Muraro Derrite queria ser engenheiro ou dentista. Às vésperas de prestar o vestibular, viu uma foto do seu pai dos tempos em que cumpriu o serviço de Tiro de Guerra e se interessou. Conversou com um amigo da família, que cursava a Academia de Polícia Militar do Barro Branco, a instituição que forma militares em São Paulo e cujo ingresso se dava por meio de vestibular. Da conversa saiu convencido de que deveria tentar a carreira militar, mas foi reprovado no teste psicotécnico. No ano seguinte, tentou de novo e conseguiu.
Na academia, localizada na capital paulista, conheceu sua futura mulher Iara Maria de Oliveira, hoje capitão da PM e lotada na Casa Militar do governador. O casal, que teve dois filhos, planejava retornar para o interior, mas Derrite acabou indo para o 14º Batalhão de Osasco. Apaixonou-se pelo ofício, desistiu de voltar para o interior e começou a sonhar em ser membro da Rota. Por volta de 2009, foi rejeitado porque seu currículo de homicídios era farto demais. No ano seguinte, conseguiu a ajuda de um amigo, Rafael Telhada, filho do então comandante da Rota, o coronel Paulo Adriano Telhada. Na época, o coronel Telhada estava atrás de policiais para endurecer o combate ao crime. E abriu as portas para Derrite. O sonho durou pouco. Derrite tinha menos de três anos na Rota quando deixou a tropa depois do Caso Barracuda.
O próprio coronel Telhada estimulou Derrite a tentar a carreira política. A essa altura, ele já era conhecido do público pelas entrevistas à imprensa e pela presença nas redes sociais. Nos tempos da Rota, tornou-se figura frequente nos programas policialescos da Band e da Record. Chegou a ser estrela de um reality show policial, Operação de Risco, exibido pela RedeTV!, que mostrava incursões da Rota pelas ruas de São Paulo. Nas redes sociais, tinha milhares de seguidores. “Tenho certeza absoluta de que eu fui eleito graças à rede social”, disse, numa entrevista a um podcast. Derrite é considerado o candidato de Tarcísio para o Senado, mas já se especula que, se o governador não disputar a reeleição, seu nome pode aparecer para o governo do estado.
Fã do falecido Olavo de Carvalho, o ex-astrólogo que funcionava como guru ideológico da família Bolsonaro, Derrite afirma que o “marxismo cultural” trata os bandidos como vítimas da sociedade. Católico e temente a Deus, ele se diz um “conservador” e tem opiniões previsíveis para alguém que se alinha com a direita radical – é a favor da prisão perpétua, do fim das câmeras nos uniformes dos policiais e do porte de arma de fogo para defesa pessoal.
Derrite diz que é contra a pena de morte.
[1] O método Giraldi, desenvolvido pelo coronel Nilson Girardi, de São Paulo, consiste em técnicas e normas que, aplicadas às ações policiais, destinam-se a limitar o uso de arma de fogo e preservar vidas.
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