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    No exílio, na Argentina, depois de deixarem a embaixada no Chile: da esq. à dir., Carlinhos, Ernesto, um garoto desconhecido e Joca, irmão de Flávia Castro, sentada no centro, com Pedro CRÉDITO: ACERVO PESSOAL

memória

Como fugi do golpe de Pinochet

A vida de uma menina em um refúgio de militantes na embaixada da Argentina em Santiago, depois do golpe no Chile, há cinquenta anos

Flavia Castro | Edição 204, Setembro 2023

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Aqui em casa, “embaixada” é nome próprio. Para nós e para um círculo próximo de amigos, só existe uma: a Embaixada da Argentina em Santiago. A partir do dia 11 de setembro de 1973, ela serviu de refúgio para mais de setecentas pessoas que tentavam fugir da truculência do golpe de Augusto Pinochet. Entre essas pessoas havia muitos chilenos, mas também militantes de esquerda de várias nacionalidades que tinham se abrigado no país governado pelo socialista Salvador Allende, a fim de escapar dos golpes militares que pipocavam na América Latina. Uruguaios, bolivianos e, segundo documento produzido pelo extinto Serviço Nacional de Informações, pelo menos 115 brasileiros passaram por lá (e acho que podemos confiar nos dados do SNI, que sempre manteve seus arquivos sobre os passos dos exilados brasileiros minuciosamente em dia).

Em Santiago, a Vicuña Mackenna é uma avenida larga e tranquila, com casarões imponentes. Dois soldados chilenos guardam o portão de entrada do mais suntuoso deles. Minha mãe segura Joca, meu irmão de 4 anos, enquanto sigo de mãos dadas com Elaine. Quando chegamos bem em frente ao portão aberto, minha mãe dispara em direção ao jardim com o Joca no colo, Elaine vai atrás dela, me puxando pela mão. Atravessamos correndo o jardim até chegar ao hall de entrada do edifício. Tudo acontece tão rápido que os dois soldados não têm tempo de esboçar uma reação.

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