A Lonely Hearts Club Band é a personificação perfeita do que o LP significou. A banda não existe fora do disco, ela é o disco, assim como não existe fora do disco o público da capa, que se propõe como rede de referências para o público fora dela ILUSTRAÇÃO: CAIO BORGES_2014_ESTÚDIO ONZE_A PARTIR DA CAPA DO LP SGT. PEPPER'S LONELY HEARTS CLUB BAND DE PETER BLAKE
A era do disco
O LP não foi apenas um suporte, mas uma forma artística
Lorenzo Mammì | Edição 89, Fevereiro 2014
Há décadas fala-se do fim do livro, e as livrarias não desapareceram. Lojas de discos e CDs sumiram quase de improviso, ou se transformaram em revendas de eletrodomésticos e informática, e pouco se comentou sobre o assunto. Artistas de sucesso lançam suas composições diretamente nas lojas virtuais e toda música, ou quase, já está disponível na rede. A mediação do disco gravado tornou-se desnecessária, e ninguém parece se preocupar muito com isso.
À primeira vista, o descompasso é curioso: na geografia de uma casa, na construção da personalidade, livros e discos foram, por gerações, objetos gêmeos. Para muitos de minha idade, casar significou juntar livros e discos, separar-se significou dividi-los: “Levou um bom disco de Noel”; “Devolva o Neruda que você me tomou, e nunca leu” – é o que nossos discos dizem. Entrando na casa de alguém, busco instintivamente as lombadas dos livros e as capas dos discos para saber se terei assunto, se poderemos ser amigos. No entanto, parece que estamos muito mais dispostos a renunciar aos discos do que aos livros.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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