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    Pressão sobre pressão: no LinkedIn, a sucessolândia das redes sociais, os usuários fazem marketing pessoal como se fossem marcas. No mundo real, são “faria limers” robotizados CRÉDITO: VITO QUINTANS_2023

questões de saúde

Como a síndrome de burnout se espalha no Brasil

País já é o segundo mais afetado pela doença do trabalho, depois do Japão

Camille Lichotti | Edição 198, Março 2023

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Numa noite de novembro de 2018, a operadora de call center Catiane Zimmermann teve certeza de que iria morrer. Quando o expediente já estava perto do fim, ela atendeu a uma reclamação que, nas suas palavras, era um “grande pepino”. Seguindo o protocolo, ela pediu o número do CPF e o nome completo do cliente. Ele se recusou a fornecer as informações e começou a hostilizá-la no telefone, debochando de seu emprego e chamando-a de “burra”. A certa altura, o homem disse que estava transmitindo a ligação por uma live no Facebook. Zimmermann começou a suar frio, sentiu dores no peito e dificuldade de respirar. Ela não sabia, mas estava começando a ter uma crise de pânico. Desorientada, pediu ajuda à sua supervisora, que a ignorou e mandou que continuasse trabalhando. Zimmermann piorou. Suas mãos começaram a tremer, o coração disparou e ela não aguentou mais a sensação de que morreria em segundos: encerrou a ligação abruptamente, desligou o computador, bateu o ponto e saiu o mais rápido que pôde.

“Se eu continuasse ali, ia ficar louca”, diz ela. Zimmermann refugiou-se em outro andar da empresa que, àquela hora, já estava vazio. Sentou-se num canto escuro de uma sala e tentou controlar a respiração. Quando uma colega lhe avisou pelo celular que a supervisora havia se ausentado por alguns momentos, Zimmermann aproveitou para voltar à sua estação de trabalho, pegar a bolsa e ir embora. Depois de chegar em casa, em Campo Bom, a 60km de Porto Alegre, passou horas sem conseguir dormir, ouvindo o eco de “uma barulhada na cabeça” e ruminando o que havia acontecido. Uma ligação como aquela, embora grosseira e agressiva, não era uma exceção. Mas ela nunca havia perdido o prumo daquela forma. Forçada pela necessidade de ter um salário, Zimmermann voltou ao trabalho no dia seguinte. Foi recebida como se nada tivesse acontecido.

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Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz

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