A planta que anda e a que desenha
| Edição 93, Junho 2014
FELIPÃO
Preciso elogiar o perfil do Felipão (“Sem poesia, com afeto”, piauí_92, maio) escrito por Daniel Galera. Poucas vezes li um texto tão fluido, preciso e bem estruturado. Gostei não apenas da prosa do autor, mas também das relações que ele faz entre as informações que colheu e o contexto do futebol brasileiro – como, por exemplo, quando fala do papel do técnico na sedimentação da identidade do Grêmio. É exatamente isso. Parabéns ao autor. E parabéns à revista.
RENAN COLOMBO_CURITIBA/PR
MUNDO VEGETAL
O artigo “A planta inteligente” (piauí_92, maio) está sensacional. Só mesmo o tempo para que possamos mudar nossos conceitos e preconceitos sobre o mundo vegetal. Não sou profissional desse ramo. Amo a natureza e pratico o birdwatching, a observação de aves. E ninguém gosta mais das plantas e vegetais que as aves. Eles se auxiliam mutuamente.
Pensei que o artigo fosse falar da Indonesian kapur (Dryobalanops aromatica). Essas árvores incríveis formam desenhos intrincados com suas copas, como se, num quebra-cabeça, as peças ficassem montadas, mas sem se tocarem. As copas conhecem e respeitam limites que outros vegetais ignoram. Também sou fã e um estimulador do plantio da Muntingia calabura. Essa planta de rápido crescimento alimenta aves, morcegos e peixes. Seu frutinho, chamado na América Central de “cerejita”, é doce e delicioso. De apenas 1 centímetro em média, ele carrega cerca de mil sementes muito pequenas. Essas sementes não se reproduzem no solo porque ali são devoradas por fungos (a reprodução, entretanto, ocorre em solo esterilizado). Então, a calabura usa o seguinte estratagema: ela anda! Suas raízes vão formar novas plantas afastadas da planta-mãe. Com isso ela se perpetua, já que não tem vida muito longa – em torno de quinze a vinte anos.
LUIS CARLOS HERINGER_MANHUMIRIM/MG
PIKETTY E MARX
A propósito dos artigos “O homem capital”, de Emily Eakin, e “Piketty e nós”, de Marcelo Medeiros (piauí_92, maio), gostaria de fazer breves considerações sobre o livro de Thomas Piketty, O Capital no Século XXI. Seria Piketty um novo Marx, como o título do livro sugere? Creio que é o oposto, apesar da evidente intenção de Piketty de surfar na fama da obra magna de Marx.
Como não fez uma crítica do capitalismo em Manchester, o mais avançado à época, ou nem mesmo ao do século XIX, a análise de Marx é muito atual. Para Marx, não era a desigualdade crescente, mas a ruptura no processo da geração da mais-valia – ou excedente, que não se confunde com o lucro – que impulsiona o capitalismo a um impasse, cujo desfecho depende, no entanto, das lutas sociais.
Para Marx, a concentração de riqueza é da essência do capitalismo. Piketty conclama a que ela seja desconcentrada, a fim de que o sistema se sustente. É como se ele almejasse algo como “descontar o taxímetro” da concentração da riqueza capitalista, a fim de que o passageiro privilegiado – o capitalista – pudesse prosseguir.
Os holofotes foram acesos sobre Piketty porque o que ele sugere é impraticável, para o alívio dos neoliberais e do 1% [mais rico], que não se importam em serem criticados desde que tudo continue como dantes no quartel de Abrantes. Piketty nem sugeriu o alívio de tributos sobre a atividade produtiva, que eleva o padrão de vida, nem propôs a tributação da renda não auferida, da renda econômica e dos ganhos de capital, de onde o 1% retira seus ganhos.
Em um aparente paradoxo, o livro de Piketty se tornou uma sensação nos países que, em escala nacional ou global, mais concentram a renda no mundo. Mas esse paradoxo aparente se explica: suas propostas são inócuas. Piketty nada tem a ver com Marx simplesmente por lhe faltar o lastro filosófico, econômico, político e a capacidade analítica deste.
LUIZ MARIANO DE CAMPOS_RIO DE JANEIRO/RJ
Não entendi o sucesso de Piketty, se o que ele fala em seu livro é o “óbvio ululante” em economia. Todos sabem disso, e os economistas mais do que ninguém.
JOSÉ ANÍBAL SILVA SANTOS_TEÓFILO OTONI/MG
GUIA DA COPA
Foi ótimo o manual para quem virá ver a Copa sem conhecer as peculiaridades de nossas cidades (“The Tourist Herald”, piauí_92, maio). Nesse almanaque, encontrei na parte “Nordeste” algo que suspeito não ter agradado o povo de Natal: vocês colocaram o Santa Cruz como sendo um time potiguar. Tirou esse fardo de nós recifenses. Parabéns aos editores da piauí – sempre fazendo justiça.
THIAGO H. LEMOS LIMA_RECIFE/PE
NOTA DA REDAÇÃO: E não só isso, Thiago. Também ajudamos belenenses a se livrarem do fardo do Remo e do Paysandu. Concedemos aos que não gostam de Maceió a graça de saber que Natal é a nova capital de Alagoas. E para piauienses que porventura desenvolveram uma intensa antipatia pelo delta do Parnaíba, nosso guia trouxe a boa-nova: relaxem, pois o acidente geográfico agora banha as praias sensuais da capital potiguar. Nosso editor Olegário Ribamar deu de ombros. “Só este Thiago reparou, e olha que temos 3,5 milhões de leitores. Fazer humor neste país não é fácil, não.”
LACERDA
O artigo sobre Carlos Lacerda (“O tribuno da imprensa”, piauí_91, abril), do jornalista Otavio Frias Filho, foi uma verdadeira aula de história do Brasil. Sua descrição do funcionamento da “engrenagem” que fez surgir uma nova oligarquia depois da Revolução de 1930, atrelada às benesses do Estado e apoiada no controle do movimento operário, explica a origem da politicagem que grassa em nosso país até os dias atuais, com as consequências deletérias que minam até mesmo nossas mais relevantes instituições. O próximo passo é fazer a assinatura da revista, para não correr o risco de perder essas preciosidades.
SONIA VERSIANI CINTRA_BRASÍLIA/DF
NOTA DA REDAÇÃO: Lembre-se, Sonia, do que diz a Bíblia em Deuteronômio. “Pois aquele que procrastinar será ferido com a tísica e com a febre, e com a inflamação, e com crestamento e com ferrugem, e será maldito o seu cesto e a sua amassadeira. E aquele que não procrastinar, e levar a cabo o propósito aprazado, receberá em sua fronte a bênção do Senhor, e benditos serão os seus celeiros, e será afortunado tudo o que puser a mão.” Zelamos por tua amassadeira e nos angustiamos com o futuro dos teus celeiros. Dê o passo, Sonia, dê o passo.
VIAGEM AO ORIENTE
O relato de Bernardo Carvalho (“Bem-vindo ao Paquistão”, piauí_91, abril) tem aquela pegada dos diários de que sinto falta na revista. Ele faz de si mesmo um ótimo “personagem de carne e osso”, apesar de atacar esse – na sua opinião – lugar-comum da ficção atual.
BRUNO R._NATAL/RN
TIPOS ETERNOS
O texto “Cinderela” (piauí_90, março), que mostra como a mídia governista e a imprensa golpista reescreveriam a fábula da princesa, é uma sacada de gênio. Ganhei o dia no meu trabalho capitalista que não paga as minhas contas.
MARCO GAIOTTO_SÃO PAULO/SP
NEGÓCIOS DA ÁFRICA
Morando em uma pequena cidade de 9 mil e poucos habitantes, sozinha, com família muito distante, assinei piauí na esperança de encontrar boa leitura e informação confiável. Ao ler a reportagem de Patrick Raden Keefe (“O tesouro, o mercador, o ditador e sua amante”, piauí_90, março), me transportei aos anos 40, quando, menina, assistia fascinada a filmes sobre a África e… yes, me Tarzan, you Jane! A reportagem conseguiu aliar jornalismo investigativo com entretenimento e leitura prazerosa.
JACYRA VARGAS SUPERTI_CHAPADA/RS
NOTA DA REDAÇÃO: We happy.
FALTA UM EXEMPLAR
Não recebi a minha piauí_89(janeiro). Reclamei com a Abril, que me prometeu enviar um exemplar em quinze dias. Depois informaram que estavam procurando um exemplar para me enviarem, pois eu levei muito tempo para reclamar (em época de férias e pré-Carnaval, como eu iria me lembrar de alguma coisa?).
Ficou uma lacuna na minha vida de leitora da piauí. Uma não, duas! Pois como não tinha lido a piaui_89, fui obrigada a não ler as cartas da edição 90. Uma lástima, pois algumas cartas servem como avaliadoras da minha competência linguística (embora outras me levem a imaginar se não há por acaso edições diferentes com o mesmo número). De qualquer forma, gostaria de ter lido as cartas da edição 89, pois tenho certeza de que me fariam compreender a minha edição 88.
E aí a Terra gira e vou cuidar da minha vida. Já conformada, sigo para minha leitura da piauí_91(março), corro para as cartas e lá estão duas a me lembrarem que eu não li a edição 89. Nova ligação para a Abril e nada. E agora, quando eu já tinha superado a frustração, eis que uma carta me aparece na edição 92, de maio, falando do Mais Médicos. Mas que matéria é essa? Como a minha edição veio com uma matéria a menos? Lembrei! A edição 89 é aquela que eu não recebi. Apesar de ser assinante desde o primeiro número!
EDNA DINIZ_RIO DE JANEIRO/RJ
NOTA DA REDAÇÃO: Parafraseando nossa resposta à Jacyra, we sad. Número 89 a caminho. Caso a curiosidade seja maior do que a paciência, informamos que todo o conteúdo da revista está à disposição dos assinantes em nosso site.
TODOS OS NOMES
Tenho uma sugestão que já tentei fazer em outras ocasiões, mas não me deram bola. A piauí, como uma revista diferente, poderá entender. Sugiro que, em reportagens com muitos nomes, quando um personagem for citado pela primeira vez, seja sublinhada a parte de seu nome que será usada posteriormente. Isso facilitaria a consulta ao que já foi lido, saber a que “Paulo”, por exemplo, o texto está se re-ferindo. Para dar um exemplo: na excelente reportagem “A guerrilha na mesa” (piauí_92, maio), em que, com as exceções de Álvaro Uribe e Juan Manuel Santos, diversos nomes desconhecidos são citados, seria oportuno sublinhar: Ramírez, Jaramillo, Enrique Santos, Zamora, Diana, Carmenza, París e Yolanda. Seria um precedente que faria história na imprensa.
RUY MOZZATO_RIO DE JANEIRO/RJ
O KNOW-HOW DOS PERFIS
Lendo o livro recém-lançado de Consuelo Dieguez (Bilhões e Lágrimas), que reúne uma boa parte dos perfis que ela produziu para a piauí, senti vontade de fazer algumas perguntas que não me saem da cabeça há algum tempo sobre o processo de produção de um perfil ou de um texto grande. De onde surge a ideia para um perfil? Quem decide quem será o próximo perfilado, a revista, a autora, qualquer pessoa que aconteça de estar passando na redação numa tarde pós-feijoada de quarta? Após se chegar a um nome final, como se dá a aproximação com o perfilado? Pode-se perceber que a autora passa um bom tempo na presença de seus sujeitos. Vê-se que dividem conduções, restaurantes, gabinetes oficiais e só Deus sabe o que mais. Sabendo que muitos dos fatos e declarações publicados num perfil são mais convenientes ao foro íntimo de uma conversa, qual a resistência apresentada pela assessoria desses personagens? A massagem de ego é suficiente para compensar o risco? Coletado o material, como se escolhe o que vai ficar no texto final? São critérios apenas da autora ou há sempre um editor a dar um pitaco ou outro? Lembro que até um ministro já dançou por causa de umas poucas frases demasiadamente sinceras publicadas pela revista. Por acaso a autora, nas suas andanças, já logrou travar contato com algum vetusto político dotado de alma? Ou até mesmo de sentimentos (lembrando que os sentimentos com origem nas terminações nervosas da algibeira não contam)?
VICTOR JOSÉ DE SOUZA TEODORO_SÃO PAULO/SP
NOTA DA REDAÇÃO: De um de seus três palácios em Jaipur, onde continua a bebericar drinques coloridos enfeitados com guarda-chuvinha, Consuelo manda avisar, de forma algo seca, que não seria capaz de renegociar praticamente a cada mês os termos de seu contrato bilionário caso revelasse os segredos de sua profissão. Segredos, ela logo acrescenta, que não incluem qualquer prática que uma freira carmelita à cata de notícias hesitaria em adotar. Num rasgo de rara generosidade, Consuelo encerra revelando que apenas uma vez a pessoa que passa na redação numa tarde pós-feijoada de quarta lhe deu uma ideia de pauta. Não foi nem uma ideia muito boa.
MAIS MÉDICOS
Ponderados e corretos os termos da carta do colega psiquiatra Daniel Kumpinski (Cartas, piauí_92, maio). Mas não entendi o que ele pretende ao dizer que devemos “enxergar os estrangeiros como seres humanos que enfrentam dificuldades e sofrimentos como nós”. Parece-me que ele confundiu alhos com bugalhos. A humanidade dos estrangeiros que vieram ao Brasil para clinicar em nossos rincões desassistidos não está em questão. (E, na verdade, eles não estão vindo para clinicar em nossos rincões. Em Santa Catarina, muitíssimos estão trabalhando nos municípios vizinhos à capital.) O que está em questão é que o governo trouxe, para corrigir a ausência de profissionais médicos em muitos locais do país, pessoas sem habilitação legal. E por quê? Porque a única iniciativa no sentido de atrair profissionais para esses lugares é o PSF (Programa de Saúde da Família), que, em troca de remuneração bastante aceitável (em torno de 10 mil reais por mês), oferece um contrato anual de prestação de serviços médicos. Aí está a armadilha: por que um jovem médico brasileiro, recém-ingressado no mercado de trabalho, sabedor da conveniência de administrar seu futuro profissional e pessoal, deveria aceitar uma condição de trabalho que: não lhe dá estabilidade funcional; não lhe paga décimo terceiro salário nem FGTS; não lhe dá o direito a férias; não tem plano de carreira; depende, para renovação anual do vínculo, do parecer dos políticos do município de lotação; não conta tempo de serviço, portanto, jamais lhe garantirá uma aposentadoria? Fica, assim, fácil de entender por que um estrangeiro aceita o “emprego”: é um bico temporário e bem remunerado (principalmente se for cubano). Mas por que o brasileiro, em sua própria terra, deveria aceitar um trabalho desses se a própria legislação trabalhista pune o particular que proponha algo no teor?
PAULO VIANNA DA SILVA_FLORIANÓPOLIS/SC
MUITO FÃ
Apaixonado por jornalismo literário, bossa nova e sons alternativos, sou aspirante a publicitário e, desde 2009, fã incondicional da piauí. Adepto do caos, odeio o comum, o linear e tenho verdadeira obsessão por entender mentes (embora saiba que nem Freud realizaria a façanha de compreender a minha). Adoro amigos excêntricos e tenho três certezas na vida: a de que sentimentalmente nunca pertenci aos trópicos, que minha alma é mais escandinava que a gélida Noruega, e que qualquer hora é hora de entrar para o hall dos colecionadores do pinguim. Essa publicação chegou para atender os leitores que não tinham suas necessidades satisfeitas. Com estilo inconfundível, qualidade e irreverência, os conduz a uma fantástica viagem pelas mais diversas reportagens.
JADIELSON ALEXANDRE_MACEIÓ/AL
NOTA DA REDAÇÃO: Obrigado, Jådiëlsøn.