A rapina do oeste
| Edição 103, Abril 2015
PADRÃO PETROBRAS
Lendo o excelente texto da Daniela Pinheiro, “Outra história americana” (piauí_102, março), me perguntei se há uma teoria lombrosiana para nomes. Claro que a tentativa de caixa dois de mais de 200 milhões de dólares feita em nome da Petrobras com uma empresa americana tinha tudo para não dar certo. Não é preciso recorrer a um oráculo para ver que a perfídia se anunciava nos nomes que envolviam o processo: a empresa que intermediava a transação se chamava West Hawk Energy, o que, em uma pequena liberdade associativa, pode ser traduzido por “Rapina do Oeste”; o nome do presidente da West Hawk à época é Macchiavello, o que faz lembrar a notória conotação pejorativa de má intenção e nefastos trâmites políticos que advém do autor de O Príncipe; além disso, o coordenador para assuntos especiais da Petrobras que assinou o documento se chama Venâncio Igrejas, sobrenome que denota a prática de dízimos (no caso em pauta, um dízimo que transpunha descaradamente em muito o próprio montante original do acordo). Mas o que levou os que se locupletam com nosso suado dinheiro a recuarem foi, sem dúvida, o agouro evidente incutido no nome da multinacional que seria personagem passivo do roubo: Encana Oil & Gas.
CHARLLES CAMPOS_ITAPURANGA/GO
Admirável a apuração dos fatos na reportagem “Outra história americana”. Meus professores de história costumavam ensinar que o atraso do Brasil em muito se deve ao resultado da exploração predatória dos colonizadores. Hoje em dia há brasileiros que, com grande sanha autofágica, superam com folga a tungagem de outrora.
FLÁVIO SANTOS DE SOUSA_ VOLTA REDONDA/RJ
ARGENTINA
Parei tudo numa tarde de quinta e fui me deliciar com a leitura da reportagem sobre a morte do promotor argentino Alberto Nisman (“Memórias de um buraco”, piauí_102, março). Tinha a certeza de que iria me decepcionar; estava preparado para isso. Achava que seguiria na mesma ladainha da mídia nativa, colocando asinhas de anjo no promotor. Li de uma só sentada e, ao final, uma constatação: fui surpreendido. Gabriel Pasquini, o autor, expõe de forma nua e crua não só o caso da Amia como a morte do promotor, e mais, a realidade das entranhas argentinas. Valeu muito por causa disso: o texto extrapola o tema. De uma coisa tenho convicção, reforçada pela leitura: os Estados Unidos estão metidos nisso e o culpado está por trás dos personagens que tentam vencer o pleito eleitoral em curso e retomar o poder. Faltou exatamente isso no texto, essa provável ligação quase umbilical do que move as eleições, tentativas de desestabilizar governos e as intermináveis guerras nas entranhas do poder.
HENRIQUE PERAZZI DE AQUINO_BAURU/SP
PIAUÍ_102
A edição 102 da piauí se apresentou ambidestra, como uma gangorra de ideias reacionárias e revolucionárias. A seleção das ilustrações e dos textos foi muito boa. No texto “A vida por um tuíte”, o repórter Jon Ronson parece ter razão quando diz que o que motiva as pessoas a fazerem piadas é o mesmo que motiva seus carrascos: a busca por agradar pessoas estranhas. Será que aí também mora a motivação para escrever cartas para piauí?
Um abraço especial para Luiz Eduardo Brandão, Rubia Goldoni, Sergio Molina, Sergio Tellaroli e Sergio Flaksman, tradutores responsáveis por 50% da edição 102 da piauí. Cadê as fotos deles na seção de colaboradores?
FERNANDO SANCHES_SÃO PAULO/SP
NOTA DA REDAÇÃO: Justa observação. Se você ainda não viu, dê um pulo na seção de colaboradores. É um início de redenção?
Simplesmente supimpa o número 102 da piauí! Foram artigos surreais:
1) As mutretas petroleiras nas terras de Tio Sam, um capítulo à parte no processo de destruição da empresa! Parabéns, Daniela Pinheiro (“Outra história americana”)!
2) O bizarro processo de investigação (?) dos atentados na embaixada de Israel na Argentina (1992) e na Amia (1994) e de suas conexões internacionais, até chegar ao momento surreal do “suicidamento” do promotor Nisman. Vinte anos de puro desvario peronista, de Menem a Cristina. Daria um roteiro digno de Oscar. Parabéns a Gabriel Pasquini (“Memórias de um buraco”)!
3) As agruras de quem usa as redes sociais sem critério e noções de civilidade. A rede é cruel com os afoitos. Congratulações a Jon Ronson (“A vida por um tuíte”)!
4) Mamãe Merkel está ótima nas palavras de George Packer (“A alemã tranquila”)!
5) É claro que o Diário da Dilma é a primeira “coisa” que leio quando a piauí chega. É desopilante!
ROBERTO SCHMIDT DE ALMEIDA_RIO DE JANEIRO/RJ
POESIA
Há anos acompanho o trabalho de Fabrício Corsaletti (“Poesia”, piauí_102, março). Lembro-me de tê-lo conhecido por intermédio do YouTube, vendo-o recitar o seu célebre poema “Seu Nome”. Assisti àquele vídeo umas quatro ou cinco vezes. No Natal daquele mesmo ano, ganhei o livro Esquimó em um amigo-oculto. Seria o primeiro de muitos. É impressionante como o autor, na simplicidade de homem comum em sua vida rotineira na cidade, consegue encontrar entre as rachaduras dos prédios paulistanos seus amores, anseios e poesia. Fiel a uma dicção autobiográfica, Corsaletti é, sem dúvida, um dos grandes nomes da poesia contemporânea.
FELIPE ANDRADE_RIO DE JANEIRO/RJ
DIÁRIO DA DILMA
Nesses tempos em que a ala má perdedora do eleitorado alimenta sonhos histéricos de impeachment, só uma questão tem realmente tirado o sono de minha esposa. Deitada, ao meu lado, ela interrompe sua leitura atenta da piauí e dispara: “E se a presidenta sair, vão acabar com o Diário da Dilma?” Surpreso diante de tamanho espírito republicano (afinal, não apenas um mandato presidencial está em xeque, mas, vejam só, também sua seção preferida da revista), tento tranquilizá-la supondo que vocês de certo editariam um Diário no exílio, não é mesmo? Por favor, ela ameaça cancelar nossa assinatura!
LUCIANO CARLOS TAVARES GALVÃO FILHO_RECIFE/PE
NOTA DA PRESIDENTA: Meus queridos, se Napoleão, Trotsky, Casanova, Sêneca e Ovídio nos legaram, do exílio, algumas das páginas mais sentidas da literatura universal, por que seria diferente comigo? Lembro que nem uma escassa linha d’A Divina Comédia foi escrita em Florença, cidade que degredou Dante. Alguma dúvida de que meu Diário é tecido com a mesma seda rara dessa obra imortal? Caso esse rapaz Cunha me mande de volta para Sofia, a miséria da política corresponderá, dialeticamente, à glória da literatura.