ILUSTRAÇÃO: CELA LUZ_2012
A saíra e o goleirão
Francisco Alvim | Edição 73, Outubro 2012
PROCURO
um gatinho
chamado Bentinho
PATO SONSO
Levei a tal da mordida
que não mata mas
aleija
Disseram: um pato coxo
Só que não sabiam:
das duas patas
COMPROMISSO
Não tenho com
ninguém
Pai irmão
filho
mulher
A minha família é
de outra ordem é
universal
E AÍ?
Quando eu morrer?
Quem vai tomar conta
de minhas coisas?
SALVA DE SILVOS
Este cascavel
dobrei-o
contrito
Genuflexo
Carrego-o comigo
em meu bolso-
enrodilhado
Naquele em que jamais
meto a mão
NA GAVETINHA DE CIMA
fulana
onde está
o
raspador
de
osso
, né?
fazêoquê
PASSOS E MÃOS
Cada vez mais
trôpegos
Cada vez mais
trêmulas
O GOLEIRÃO SARKIS
se apertar
confessa
VER
Quem diria
Uma saíra amarela
que mistura as cores de Braque e
Matisse
Há dias
bate com seu biquinho
diminutas, sonoras
pancadinhas
na janela
ampla, iluminada
do novo escritório
Ela parece me dizer
Anda muda logo pra cá
Sai daquele quarto abafado
que não sei por que motivo
entre quatro paredes
nenhuma janela
você escolheu pra trabalhar
Anda sai lá de dentro
Vem cá fora
Vem me ver