Da esq. à dir., Paulo Pederneiras, Carmen Purri, Fernando de Castro, Cristina Castilho, Déa Márcia de Souza, Rodrigo Pederneiras, do Corpo, em Milão, em 1979: “Aqui nunca teve primeiro bailarino, solista etc.; todo mundo pode fazer tudo”, diz Purri CRÉDITO: JOSÉ LUIZ PEDERNEIRAS_1979
Pronqovô?
A trajetória do Grupo Corpo, que chega aos 50 anos
Karla Monteiro | Edição 222, Março 2025
Atención, atención, diz o cubano Elias Bouza, ao demonstrar mais uma complicada sequência de passos na sala de ensaios do Grupo Corpo, em Belo Horizonte. “E uno, e dos, e tres”, continua, com o forte sotaque, misturando às vezes espanhol e português. Sobre o amplo palco, os bailarinos se movimentam conforme a contagem melodiosa. Professor de balé clássico, Bouza, de 46 anos, faz parte da velha guarda do Corpo – a turma que se aposentou da ribalta e agora exerce funções nos bastidores. Ele chegou a Belo Horizonte há 25 anos, com uma bagagem e tanto: o peso de ser dissidente do regime cubano e a excelência da formação no Ballet Nacional de Cuba, fundado pela lendária Alicia Alonso, a prima ballerina assoluta, que morreu em 2019, aos 98 anos. “Em Cuba, só tive bons professores em todas as especialidades: moderno, clássico, repertório e dança folclórica”, conta. “Além disso, fiz cinco anos de francês, que é a língua universal do balé.”
No Ballet Nacional de Cuba, Bouza ganhava 148 pesos por mês, o equivalente na época a pouco mais de 5 dólares. “Eu muitas vezes ensaiava o dia inteiro, tendo ingerido apenas um copo d’água com açúcar mascavo”, recorda. Cuba se encontrava em pleno “período especial”, quando perdeu o apoio financeiro da União Soviética, dissolvida em 1991. “Lá, eu não avançaria como bailarino. Também não conseguiria as coisas básicas, como uma casa.”
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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