cartas_fervura em Brasília
| Edição 35, Agosto 2009
DILMA ROUSSEFF
Sobre a reportagem da falsidade ideológica da candidata à Presidência (“Mares nunca dantes navegados”, piauí_34, julho 2009), vocês verificaram se ela usufrui benefícios financeiros, tipo aumento de salário, em decorrência de sua pseudoformação?
LYGIA NEVES_RIO DE JANEIRO/RJ
A propósito da reportagem “Mares nunca dantes navegados”, a Unicamp retifica a informação prestada anteriormente à revista por sua Diretoria Acadêmica. O erro decorreu do fato de que, ao efetuar a busca do nome da pós-graduanda no sistema de registros acadêmicos da Unicamp, deixou-se de levar em conta o sobrenome final (Linhares) que a sra. Dilma Vana Rousseff usava na época, e que não consta de seu registro acadêmico do curso de doutorado. Na Unicamp existem cursos de pós-graduação em que o mestrado não é pré-requisito para a realização do doutorado.
CLAYTON LEVY, DA ASSESSORIA DE IMPRENSA DA UNICAMP_CAMPINAS/SP
A ministra Dilma Rousseff foi aluna regular do curso de pós-graduação (nível mestrado) em ciências econômicas da Universidade de Campinas no período de março de 1978 a julho de 1983, cumprindo todos os créditos exigidos pelo programa, conforme declaração assinada pelo coordenador de pós-graduação do Instituto de Economia da Unicamp, professor doutor Carlos Antônio Brandão. No ano de 1985, a ministra foi convidada e assumiu a função de secretária municipal da Fazenda da Prefeitura de Porto Alegre, deixando em aberto a defesa da dissertação.
Anos depois, a ministra cursou regularmente o doutorado na Unicamp no período de 1998 a dezembro de 1999 cumprindo todos os créditos obrigatórios, conforme declaração também assinada pelo professor doutor Carlos Antônio Brandão. Novamente, foi convidada a assumir uma função pública, no período 1999–2002, assumindo logo depois a função de ministra de Minas e Energia (2003). Da mesma forma, não foi possível concluir a defesa do doutorado. Equivocadamente, o site da Casa Civil informava que a ministra é “mestre”. A informação já foi corrigida.
DENISE MANTOVANI, DA ASSESSORIA DE IMPRENSA DA CASA CIVIL_BRASÍLIA/DF
Entendo que o jornalista optou por investigar a ministra Dilma por ela ser pré-candidata do governo à sucessão do presidente Lula. Seria interessante que também fosse feita investigação de outros currículos de pré-candidatos, como o do governador José Serra. Assim, se evitaria a parcialidade dessa revista com relação à preferência ou não de um ou outro partido ou candidato.
ALEXANDRE LOPES_SANTOS/SP
Primeiro a vida romântica, agora a vida política! E a verdadeira estória, hein? Creio que o senhor que as escreveu é forte candidato a mais um contracheque estatal!
LEO TRISCIUZZI_ANGRA DOS REIS/RJ
A mentira encobertada pelo populismo lembra-me a Alemanha de 1934. Lembra-me 1984, de George Orwell. Se não há compromisso com a verdade para que serve a liberdade de expressão? A quem serve a liberdade da imprensa, onde a verdade pode ser uma mentira “secreta”? Se, no país, ao réu notório é garantido o direito de mentir diante da Justiça, por que nós não podemos mentir corriqueiramente?
JOGHANS IHIMI_RIO DE JANEIRO/RJ
ONCINHA NO CONGRESSO
Fiquei pasma, não, incrédula, não, ainda não, estupefata, pronto, acho que é a palavra mais impactante que pode expressar o que senti: estupefata ante a forma como nossos políticos assinam uma proposta de
emenda à Constituição! Quando Janileny (Esquina, “Deputado não resiste a oncinha”, piauí_34, julho 2009) disse então que “só um ou outro xarope pede explicação” sobre o que está assinando, nossa, aí sim, fiquei estupefata duas vezes: pela concepção aparente de Janileny quanto a uma PEC e por nenhum político se informar sobre o que está apoiando! Não importa se uma PEC é “difícil de ser aprovada”. E se for aprovada? Você, que assinou, terá sido apoiador da proposta. Colocar mulheres sensuais para coletar assinaturas na Câmara, francamente! Não passa de uma espécie de prostituição constitucional. Cada vez aprendo mais acerca de nosso país com a revista. Obrigada, piauí, por me fazer enxergar que o buraco é muito mais embaixo do que eu imaginava.
MARIANE SAUER_FLORIANÓPOLIS/SC
MICHAEL JACKSON
Um dos “papas” do jornalismo literário – Gay Talese – declarou, em Paraty que “seja qual for a razão que o legista der para a morte, não vai fazer diferença, ele começou a morrer quando as acusações ganharam as manchetes. Em conluio com os acusadores, estava a mídia americana… A imprensa deve desculpas a Michael Jackson”. Por uma ironia da história a segunda morte do astro foi cometida pelo jornalismo literário. A revista que melhor representa esse tipo de jornalismo entre nós – piauí – estampou no canto superior direito uma tarja preta com três linhas bem destacadas: “EXCLUSIVO! Nenhuma linha sobre Michael Jackson.”
Os editores da revista não se contentaram em não publicar nada sobre o assunto. Quiseram deixar bem claro aos seus leitores, e ao público em geral, que o assunto não é digno das páginas de um veículo moderno, intelectual, sério como a piauí. A pergunta que não quer calar é: por que uma revista tão “descontraída”, tão moderna, não apenas se recusou a pautar o assunto, mas promoveu uma segunda morte do astro, ignorando totalmente o acontecimento e se vangloriando desse feito?
EUCLIDES DOURADO_SÃO PAULO/SP
Uma revista que aborda a informação de forma peculiar, utilizando-se de uma crítica inteligente, não tem o direito de tripudiar, de forma tão hostil, alguém que sequer ainda tinha sido enterrado. Por se tratar de uma falta de respeito a um ícone póstumo comparável a John Lennon e Elvis Presley, desde já não levarei em consideração “nenhuma linha” publicada pela revista piauí.
PATRICIA MANSO_BRASÍLIA/DF
DIÁRIO DAPHNE MERKIN
Confesso que quando vi a seção Diário com alguém de fora logo imaginei: “Ih, eles não conseguiram nenhum sujeito comum para escrever.” Até que a cada parágrafo do texto de Daphne Merkin (“Diário do fundo do poço”, piauí_33, junho 2009) ia entendendo um mundo tão diferente da maioria de nós e ao mesmo tempo existente em tantas pessoas em nossa volta, quando não em nós mesmos.
ANDERSON SANTOS_MACEIÓ/AL
DIÁRIO KEN COLGAN
Eu estive nesses mesmos lugares pelos quais ele passou e, como a grande maioria dos brasileiros do Sul, pouco conhecia da região amazônica antes de chegar. A viagem, que durou cinco meses, foi uma verdadeira revolução dentro de mim e dos meus amigos, todos brasileiros mas, surpreendentemente, tão estrangeiros diante da paisagem, da riqueza cultural da vida cabocla, das lendas indígenas, da culinária (muito mais que “peixe frito”), das dezenas de novas palavras que os manauaras adicionaram ao nosso dicionário tão restrito. Teria sido muito mais interessante ter jogado um paulistano, ou um carioca, no meio daquela selva, pois não precisa ser inglês para se sentir estrangeiro por lá. Clara Becker fez um biscoito de polvilho (“O império global da mandioca”, piauí_32, maio 2009) parecer infinitamente mais interessante do que a Amazônia do Ken Colgan (“Um inglês na Amazônia”, piauí_34, julho 2009), intérprete titular do Parlamento Europeu que domina quatro idiomas e já rodou o mundo. Estagiários 1 x 0.
MONIQUE FRANÇA_RIO DE JANEIRO/RJ
Sir Kenneth Colgan, seja mais realista em suas conclusões, ou menos hipócrita talvez. Mas se tentou fazer uma piada – “O Brasil é o máximo! Venham conferir” – coloque legenda para podermos rir (humor inglês). De qualquer forma seja sempre bem-vindo, e da próxima vez que estiver de férias no Brasil, tire o escorpião de seu bolso para contribuir para o aumento de nosso PIB. Vamos receber os ingleses. Eles são o máximo!
CASSIO BETINE_BIRIGUI/SP
PORTFÓLIO BRASÍLIA
O autor da legenda aplicada à imagem da Esplanada dos Ministérios no portfólio sobre Brasília (piauí_34, julho 2009) não foi feliz. O plano piloto desenhado por Lúcio Costa e que segue íntegro, exceto por alguns detalhes, é impermeável a grandes construções em torno daquele setor administrativo. Cinquenta anos depois, a Esplanada não se encontra “cercada de prédios” e privada de sua “imponência”. Brasília cresceu, neste meio século, mais para os lados que para cima, afogada em periferias. Senhor autor, conheça a capital. Serás hospitaleiramente recebido por este amigo, com a picante galhardia sertaneja da qual uma amostra é esta bem intencionada crítica, e poderemos constatar estupefatos e ufanados da grandeza do nosso país, que a imponência da Esplanada dos Ministérios permanece inalterada, muito longe dos arranha-céus.
DIOGO CARVALHO_BRASÍLIA/DF
A piauí não se renderá ao Twitter? Manchetes diárias da The piauí Herald seriam muito mais interessantes que o pseudoativismo de pseudocelebridades.
FERNANDA PERRIN_ATIBAIA/SP
NOTA DA REDAÇÃO: aguarde outubro.
FICÇÃO
Assim como Nuno Manna, o autor de “Qu4tro figuras (e mais 2)” (piauí_34, julho 2009), eu também nado contra a maré “política” do STF, com uma leve risadinha de canto de boca.
CHRISTYANN LIMA_SÃO LUÍS/MA
LUTA DE CLASSES
O ensaio de Slavoj Žižek (piauí_34, julho 2009) cairia bem melhor no Granma, o jornal oficial do Partido Comunista Cubano, ou do MOCQMV, Movimento dos Órfãos do Comunismo que Querem o Muro de Volta. O autor parece repetir o tempo todo o refrão daquela música do Raul Seixas, Tente Outra Vez. Que papo furado é esse de que é preciso defender a “hipótese comunista”? Que lenga-lenga é essa de comunismo como “inclusão dos excluídos”? E que conversa mole é essa do sr. Alain Badiou, que afirmou que “sem a Idéia comunista, nada no devir histórico e político tem qualquer interesse para um filósofo”? Quer dizer que a filosofia, desde Platão e Aristóteles, nada mais é do que um departamento de propaganda do comunismo? Quando é que vocês vão mostrar que são mesmo independentes, publicando textos de autores “conservadores” e “de direita”, em vez desses neomarxistas de galinheiro?
GUSTAVO HENRIQUE MARQUES BEZERRA_BRASÍLIA/DF
NOVA ORTOGRAFIA
Embora tenhamos mais tempo para nos adaptarmos às novas regras ortográficas, gostaria de saber por que a piauí ainda não utiliza essas novas regras. São várias ideias com acento, outras tantas assembleias também.
SUELEN CERBARO_BRUSQUE/SC
NOTA DA REDAÇÃO: nossa idéia, adotada sem unanimidade numa assaz conturbada assembléia geral – na qual os reformistas, à força de laboriosas manobras, anacolutos impolutos e catacreses cretinas, levaram a melhor –, é piauizar a nova ortografia por ocasião do nosso terceiro glorioso aniversário, em outubro próximo.