Adolescente pede piauí sem Justin Bieber
| Edição 88, Janeiro 2014
O CONDE IRRESISTÍVEL
Sobre o conde Harry Kessler (“O sentimento de uma nova era”, piauí_86, novembro), aproveito para noticiar uma história bastante curiosa contada pelos capixabas. Certa feita (por volta de 1925), esteve por estas bandas um distinto cavalheiro à procura do assistente de produção que causara o acidente sofrido pela divina Sarah Bernhardt num palco de teatro no Rio, em 1905. Diante da falta de intimidade do visitante com a derradeira flor do Lácio, tiveram de chamar um representante da comunidade pomerana – abundante por estas bandas – para que a comunicação se estabelecesse.
Só então foi possível saber o nome do tal visitante: conde Kessler, amigo da atriz e que lhe prometera, no leito de morte, vingar-se do incompetente que lhe causara grave acidente. Por isso, ao ler a sequência do diário do conde, fiquei absolutamente deslumbrado com a ubiquidade de tão impressionante personalidade.
CALEB SALOMÃO_VITÓRIA/ES
Fiquei triste ao terminar a leitura da segunda parte do diário do conde Harry Kessler e descobrir que não haveria uma terceira (nem quarta, quinta ou sexta) parte. Foi um grande deleite ler as memórias de um indivíduo tão interessante.
JORGE ROCHA NETTO_CAXIAS DO SUL/RS
PIAUÍ PARA ADOLESCENTES
Caros “adultos” da redação da piauí: me chamou a atenção, na edição de novembro (piauí_86), a carta de um adolescente. Pois bem, sinto-me obrigado a fazer o mesmo, não por cópia, mas sim por discordar do sujeito que representa a “classe jovem”. Sou adolescente, tenho 17 anos, leio (e devoro) a piauí desde os 15. Agradeço a vocês por não escreverem matérias direcionadas para nós, “jovens”. O universo adulto é chato, porém mais chatos ainda se tornaram as revistas e jornais que, preocupados com nossa opinião, passaram a descrever detalhadamente o cabelo de superstars como Justin Bieber. Continuem velhos e descolados.
PATRICK NASSER_SÃO PAULO/SP
NOTA DA REDAÇÃO: Ufa. Como ninguém aqui compreende direito o que Katniss vê em Peeta, estávamos cortando um dobrado para escrever um bom ensaio sobre Jogos Vorazes. Liberados do dever, boa parte da redação já retomou o bingo. O resto foi para a aula de hidroginástica.
MATEMÁTICOS
Parabéns a João Moreira Salles pelo artigo “Senhor dos anéis” (piauí_87, dezembro). Surpreendente, e rara, a capacidade de tratar de assuntos “esotéricos” de forma correta e coloquial.
Mas o artigo também me entristeceu. Lendo-o, soube que um antigo e caro amigo que havia se perdido nas brumas do tempo e nas dobras do espaço havia morrido. Fui colega de doutorado do José Chepe Escobar, em Berkeley, nos primeiros anos da década de 80. Lembro-me vividamente do dia em que ele soube que estava com câncer, esse mesmo que foi curado então, mas voltou muitos anos depois para levá-lo de vez, como me conta a revista. Eram três da tarde (às três em ponto da tarde, como diria Lorca), e, como de hábito, nos encontrávamos na cantina improvisada do 9º andar do Evans Hall, o prédio da matemática. Ele nos revelou então, a mim e outros colegas, que havia recebido naquela manhã o diagnóstico definitivo: era câncer mesmo. O que mais me surpreendeu, e me surpreende ainda hoje, foi que ele não achou que isso fosse motivo suficiente para faltar às aulas daquele dia! O Chepe era um doce de pessoa, além de excelente dançarino de salsa. Que a terra lhe seja leve.
Voltemos à reportagem. Numa passagem perto do fim, reporta-se uma referência elogiosa de Manfredo do Carmo a um artigo sobre a aplicabilidade da matemática às ciências empíricas cujo autor não é nomeado. Trata-se do físico, prêmio Nobel, Eugene Wigner. Esse artigo, apesar de muito interessante, tem uma agenda oculta que me incomoda bastante e que está sendo ressuscitada em certos meios acadêmicos fundamentalistas cristãos, aquela gente do “design inteligente”. Sua tese de fundo é que a aplicabilidade da matemática é um “milagre” (a mesma palavra usada pelo professor Manfredo!), que só se “explica” supondo-se que a natureza é habitada por uma inteligência que também tem residência em nossos espíritos.
Ora, não há nem mistério, nem “milagre” nisso. Respondo com o grande Hermann Weyl, talvez o maior matemático do século XX. As ciências empíricas não têm nada a ver com a natureza “em si”, mas com uma reconstrução simbólico-formal da nossa parca e rasa percepção da natureza que apenas aqui e ali toca a experiência. Assim sendo, ao construirmos modelos matemáticos da “realidade”, e que “milagrosamente” lhe caem como uma luva, estamos apenas traduzindo um contexto formal em outro, estratégia que os matemáticos conhecem sobejamente. É como usar álgebra em teoria dos números. E se uma serve à outra tão bem, é porque, no fundo, no fundo, é tudo coisa nossa. Nós só vestimos nossas poucas ideias com muitos trajes distintos.
JAIRO JOSÉ DA SILVA_RIO CLARO/SP
Conheci o Fernando [Codá Marques] criança em Porto Alegre, quando orientei o pai dele em seus trabalhos de mestrado e doutorado. Severino Marques foi o melhor aluno que já tive. A tese dele foi sobre cascas, superfícies curvas no espaço, aquelas que o Carl Gauss estudou.
Severino disse um dia: “Professor, meu filho é muito inteligente.” E eu: “Olha, Severino, todos os pais pensamos que nossos filhos são inteligentes, mas o mundo está cheio de burros.” Como ele insistisse, buscamos colégios especiais (Fernando estudava no Anne Frank, estadual). Mas em Porto Alegre eles não existiam. Então Severino se dedicou a cultivar o filho, todos os dias, com problemas de lógica e de matemática. O resto da história está no artigo. Mas deve ser lembrado que talentos excepcionais florescem quando descobertos e treinados cedo.
A ciência e a matemática são pátrias sem fronteiras, e está bem que assim seja. O povo brasileiro deve se orgulhar de ter Neymar em Barcelona e Fernando em Princeton. O que esse povo mais precisa é de bons professores nos colégios. Do contrário, Fernandos em potência acabam como traficantes ou desembargadores.
GUILLERMO J. CREUS_ FOZ DO IGUAÇU/PR
Li a matéria sobre Fernando Codá, e me lembro de pelo menos outra matéria similar, sobre outro matemático brasileiro, Artur Ávila (“Artur tem um problema”, piauí_40, janeiro de 2010). Ambos brilhantes, do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, Impa, e com menos de 40 anos. Outro perfil me vem à memória, dessa vez de um físico: Luiz Davidovich (“Irmãos corsos no fundão”, piauí_61, outubro de 2011), que foi inclusive meu professor. Davidovich era brilhante, mas já não era nenhum menino.
Meu único receio é que se fique com a imagem de que, para ser matemático, só sendo um Artur ou Fernando do Impa, e menino. Isso para mim, matemático com mais de 40 e que não é do Impa, soa um pouco deprimente. O Impa é muito pequeno para todos nós, e 40 é bem cedo para pensar que já não há mais o que fazer. Que tal o próximo perfil de matemático ser de alguém com uma trajetória mais mundana? Já se tem uma imagem muito estereotipada do nosso grupo. Talvez um matemático menos fadado ao sucesso tenha algo a acrescentar ao mosaico.
JOSÉ TEIXEIRA CAL NETO_RIO DE JANEIRO/RJ
CHATO, SEM GRAÇA
O texto de João Moreira Salles fez passar diante de meus olhos aqueles longos anos de aprendizado, e a doce severidade de dona Eneida a nos mostrar a beleza da regra de três. “Senhor dos anéis” (piauí_87, dezembro) foram como os meus anos de aprendizado de matemática: longo, chato e não raro assustador. Sete páginas?! Tá certo que o cara é o chefe, mas não tem ninguém aí para dar um toque no homem, pedir para ele dar uma enxugada no que escreve?
A Esquina continua perdendo a graça. O Eucanaã Ferraz, antológico (“Memórias póstumas”). Ele escreveu o poema de uma sentada só, não foi? É minha impressão. “Olho da rua” me deu, pela primeira vez, a panorâmica que precisava sobre o tema. “Detetive particular” me deu a dica para o meu presente de Natal, O Homem que Amava os Cachorros, já que a ideia de um cubano que recusou o exílio escrevendo sobre Trotsky é, no mínimo, curiosa. No mais, boas entradas.
MANOEL HENRIQUES_BRASÍLIA/DF
NOTA DA REDAÇÃO: E o pior é que eram oito páginas, não sete.
NOTA DE DONA ENEIDA: Manuelzinho, te mandei um dever de casa por e-mail.
POLÊMICA EPISTOLAR
Como não sei o nome da pessoa que respondeu à minha carta na edição de novembro (piauí_86), encaminho outra para a redação em geral. É lamentável, mas previsível, que não aceitem críticas. Isso só fortalece a minha opinião [de que a revista assume posições contra o governo]. Mas gostaria de dizer que o fato de achar que o Lula e a Dilma mudaram a cara do país, que o PSDB, o DEM e o PPS são partidinhos do mesmo quilate, e que a imprensa brasileira (em sua maioria) é alienada não quer dizer que acho todos os políticos da atual aliança do governo uma maravilha.
Por isso, agradeço a “dica” dos poemas do Michel Temer (se é verdade que escreve algum, pois desconheço totalmente). Prefiro continuar lendo Drummond, Adélia, Neruda, João Cabral, Chico, Allende, Mario Benedetti e tantos outros, que me ensinaram a distinguir o vulgar do formidável, o talento da limitação, verdades, mentiras, direitos e deveres.
MARIA BEATRIZ TEIXEIRA_BELO HORIZONTE/MG
NOTA LÍRICA: É verdade, Maria Beatriz: Temer verseja. Na esperança de não tomarmos rumos diferentes, você e nós, te oferecemos um exemplo da obra. Que o desesperado sentimento de encontro do poema temeriano bata as asas sobre nós. Embarquei na tua nau/Sem rumo. Eu e tu./Tu, porque não sabias/Para onde querias ir./Eu, porque já tomei muitos rumos/Sem chegar a lugar nenhum.
Devo parabenizar a redação por lograr tamanho êxito em se consolidar como o carro-chefe da gauche caviar no país. Ao mesmo tempo em que estampa anúncios de Itaú Personnalité, Vivara, Natura, Coca-Cola, H. Stern, Totvs, PwC e Santander, emplaca matérias vitimizando mensaleiros condenados em processo amplo e legítimo, e também abre (ainda mais) espaço para a mídia NINJA, que, ao menos dessa vez, nem precisou de licitação para fazer sua publicidade. O ponto alto da revista foi o artigo macaqueado de fora, de autoria do hagiógrafo de Che Guevara, fingindo que critica Cuba. Para finalizar, registro aqui minha modesta sugestão à redação: deem bananas para a Editora Abril e os patrocinadores da iniciativa privada e abram mais espaço para o Banco do Brasil, CartaCapital e Ministério das Cidades. Falta só um tiquinho para a porca solta do parafuso a mais afrouxar de vez.
THIAGO SILVEIRA_CURITIBA/PR
PERDIDO NO PALÁCIO
O longo texto de Nuno Ramos na edição de novembro (“No palácio de Moebius”, piauí_86) foi o segundo que não consegui levar a cabo em quase dois anos que acompanho esta publicação. O primeiro foi o de Georges Perec sobre o arremesso de tomates em sopranos (“Demonstração experimental da organização tomatotópica em sopranos”, piauí_75, dezembro de 2012), absolutamente sem graça e insano, no pior sentido da palavra.
De volta ao “palácio”, não há como entender a decisão de ilustrar o artigo com uma única imagem retirada da internet, quando tantos artistas e obras são mencionados no texto, que, aliás, tem várias passagens herméticas. Não teria sido mais útil ao leitor poder reparar nas características dos trabalhos de Hélio Oiticica, Lygia Clark e Mira Schendel ao ler o texto de Ramos? Por que não usar um dos talentosíssimos cartunistas que frequentam as páginas da revista para agregar os conceitos, obras e autores citados por Ramos e oferecer um suporte ao leitor?
Poderia ter havido um pouco mais de lucidez no layout do ensaio, de modo que o palácio de Moebius não ficasse assentado sobre areia.
PLÍNIO PAULOS_SANTOS/SP
NOTA DA REDAÇÃO: Dois artigos em 24 números: confessa, Plínio, a média não é ruim, vá.
NÃO É PARA BRINCADEIRA
Sou assinante da piauí há um bom tempo e quase nunca a revista chega à minha casa junto com a venda nas bancas. Sempre chega depois, o que é irritante. Tudo bem, há a disponibilidade do conteúdo na internet, mas eu gostaria de ter a opção de ler no papel assim que a revista é publicada.
E nem adianta vir com hipóteses engraçadinhas tipo “a revista é tão boa que o vizinho lê antes”. Não é isso. E não, não pretendo comprar um exemplar na banca enquanto espero o meu, nem para dar de presente, nem para ficar com duas já que uma já é tão boa etc. Espero que o serviço de entrega melhore em 2014.
JACQUELINE FARID_RIO DE JANEIRO/RJ