ILUSTRAÇÃO: ANDRÉS SANDOVAL
Agora escureceu
Mãe Dináh segue olhando o futuro, mas não lhe peçam para soletrar
Bruna Talarico | Edição 55, Abril 2011
Nascida no Paraíso, o simpático bairro no fim da avenida Paulista, Benedicta Finazza mantém desde a infância o mesmo penteado: um austero rabo de cavalo enrolado em coque. Dona de um olhar penetrante e um sotaque italianado, ela complementa o estilo com unhas pintadas de bordô, lábios vermelhos e bijuterias da rua 25 de Março, a meca dos balangandãs de São Paulo.
Mais conhecida como Mãe Dináh, a vidente paulistana nunca revela a idade. Mas garante que o dom da premonição a acompanha desde que adotou o tal penteado, aos três anos. Questões mundanas como ir ao supermercado, se locomover pela cidade ou editar o seu site são exercidas por algum de seus quatro filhos, que também se encarregam de afazeres domésticos, como lavar e passar as roupas feitas sob medida para ela. Mãe Dináh é uma presença intermitente na imprensa nacional desde 1996, quando conheceu os holofotes por alegar ter previsto a morte dos Mamonas Assassinas. Seja em shows dominicais, no fim dos anos 90, ou no Mãe Dináh Responde, exibido às segundas-feiras na UPTV – uma emissora de televisão pela internet –, ela tem visões as mais variadas. Entre as recentes, garante ter previsto as chuvas na região serrana fluminense, os conflitos na Líbia e mesmo o terremoto e o tsunami no Japão. Tudo, enfim, de alguma repercussão, passa em primeira mão pelos olhos da vidente. Até coisas que o destino desiste de concretizar.
Além de enxergar tragédias naturais e políticas, ela ainda encontra tempo para dar pitacos sobre a vida de celebridades, caso de Ronaldo Fenômeno (que, segundo ela, deveria ter tido gêmeos em 2010) e da presidenta Dilma Rousseff (“Acredito que ela será uma mulher muito forte no poder, e quem sabe encontre um grande amor”). Às chamadas pessoas comuns, ela distribui simpatias e conselhos, tanto pela internet quanto ao vivo. Para conseguir um emprego, por exemplo, basta ter estômago para preparar uma mistura de borra de café com farinha de mandioca, uma gema de ovo e uma nota de 2 reais, e guardar isso na geladeira até a concretização do feito. Colocar uma flor de laranjeira despetalada em um vaso de vidro com o nome do apaixonado e do pretendente dá bons resultados. Contra “irmãs rebeldes e danadinhas”, um anjo de cerâmica com asas cor-de-rosa deve ter os pés untados por uma colherada de mel. É tiro e queda, segundo ela.
Pelo seu site, é possível ainda contratar um serviço de aconselhamento por um ano inteiro, com previsões nos campos afetivo, profissional, de saúde e mesmo turístico – Mãe Dináh lista os lugares favoráveis e a época para as viagens desejadas. Uma série de dicas de números para jogo – que variam de acordo com o nome completo e a data de nascimento do aflito – também faz parte do leque de serviços prestados.
“Várias pessoas que vieram até mim ganharam na Mega-Sena com os números que eu enxerguei”, ela disse. “Uma vez, lavando a louça, a santinha que eu tenho na cozinha desceu do altar e me entregou um papel com muitos números. Disse que eu jogasse com eles. Mas como sou muito católica, e jogar é contra a minha religião, dei os números a um parente que precisava de dinheiro. Ele aceitou e ficou muito rico.”
Mãe Dináh não se rende a fraquezas humanas como o desconhecimento: ela tudo prevê, mesmo aquilo que não sabe. Com exceção, talvez, do que está a menos de 1 metro de seus olhos, consequência de problemas na vista. É uma mulher que enxerga, sem tarô, cartas ou bolas de cristal, o futuro e seus arrabaldes.
Ao atender à ligação para esta entrevista, Mãe Dináh disse já saber do contato. Ela deve ter “enxergado” as três ligações anteriores, mas atendeu desconfiada. “O que você quer com a Mãe Dináh?”, perguntou uma voz fininha, mas ingenuamente reconhecível. Vencida pelo cansaço, a voz engrossou e Mãe Dináh surgiu, enfim, com seu sotaque tão conhecido e propagado não só pelas previsões, mas também pelas participações especiais em atrações humorísticas. Dia desses, ela voltou a dar as caras na programação televisiva. No quadro “Çoletrano” – paródia ao homônimo de grafia correta da Rede Globo –, do programa Pânico na TV, pôs à prova os poderes de vidente. O desafio era citar as letras que compõem a palavra “mágoa”, mas aí não houve vidência que desse jeito.
“M-A… ah, agora a outra tá me fugindo, as outras duas não estou enxergando”, rendeu-se. “Tá tudo escuro pra mim.”