Me agrada fazer coisas práticas – como trocar o pneu da bicicleta –, pois não são tarefas associadas a um temperamento como o meu. Tendo a pôr as relações sexuais nessa categoria também JOHN RAINFORD_WWW.JTPPHOTOGRAPHIC.PHOTOSHELTER.COM
Agora o ator sou eu
Os bastidores do teatro inglês nas memórias de um de seus principais dramaturgos
Alan Bennett | Edição 146, Novembro 2018
Filho caçula de um açougueiro, Alan Bennett nasceu em Leeds, na Inglaterra, em 1934. Começou a trabalhar ainda criança: de bicicleta, entregava encomendas do comércio do pai. O bom desempenho na escola o levou a ganhar uma bolsa de estudos no Exeter College, da Universidade de Oxford, onde cursou história e também se envolveu com teatro. Chegou a lecionar história medieval, mas desistiu da carreira acadêmica depois do sucesso, em 1960, como autor e ator da revista satírica em esquetes Beyond the Fringe [Para Além do Alternativo], que revolucionou o humor britânico e influenciaria, entre outros, o grupo Monty Python. A partir de então, Bennett passou a se dedicar inteiramente à dramaturgia. Sua primeira peça, Forty Years On [Quarenta Anos Depois], estreou em 1968. Em poucos anos, Bennett se firmou como um dos nomes centrais do palco inglês por seu talento para escrutinar as instituições do país e transformar a vida e as obsessões comuns de seus conterrâneos em dramas afiados e irônicos.
Experimentou diferentes gêneros teatrais e construiu uma obra volumosa, que extravasa o teatro e se espalha por tevê, rádio, literatura e cinema. Junto com David Hare e Tom Stoppard, Bennett compõe a Santíssima Trindade do teatro contemporâneo inglês, sendo que, dos três, ele é o menos conhecido dos brasileiros. É dele o roteiro, entre outros, dos filmes As Loucuras do Rei George (1994, indicado ao Oscar de melhor roteiro adaptado) e A Senhora da Van (2015), baseados em peças que escreveu e dirigidos por Nicholas Hytner, colaborador frequente de Bennett nos palcos. Em 1994, publicou Writing Home, com escritos, críticas e um diário que manteve de 1980 a 1995, do qual piauí publica trechos a seguir. Nos fragmentos do diário, o leitor encontra Bennett por inteiro: sua observação atenta dos fatos e pessoas, seu humor e sua ferina reflexão política – sem falar nas saborosas gossips que ele oferece sobre vários ídolos do teatro e do cinema.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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