Agruras de um Führer
A vidinha de Adolf ficou chata e a rotina ao lado de Eva Braun, uma canseira só. Fora dos palanques e do poder, o personagem é tão-somente banal
Achim Greser | Edição 31, Abril 2009
–Senhor Fest, o senhor acha que se pode fazer piadas sobre Hitler? – quis saber o ilustrador e caricaturista Achim Greser, ainda jovem e desconhecido.
– Não – respondeu, peremptoriamente, o historiador, escritor e jornalista alemão Joachim C. Fest, autor da primeira biografia do Führer publicada em seu país (1973) desde o final da Segunda Guerra.
O diálogo ocorreu durante uma edição da Feira do Livro de Frankfurt, décadas atrás. Greser, nascido duas gerações após o final da guerra, decidiu não levar em conta a opinião do iminente historiador. E começou a criar uma série de cartuns intitulada Der Führer Privat [A Vida Privada do Führer], publicada pela revista satírica Titanic, entre 1995 e 1998. Mais recentemente, tornou-se o cartunista titular do Frankfurter Allgemeine – justamente o respeitado jornal que Joachim Fest co-dirigiu por quase duas décadas.
Passados quase setenta anos desde que Charlie Chaplin (com O Grande Ditador, de 1940) e Ernst Lubitsch (com Ser ou Não Ser, de 1942) satirizaram o nazismo, retratar o Führer em sua roupagem mais risível continua sendo quase tabu. Achim Greser, ao contrário, se dedica a apontar para o ridículo da figurinha de braço erguido e bigodinho absurdo, escondida pela máquina de propaganda do Terceiro Reich. Em Der Führer Privat (editora Tiamat, Berlim), usa um traço deliberadamente ingênuo, quase infantil, para retratar Adolf Hitler como ele menos gostaria de ser visto: em toda a sua banalidade. E como ele menos gostaria de ser olhado: sem medo.