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    A casa da Fazenda Cotia, em Corumbá de Goiás, em seu aspecto atual: três meses para remover todo o lixo acumulado em anos e nem sinal das 1,1 mil cabeças de gado que antes pastavam ali CRÉDITO: SERGIO LIMA_2022

anais do cangaço contemporâneo

Ataque brutal

Como aproveitar amigos influentes no poder – no Executivo, no Legislativo e no Judiciário – para triturar uma família

Allan de Abreu | Edição 192, Setembro 2022

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No momento em que tocam o cadeado da porteira, as mãos de Adriano de Araújo Leite ficam geladas. Ele aperta os olhos, segura as lágrimas. Entrar na Fazenda Cotia, nos rincões de Goiás, onde nasceu e cresceu, é sempre uma experiência amarga. Mas ele abre a porteira e começa a caminhar, devagar, pelo gramado. Aproxima-se do curral, já deteriorado pelo tempo, onde ele cuidou do gado da fazenda de sua família durante anos. Era o que lhe dava mais prazer. Depois, ele anda em direção à sede. É uma casa simples, em estilo colonial, erguida há mais de cem anos. Perto da porta principal, ele estanca, feito um boi arredio. Não tem forças para entrar no imóvel que sua família ocupou por três gerações. Adriano tem 45 anos, é esguio. Está usando boné, camiseta preta, calça jeans puída e botinas. Agora, nesse fim de tarde ensolarado de maio, ele está a poucos metros da porta da casa-sede, paralisado pela memória do dia 26 de novembro de 2009. Aconteceu no alvorecer.

Naquele dia, mais de trinta policiais civis e militares cercaram a Cotia, enquanto um helicóptero da Polícia Civil, vindo de Goiânia, pousava próximo da sede da fazenda. Adriano e seu irmão caçula, Fernando, não estavam na casa naquele momento, mas logo foram presos em Alexânia, um município vizinho. Algemados, os dois, que nunca tinham posto os pés numa delegacia de polícia, passaram pela humilhação de ser levados para a cadeia de Corumbá de Goiás, a cidade mais próxima da fazenda, onde dormiram a primeira noite de suas vidas encarcerados. “Só Deus sabe o sofrimento que eu e meu irmão passamos naqueles dias”, diz Adriano.

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Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz

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