No conto “Biblioteca de Babel”, Jorge Luis Borges usa a biblioteca como metáfora do universo e da realidade a ser decifrada. Umberto Eco pegou o fio da meada do escritor argentino para sugerir que se devolva a escala humana às catedrais dos livros. O ensaísta italiano teme o cenário apocalíptico em que o manuseio de um volume venha a ser substituído, por questões de economia e segurança, por algum dos muitos formatos digitalizados já em uso. Em algumas bibliotecas, o processo de localização física de uma obra já se tornou tão complexo que é preciso, quase, aprender a navegar por GPS, escreve Eco. A romaria da humanidade a bibliotecas arrefeceu consideravelmente, no mundo todo, com o advento da era digital — nos Estados Unidos, entre 1978 e 2004, a circulação de obras retiradas em bibliotecas caiu pela metade. Mas a liberdade de acesso público ao universo dos livros, iniciada nos tempos romanos em contraposição ao uso privado das bibliotecas da Grécia antiga, continua sendo uma das grandes conquistas da civilização. Eis alguns desses templos de leitura.
A Ordem dos Premonstratenses, fundada em 1119 por São Norberto – também chamada de Ordem dos Cônegos Brancos, devido à cor de seus hábitos –, erigiu no bairro de Strahov, em Praga, um dos mosteiros mais visitados da República Checa. Sua biblioteca, e em especial o Hall de Teologia, abriga perto de 18 mil volumes em estantes barrocas, e tem uma parede inteira reservada a edições da Bíblia de todos os tempos e lugares
O Real Gabinete Português de Leitura, na rua Luís de Camões, no centro do Rio de Janeiro, foi inaugurado em 1887. O local abriga a maior coleção de obras de autores lusitanos fora de Portugal. A biblioteca possui cerca de 350 mil volumes e sua Sala de Leitura, aberta ao público desde 1900, é considerada uma das mais belas do mundo
A biblioteca do Trinity College de Dublin é a maior da Irlanda. Seu acervo, que começou a ser formado no final do século XVI, conta atualmente com mais de 4 milhões de obras, além de coleções de manuscritos, mapas e arquivos musicais. A biblioteca, que foi freqüentada por George Bernard Shaw, Oscar Wilde e James Joyce, está aberta a pesquisadores de todo o mundo
Especializada em ciências sociais e direito, a Biblioteca do Riksdag (Parlamento Sueco), em Estocolmo, é uma das poucas bibliotecas legislativas do mundo aberta ao público. Além das consultas in loco, boa parte de seus 700 mil livros e 4 mil publicações está disponível para empréstimos
O Reading Room (Sala de Leitura) do British Museum, considerado uma obra-prima da tecnologia do século XIX, foi inaugurado em 1857 com 4,8 quilômetros de estantes de ferro fundido e 40 quilômetros de prateleiras de livros. Freqüentado tanto por Marx e Lênin como por Gandhi e Orwell, na época em que se exigiam passes individuais, teve seu acesso aberto ao público em 2000, após restaurações. Conta com um acervo de 25 mil volumes