Cadê esse boi?
| Edição 102, Março 2015
BOI NA LINHA
Para complementar a matéria sobre os auxílios do BNDES ao Grupo JBS (“O estouro da boiada”, piauí_101, fevereiro), cabe lembrar que não somente o BNDESPar ajudou um grupo econômico familiar a se erguer em negócios estrangeiros, mas também fortaleceu seu controle nocivo sobre o mercado consumidor local. Aqui em Mato Grosso, em especial na região metropolitana de Cuiabá, a JBS comprou três frigoríficos pequenos, que atendiam a demanda por carne bovina na região. Após a compra, simplesmente fechou os frigoríficos, o que fez aumentar o preço da carne (lei da oferta e da procura – quanto menor a oferta, maior é o preço), aumentando o lucro do grupo. Logo, fica a pergunta: a quem interessam os investimentos na JBS? Ao consumidor é que não!
THIAGO COELHO DA CUNHA_VÁRZEA GRANDE/MT
Na narrativa de Consuelo Dieguez sobre a trajetória empresarial do Grupo JBS, tomamos conhecimento dos bastidores da gestação da maior companhia de carnes do planeta, ocorrida durante a era lulista, por meio do apoio do BNDES, na questionada política de criação dos “campeões nacionais”. Os bilionários recursos aportados pelo nosso principal banco de fomento ao empreendimento são criticados em diversos setores carentes de investimento, pois se trata de empréstimos com taxas de juros subsidiadas – concedidos no caso a quem já obteve musculatura suficiente para recorrer ao mercado bancário. Parece que há uma estranha simbiose entre o público e o privado nas benesses concedidas, pois a JBS é a maior empresa doadora de recursos nas campanhas eleitorais.
DIRCEU LUIZ NATAL_RIO DE JANEIRO/RJ
Com relação às informações veiculadas na matéria “O estouro da boiada”, publicada na edição de fevereiro, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) esclarece que não há nenhum parentesco entre o presidente do órgão, Vinicius Marques de Carvalho, e o ex-ministro Gilberto Carvalho.
JOÃO AMURIM, CHEFE DA ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DO CADE_BRASÍLIA/DF
NOTA DA REDAÇÃO: piauí errou. Não há parentesco entre os dois Carvalhos.
TROTE
Fiquei chocado com a matéria da Malu Delgado sobre a boçalidade dos trotes na Faculdade de Medicina da USP (“Na mira do trote”, piauí_101, fevereiro). É absolutamente surreal que futuros profissionais da saúde, formados por uma das mais conceituadas universidades do mundo, usem métodos medievais, cruéis, abjetos e cretinos nos malfadados trotes. Custa a crer que tais coisas acontecem. Diante do que nos é relatado, acho até pequena a taxa de tragédias, chamemos assim, na “festiva” recepção dada aos calouros de medicina. Não sei como até hoje, pelo menos ao que se saiba, nenhum veterano foi alvo de represália do mesmo nível de imbecilidade, por parte de algum pai, aluno(a) ou parente de um calouro. Não sou nenhum super-herói, mas faria o possível para vingar um filho meu que sofresse tais brutalidades. Digamos que despertaria meu lado “veterano da USP” para concretizar tal intenção…
ANTONIO CARLOS DA FONSECA NETO_SALVADOR/BA
Quem convive no meio sabe que os recentes depoimentos acerca das práticas abjetas do trote universitário em São Paulo denunciam apenas parte de um problema intrínseco às faculdades de medicina. A bem da verdade, não há sequer consenso em ser o trote um problema. Há quem manifeste repúdio aos depoimentos, afirmando serem “tentativas de desmoralizar as universidades”. É no mínimo curioso observar a repercussão da CPI do Trote no ambiente universitário da medicina.
Faz falta uma abordagem ampliada que busque contextualizar tais práticas, já enraizadas e até defendidas publicamente por alguns, mesmo após descrições minuciosas que remetem à tortura. A relação de poder entre o veterano e o calouro é também reflexo da opressão que sofre o interno (estagiário dos últimos anos do curso), o médico residente, o doutorando. A violência em meio à formação médica, principalmente em São Paulo, é naturalizada, não parece sequer digna de ser combatida. Faz parte do currículo oculto.
DANIEL MONTANINI_CAMPINAS/SP
Apesar de não ficar surpreso, não deixa de ser estarrecedor o relato da reportagem “Na mira do trote”. O estudante que hoje pratica o crime e se esconde, covardemente, será o médico inconsequente que se protegerá com os melhores advogados quando seu delito – na prática médica – for extensivo à sociedade. As omissões, de USP a CRMs, continuarão. A conduta dos diretores dos órgãos educacionais é frágil, tanto por desconhecimento e surpresa, quanto por relutância em expor o nome da instituição de ensino à qual pertencem. Vi isso de perto em situação na qual o próprio professor era o agente criminoso em caso de assédio sexual. Na dúvida, culpa-se a vítima.
ADILSON ROBERTO GONÇALVES_CAMPINAS/SP
PIAUÍ NO CARNAVAL
Depois de ficar com borboletas indignadas voando no meu estômago por não ter digerido a carne da Friboi, tive que conter uma violenta onda de tristeza – estilo Florbela Espanca e outros poetas portugueses – com a reportagem sobre a violência na Faculdade de Medicina da USP. Tirei o Carnaval para ler a piauí, já que os textos enormes exigem horas de leitura, e me deparei com essas duas excepcionais reportagens. São leituras tarja preta que exigem preparo emocional e uma aconselhável meditação posterior, para se retomar o espírito de compaixão evocado por mestres como o Dalai-Lama.
JULIANA RADLER_PARATY/RJ
Ah, aquela sensação de dizer: tô de piauí nova! Linda capa. Demorei um pouco pra sacar, mas quando entendi rolou aquele “ohhhh…” de admiração. Sempre sinto muita preguiça ao ler sobre políticos: Kátia Abreu diz que não existe latifúndio no Brasil, segundo o texto “Onde está Dilma?” (piauí_101, fevereiro); ela não é apoiada nem pelo gigante dos frigoríficos nem pelos pequenos produtores, sem-terra e movimentos ecológicos, como mostra a reportagem “O estouro da boiada”, e ainda por cima posa para a foto vestida de verde. Desencana. Ótima reportagem sobre a boiada bilionária, só assim para poder imaginar o interior de uma casa dos Jardins.
FERNANDO JORGE SANCHES_SÃO PAULO/SP
É inacreditável, mas perdi 100 edições da piauí! Sim, mesmo vendo aquela revista de tamanho avantajado, destacando-se entre muitas na banca de jornal, confesso que nunca tive vontade de ao menos folhear alguma edição. Ao ver a edição 101, resolvi comprar e me arrependi de não ter comprado antes! O.k. Não tem problema, já fiz minha assinatura e espero não perder nenhuma edição daqui pra frente. Ah, sobre a edição 101, palmas para a matéria do trote na USP. Já pensou ser atendido por um médico que torturou seus próprios colegas e foi praticante do pascu?
PETUEL PREDA_SÃO PAULO/SP
LAERTE E WOLINSKI
Como é bom ler (e ver) Laerte. Especialmente falando do ataque ao Charlie Hebdo. Seu humor autodepreciativo e inteligentemente debochado, e, por que não dizer, sua genialidade, me levam a crer que se trata da maior cartunista do Brasil. A piauí não poderia encontrar maneira melhor de abordar o tema do Charlie do que com os quadrinhos assinados por Laerte na despedida da edição 101, somados às charges de Wolinski e aos microcontos de Reinaldo Moraes. Pois não há jeito melhor de tratar de um atentado ao humor utilizando-se de… humor!
TITO BITTENCOURT GUEDES_NITERÓI/RJ
A releitura do Wolinski está ótima! Reinaldo Moraes mostrou-se muito criativo… tão criativo que eu gostaria de perguntar à Redação se nós, leitoras, temos direito de levá-lo para casa…
ANGELA MARTINS_BELO HORIZONTE/MG
NOTA DA REDAÇÃO: Cara Angela, o Reinaldo Moraes agradece seu apreço pelo texto dele e manda dizer que está estudando seriamente a sua proposta. Já a mulher dele pergunta quando vocês, leitoras, vão mandar a passagem, só de ida.
Onde é que o Reinaldo Moraes estava com a cabeça? No jornalismo estamos acostumados com a foto-legenda, mas é a primeira vez que leio uma ilustração-legenda. Que ideia infeliz. Deixou as charges do Wolinski totalmente sem graça. Faltou um editor para alertar que a ideia não era boa. Mando meu currículo?
UOSTER ZIELINSKI_BELO HORIZONTE/MG
MÉXICO
O México tem muitas semelhanças com o Brasil, em especial as suas novelas, a paixão pelo Fusca, fãs do Chaves, indígenas folgados, seus políticos medíocres e a violência (“Os 43 que faltam”, piauí_100, janeiro). Quarenta e três é apenas a soma de poucos num total de muitas centenas de pessoas que morrem todos os anos para que o burguês consiga curtir seu barato na balada do Leblon e o noiado possa consumir sua pedra na Cracolândia. É assim, enquanto morre de um em um, de dois em dois ou de três em três, tudo é normal, mas quando a soma passa de dez tudo se torna midiático e horroroso. Se pensarmos melhor, porém de um em um, morre-se mais do que em dez em dez!
Na onda dos números, a piauí_100 representa a vitória de uma revista que soa como comunista, mas respira ares de uma república capitalista. Parabéns, revista piauí, 100 edições.
THIAGO COELHO DA CUNHA_CUIABÁ/MT
NOTA DA REDAÇÃO: Boa parte de nossos repórteres pouco liga se soa anarquista, stalinista, petralha ou coxinha. O que eles querem mesmo é respirar os ares de uma ilha caribenha. Se for uma república, ótimo, mas eles também topam monarquia, ditadura asiática, feudalismo. O essencial é que sirvam aqueles drinques com guarda-chuvinha.
NOVA YORK
Ah, que prazer este texto primoroso sobre o bar McSorley’s (piauí, janeiro)! Deu quase para sentir o ar impregnado de cerveja morna, mofo e cebola. Se um dia for para Nova York, com certeza tomarei uma lá, meio de canto, só espiando. Fica aqui um pedido: seria incrível a revista do pinguim publicar um dos textos de João do Rio, que tinha um olhar ímpar para observar o Rio de Janeiro do passado.
PEDRO CARLOS LEITE_BOITUVA/SP
PIAUÍ 99
Graças aos textos “A esquerda encapuçada” e “O amor em seus abismos”, a piauí_99 (dezembro 2014) me fez procurar desesperadamente por informações sobre o processo de inscrição para os cursos da Casa do Saber. Tenho de confessar que, antes, apenas o Manhattan Connection havia me causado tal angústia. É impossível suportar minha falta de erudição e de inteligência.
CLÁUDIO KUPIDLOWSKY FERNANDES_BELO HORIZONTE/MG
Sou assinante da piauí há alguns anos e quase todos os meses fico com vontade de escrever uma carta comentando alguma reportagem. Aí deixo para escrever depois, acabo esquecendo, chega a próxima edição e eu desisto da ideia. Mas desta vez não pude deixar de cumprir essa “missão”, como diria Paulo Henriques Britto.
Gostaria de comentar o relato da Helena Gayer sobre sua experiência como bipolar (“Velocidade máxima”, piauí_99, dezembro 2014). Assim como a Helena, sou portadora de um transtorno mental crônico. Apesar de não ser bipolar (tenho transtorno depressivo recorrente), me identifiquei profundamente com o texto. Minhas crises não foram tão graves nem cheguei a ser internada, mas os sentimentos descritos pela Helena se parecem muito com os que tenho experimentado em minha vida.
As alucinações, as mudanças vertiginosas de humor, o comportamento irracional, a falta de autopreservação, a autoimagem completamente deturpada. Não sei quantas vezes me pus em risco. Assim como você, Helena, alguns episódios se perderam na minha memória, e acho que foi melhor assim, pois eu não conseguiria conviver com determinadas lembranças.
Também entendo perfeitamente o que é não ser compreendida, as pessoas não terem ideia do que está acontecendo comigo e de como lidar. Ler seu relato me fez sentir um pouco menos sozinha.
MARIANA PEREIRA DE CASTRO_BRASÍLIA /DF
MISSIVISTA CONTUMAZ
Já repararam que o Dirceu Luiz Natal escreve – sem falta – cartas sobre todas as edições da piauí? (Tá, eu não fui conferir todas, mas ele certamente escreve mais do que muito “repórter da piauí” que aparece na seção Colaboradores.) Em geral, suas cartas contribuem para o debate, mas na edição 100 ele forçou a barra. Escreveu uma microrresenha burocrática, estilo resumo de filme em site de programação de cinema, de uma matéria que, diante de outros temas mais polêmicos, dificilmente receberia muitos comentários. Será que foi uma artimanha para garantir sua marca na histórica 100ª edição?
Olha, Dirceu, foi mal, mas, com tantas cartas assim, você pensava que nós, os demais missivistas, o ignoraríamos por quanto tempo? piauí, ele tá merecendo até uma menção honrosa na seção Colaboradores. Tipo “Dirceu Luiz Natal [Cartas, p. 60] é o missivista mais assíduo de piauí.” De repente cabe até uma esquina com o perfil do nosso colega.
GUSTAVO LAET GOMES_BELO HORIZONTE/MG
NOTA ROUBADA DA ASSESSORIA DE IMPRENSA DE PAULO MALUF: Dirceu Luiz Natal não escreve nem nunca escreveu cartas para piauí.
DECEPÇÃO
Passando os olhos pelos créditos, acabei por perceber o minúsculo anúncio indicando a existência da banca piauí, com todas as edições da mesma. Logo me animei, mas, ao chegar ao local, descobri que “todas as edições” eram sete ou oito que tinham sobrado, e que o espaço dedicado às mesmas era menor que o dos biscoitos, ainda que seu formato colossal não caiba em nenhuma estante. Era muito bom pra ser verdade.
EDUARDO PINHEIRO_NITERÓI/RJ
NOTA DA REDAÇÃO: Sabemos que não é a mesma coisa, mas se você pedir uma edição qualquer lá na banca eles mandam vir. O erro é nosso, que anunciamos isso, não deles. Do tamanho que é a nossa revista, se eles tivessem de armazenar todos os números, precisariam de um PAC governamental para expandir a área expositiva.