O gol de letra das capas e um punhado de elogios tardios
| Edição 107, Agosto 2015
SENSUALIDADE OSTENTAÇÃO
Mesmo que José Maria Marin e Joseph Blatter não sofram nenhuma punição, já estou satisfeito com a “pena” imposta aos dois pelas capas da revista (piauí_106, julho), obra de Nadia Khuzina. Gol de letra.
JOSÉ ANÍBAL SILVA SANTOS_TEÓFILO OTONI/MG
Senti muito por não ver entre as cartas dos leitores, nas últimas edições, nenhum elogio às ilustrações das capas recentes. A Carmen Miranda de Will Murai (piauí_104, maio) e aquela Mona Lisa de Maciej Urbaniec e Andrea Lauren (piauí_105, junho) ilustravam quase com perfeição o recheio das edições. Dessa vez, ao me deparar com toda a sensualidade de Marin e Blatter criados por Nadia Khuzina, eu não me aguentei e comecei a gargalhar antes mesmo de folhear a revista. Achei a princípio que fosse apenas uma boa introdução para The Fifa Herald, mas sem relação com o restante da revista. Depois, pensando melhor, me dei conta de que a admiração e o respeito que nutro pelos retratados são da mesma intensidade daqueles que tenho pela trupe matinal da rádio Jovem Pan (“A nova sinfonia paulistana”, piauí_106, julho), e aí tive que escrever a vocês: cá entre nós, Reinaldo Azevedo também ficaria uma gracinha na capa.
TIAGO MARIN_SÃO PAULO/SP
Gostaria de parabenizar a revista pela capa da edição de julho, mais uma para minha coleção. Tenho certeza de que no futuro as primeiras páginas de piauí terão o mesmo significado que hoje possuem as capas históricas de publicações como Life, Charlie Hebdo, O Pasquim.
Dito isso, tenho uma proposta de negócio para vocês. Nos últimos meses alguns leitores reclamaram do aumento do preço da revista. A Redação, de maneira um tanto pedante, justificou o aumento com uma série de lamúrias, do custo do papel ao preço das passagens aéreas utilizadas pelos repórteres. Que tal a revista comercializar a arte das capas para que seus fãs e apreciadores possam fazer quadros ou pôsteres? Seria uma fonte alternativa de receita, capaz de mitigar a necessidade
de futuros aumentos. Como mentor intelectual da ideia e com base no que aprendi com a antiga diretoria da Petrobras, eu ficaria com 3% dessa futura receita.
RODRIGO HOLANDA COSTA PIMENTEL_SÃO PAULO/SP
NOTA ESPANTADA DA REDACÃO: Mas só 3%? Será possível que você não aprendeu nada com a antiga diretoria da Petrobras?
ILUSÕES PERDIDAS
Se alguém ainda tinha alguma ilusão quanto a uma possível “oposição qualificada, no campo das ideias”, teve suas esperanças reduzidas a pó depois de ler o texto “A nova sinfonia paulistana” (piauí_106, julho). Uma análise dos personagens envolvidos deixa claro que ninguém ali quer qualificar nada, muito pelo contrário.
WASHINGTON FAZOLATO BARBOSA_DUQUE DE CAXIAS/RJ
Gostei da reportagem “A nova sinfonia paulistana” – como, aliás, de tudo o que leio na piauí, tanto que me tornei assinante de vocês. Mas fiquei com a impressão de que a “onda antipetista” virou sinônimo de “voz da direita”. Não se pode estar contra o PT e ser “de esquerda”? E que “direita” seria essa? Então Sarney, Collor, Maluf e similares – braços direitos do PT – agora são “de esquerda”? Senti certo maniqueísmo na abordagem da revista.
RICARDO SANTOS_VIÇOSA/MG
Senti falta, na reportagem que trata da rádio Jovem Pan, de uma análise sobre a participação do prefeito Fernando Haddad no programa de Sheherazade e Marco Antonio Villa. Na entrevista, o prefeito não precisou se valer de retórica vazia ou de argumentos baratos para convencer o público de que as ciclovias, a integridade de sua gestão, o apoio às travestis e aos dependentes químicos acontecem de forma estratégica e estudada. Os formadores de opinião, no entanto, buscam sempre desqualificar tudo que se refere ao Partido dos Trabalhadores e à esquerda, promovendo maniqueísmos demagógicos que em nada ajudam o debate político. Não existem falas mais estúpidas do que “Adote um bandido” e “Se um adolescente com 16 anos pode votar, por que não pode ser preso?”, repetidas pelos comentaristas. As divergências que tenho com eles, no entanto, nada têm a ver apenas com posições políticas, mas sim com os próprios argumentos, que eu considero simplistas, emotivos demais e, por vezes, mentirosos.
ANDRÉ LUIZ RODRIGUES_SÃO PAULO/SP
JUÍZO FINAL
A reportagem “Juízo final” me mostrou o quanto ainda preciso evoluir sentimentalmente. Aceitar a eutanásia de um familiar, nas condições descritas, seria impossível para mim. O texto me fez lembrar de um grande amigo, que no funeral de seu pai não derramou uma lágrima sequer. Mais tarde esse amigo argumentou que a morte é apenas o começo da felicidade eterna, depois que termina a dor.
THIAGO COELHO DA CUNHA_CUIABÁ/MT
Que os deuses da mídia impressa me livrem de virar um desses leitores chatos que todo mês acha um ganchinho para escrever mais uma carta. Depois de ler a piauí de novembro do ano passado, me arrisquei a mandar uma, estimulada pelo relato pessoal sobre amamentação (“Leite”, piauí_98, novembro). Publicaram a carta quase na íntegra – e fiquei “toda inchada”, como dizia uma tia minha.
Agora, com a edição de julho nas mãos e nos olhos (recebi a capa mais feia das duas!), outra história pessoal (é do que mais gosto) me abala e me deixa em grande dúvida. O caso da doutora Sandy Bem (“Juízo final”, piauí_106, julho) e sua decisão – radical e respeitável, mas polêmica – me balançou em convicção antiga, e não consigo chegar a uma conclusão. Logo eu, que sou a favor da eutanásia assistida e acho o suicídio, quando consciente, um ato de coragem. Mas a turma de amigos dela eu não queria para mim. Acho que ia preferir um pessoal em volta que me ajudasse a viver. Sei lá, estou confusa até agora.
Mas duas outras matérias na revista não me deixaram confusa de jeito nenhum: a de Julia Duailibi (“A nova sinfonia paulistana”), excelente, documentada, todas as citações nos lugares certos, cujo recorte sobre Tutinha vale, ele só, por um livro inteiro. E a poesia de Ana Martins Marques. Há anos, para não dizer décadas, desde Adélia Prado, não lia nada melhor nem igual. Segurei o ar e fui lendo, lendo, até o “Último poema”. Daí soltei o fôlego, abalada, surpresa, emocionada, encantada. Quem é essa Ana Martins Marques? Quero saber mais, quero saber muito! Aguardo o seu próximo livro com o coração batendo forte.
CECILIA THOMPSON_SÃO PAULO/SP
NOTA DA REDAÇÃO: Quem é Ana Martins Marques? Uma grande poeta e boa amiga da piauí. É a quinta vez que ela cede os seus poemas à revista. Além do último número, eles apareceram nas edições 68, 74, 88 e 100. Dê um pulo no nosso site, Cecilia, e perca o fôlego.
FIM DA PRIVACIDADE
Oportuna a reflexão feita pelo jornalista Sérgio Dávila (“Jornalismo e um punhado de dólares”, piauí_106, julho) sobre o pagamento de dinheiro às fontes jornalísticas. À velha guarda do jornalismo, parece estranho pagar por informação. E Dávila faz questão de dizer que o WikiLeaks é uma organização que milita e tem agenda própria, de modo que os parâmetros éticos que regem as empresas jornalísticas não seriam válidos para ela. O que há de errado nisso?
Forja-se um poder alternativo no território antes ocupado apenas por jornais e governos. Por isso os antigos preceitos morais não cabem mais. A concepção radical do WikiLeaks, de que se deve publicar tudo, sem ressalvas ou pudores, é tão somente o espírito de nosso tempo. A derrocada final da privacidade e de seus critérios é a base do que se poderia chamar “uma ética dos hackers”. É assustador, mas é uma realidade que veio para ficar.
HAROLDO HEVERTON SOUZA DE ARRUDA_SÃO PAULO/SP
AMIGO É PARA ESSAS COISAS
Amigo É pra Essas Coisas é uma música de Aldir Blanc e de Silvio da Silva Jr., este último omitido na Esquina sobre Maria Vilani Maia Fu e seu karaokê na Feira de São Cristóvão (“Regras para desafinar”, piauí_106, julho). E qual é a importância disso para o texto? Acho que nenhuma. Apenas, como amigo do Silvio da Silva Jr., fiquei triste de não ver o nome dele citado como compositor de seu único sucesso. Viva a revista piauí!
ODONE BISAGLIA FILHO_RIO DE JANEIRO/RJ
NOTA DESAFINADA DA REDAÇÃO: Odone é a prova de que amigo serve para um monte de coisas – dentre as quais encabular todo um departamento de checagem. Foi mal, Silvio.
DIÁRIO DE UMA ADOÇÃO
Desde que assinei a revista, me impressiono com as matérias e me divirto com a seção de cartas. E mesmo com tanto amor nunca achei que escreveria para vocês.
Mas, ao ler o relato do Gilberto Scofield Jr. (“Diário de uma adoção”, piauí_105, junho), fiquei emocionada, perplexa, apaixonada! Precisamos conhecer a realidade do sistema de adoção e das crianças que aguardam por adoção no Brasil. Precisamos desse jornalismo que informa. Parabéns ao jornalista pela perseverança, coragem e capacidade de amar de forma tão sublime.
CINTHIA RAQUEL DE FRANÇA RODRIGUES_JOÃO PESSOA/PB
PARA QUE POESIA?
Solicito a devolução da quantia de 1 real, correspondente às paginas 70 a 75 da piauí_105, de junho, com os poemas de Arnaldo Antunes. Não valem nada, melhor seria se tivessem vindo em branco: pouparia tinta. Poesia? Nada, pura empulhação. O autor pode escrever o que quiser – mas vocês publicarem? Aí é demais.
ARCOLAU ANTONIO BENDER_SANTA MARIA/RS
NOTA POÉTICA DA REDAÇÃO: Caro Arcolau, não se zangue, “o amor é isso que você está vendo:/hoje beija, amanhã não beija,/depois de amanhã é domingo/e segunda-feira ninguém sabe/o que será”. Em benefício do poeta e da Redação, lembre-se de que “lutar com palavras/é a luta mais vã”. Amanhã recomeçamos.
MISTÉRIOS
A cada edição fico mais encucado sobre como os nobres leitores de tão egrégia revista transmutam-se em missivistas fervorosos. Não tanto pelos assuntos, sempre relevantes, mas pelo aspecto temporal: como conseguem terminar a leitura da revista a tempo de emplacarem comentários na edição seguinte? Cá estreio neste espaço, com a certeza do atraso, para elogiar o texto de Dulce Maria Cardoso (“O coração do meu mundo”, piauí_105, junho). Com palavras leves e um delicioso sotaque d’além-mar, ela nos presenteou, os leitores, com uma bela reflexão sobre a vida, aquilo que acontece nos pequenos detalhes.
IURI DE CASTRO TÔRRES_BRASÍLIA/DF
NOTA DA REDAÇÃO: Compartilhamos da tua perplexidade, Iuri. Marque a opção que te parece mais plausível. Nossos leitores são: (a) ases da leitura dinâmica?; (b) insones?; (c) loroteiros?; (d) desocupados?; (e) políticos em recesso?
SEGREDO DE ESCOBAR
Quando recebi a revista e vi a chamada “Piketty encontra Machado de Assis”, não conseguia imaginar uma ligação possível entre os dois. Ao ler “O segredo de Escobar” (piauí_105, junho), fiquei impressionado com a genialidade do autor por ligar figuras tão distintas e conseguir explicar o mistério do livro a partir da pesquisa de Piketty. Fantástico! Também gostei de ler o “Diário de uma adoção” (piauí_105, junho), e não tive como não me emocionar. História lindíssima de luta contra a homofobia e o racismo, e que mostra como a sociedade brasileira é conservadora. Parabéns ao autor do texto pela coragem. Todo o amor do mundo para a sua família.
GUSTAVO RIGONATO_AMERICANA/SP
Achei fenomenal a matéria sobre a força de Escobar em Dom Casmurro (“O segredo de Escobar”). Nunca havia pensado sobre isso, mas me parece perfeitamente verossímil – além de genial – que Machado de Assis tenha escrito sua obra considerando esse viés socioeconômico. Sempre tive a opinião de que Capitu não havia traído Bentinho, e agora tenho razões a mais para continuar acreditando nisso.
GUILHERME BERNARDI_LONDRINA/PR
SINAIS, CONSPIRAÇÕES
Tenho a impressão de que, na edição de junho (piauí_105), há explícitos diálogos entre os textos, de forma intencional ou não. As literais cláusulas pétreas da origem de nossas ferramentas – feitas de pedra –, na Chegada de Bernardo Esteves (“Uma oficina de 3,3 milhões de anos”), fazem um contraponto às viagens psicodélicas com drogas em “Doce remédio”, de Michael Pollan. Os relatos interessantes da seção Esquina também fazem referência a fumos alucinógenos, de um lado, e a rochas irlandesas, de outro. Até a capa participa desse diálogo lítero-psicotrópico, com a imagem de uma Mona Lisa praiana se apoiando em nuvens oníricas feitas de cristais – e um cristal é quase uma pedra.
ADILSON ROBERTO GONÇALVES_CAMPINAS/SP
NOTA SUSSURRADA DA REDAÇÃO: Achamos que ninguém fosse perceber, Adilson. Isso posto, você pode nos passar discretamente o contato de quem descola o que você toma quando lê a revista?
ELOGIOS TARDIOS
Terminei de ler a edição de maio (piauí_104) com certo atraso, mas não gostaria de deixar passar minha relevante impressão: que baita edição! Um convescote que reuniu Beatriz Sarlo (“Uma estrangeira nas ilhas”), Rafael Cariello e seu excelente perfil de Evaldo Cabral de Mello (“O casmurro”), o comentário saboroso do Roberto Schwarz sobre o livro do Sérgio Ferro (“Artes plásticas e trabalho livre”), a matéria indigesta de Andrew Marantz sobre o rei dos memes (“O cara dos virais”), finalizando com nosso pai do “nhenheco” Reinaldo Moraes (“A grande sinuca celestial”) e uma pitadinha da igualmente deliciosa Fernandinha Torres (“Tia Barbara, a temível”). Foi de lamber os beiços.
LEONARDO PÁDUA_SÃO PAULO/SP
Estava lendo “The Shadowy Residents of One Hyde Park”, reportagem que saiu na Vanity Fair em 2013, e me lembrei muito da matéria recente da Daniela Pinheiro sobre os brasileiros de Miami (“A Xangrilá dos descontentes”, piauí_104, maio). O modus operandi, o provincianismo, o frenesi pelos metros quadrados. A história dos super-ricos de Londres me pareceu o outro lado da moeda, a continuação lógica algumas ordens de grandeza depois. As offshore, a evasão de divisas, a mudança do centro de gravidade das grandes fortunas dos financistas para os exploradores de grandes concessões de commodities em países do Terceiro Mundo. É de chorar. A riqueza deveria vir com um teste de QI e outro de maturidade intelectual.
CÁSSIO LOREDAN BARBOSA_BELÉM/PA