Inebriado, um leitor pede a revista em casamento
| Edição 108, Setembro 2015
ALGOZES OU REFÉNS?
Fantástica a edição de agosto da revista. Não consegui largar a piauí_107 o domingo inteiro. Fazia tempo que isso não acontecia. Na reportagem “Em águas profundas”, de Malu Gaspar, me senti como se estivesse presente às reuniões, testemunha dos conchavos políticos, tamanho o grau de detalhamento e a clareza do texto – um sentimento, aliás, que também tive ao ler o livro Tudo ou Nada, da mesma autora. A reportagem “Solidariedade fatal”, de Armando Antenore, também me tocou profundamente.
A matéria de Daniela Pinheiro, “Eu era o melhor”, é boa – mas eu esperava mais. Senti falta de outros pontos de vista, talvez dos filhos do médico, ou da sua irmã. A piauí sempre procurou ouvir todos os lados de uma história, dando a mesma ênfase e espaço para todas as versões, de modo que o leitor pudesse tirar suas próprias conclusões. Cito como exemplo a reportagem sobre a médica acusada de desligar os aparelhos de pacientes terminais na UTI de um hospital (“A doutora”, piauí_81, junho 2013). Ao terminar aquele texto, abandonei o prejulgamento que havia feito sobre a médica. O mesmo não aconteceu com a reportagem sobre Roger Abdelmassih. A propósito, se esta mensagem for publicada, estarei emplacando a minha terceira carta na revista. No programa Fantástico quem faz três gols na rodada pede música. Na piauí ganho um pinguim?
RODRIGO HOLANDA COSTA PIMENTEL_SÃO PAULO/SP
NOTA LÓGICA DA REDAÇÃO: São três gols numa só partida, não em três partidas diferentes (isso até o Vasco faz). Quando você emplacar três cartas numa só edição, conte com o pinguim.
Com a reportagem “Eu era o melhor” (piauí_107, agosto), sobre o médico Roger Abdelmassih, finalmente a síndrome de Estocolmo chegou ao jornalismo.
MARCIO MASCARENHAS_RIO DE JANEIRO/RJ
PEDIDO DE CASAMENTO
Depois de ler a brilhante edição de agosto, só tenho uma coisa a dizer: piauí, casa comigo?
STHEFANO VENGA PEREIRA_UBERLÂNDIA/MG
NOTA DO DEPARTAMENTO DE ZOOLOGIA: Pinguins são monogâmicos.
A piauí_107 estava espetacular! Vocês estão de parabéns. Todas as matérias estão ótimas. E as ilustrações do Andrés Sandoval para a seção Esquina, hilárias.
LEONARDO GANDARA_BELO HORIZONTE/MG
CIÊNCIA E CENTAVOS
Quero cumprimentar a doutora Suzana Herculano-Houzel pelo seu senso de humor, dom que descobri graças ao artigo “AT xT1/2 = k x AE5/4” (piauí_107, agosto). Trabalho na mesma universidade que ela, sou cria integral da UFRJ e venho assistindo à sistemática demolição da instituição. A “pátria educadora” é apenas mais uma falácia de cleptomaníacos demagogos. Somos quase vizinhas no campus, estou em final de carreira, embora nem tenha chegado aos 60 anos, e por isso mesmo posso oferecer à doutora Suzana os meus serviços… como faxineira. Fiz pesquisas, entendo perfeitamente suas dificuldades de trabalhar num ambiente impróprio, e me proponho a colaborar, mantendo banheiros e laboratórios limpos.
MARIA J. LAZAREVIC_RIO DE JANEIRO/RJ
MAIS SINAIS, NOVAS CONSPIRAÇÕES
Respondendo a vossa sussurrada pergunta (Cartas, piauí_107, agosto) – sobre o que tomo ao ler a revista para nela encontrar “explícitos diálogos” entre os textos –, eu tomo água, café e uma overdose de conhecimento quando leio piauí. E compro tudo no mercado da esquina, com nota fiscal e impostos pagos. Desta vez, porém, a leitura foi acompanhada de lágrimas ao saber da história e do fechamento da livraria Leonardo da Vinci (“Cerimônia do adeus”, piauí_107, agosto). De toda forma, creio que vocês introduzem de propósito na revista elementos que alimentam teorias conspiratórias. Tenho certeza de que foi com esse intuito que mencionaram a morte de Andrei Duchiade, fundador da Leonardo da Vinci, por picadas de abelhas. Isso porque, páginas antes, Armando Antenore havia feito um vívido relato sobre outro ataque desses mesmos insetos (“Solidariedade fatal”, piauí_107, agosto). Espero não ter sido abelhudo nessas constatações e nem gostaria que ficasse a impressão de que estou fazendo cera para terminar a missiva.
ADILSON ROBERTO GONÇALVES_CAMPINAS/SP
NOTA DA REDAÇÃO: Estamos perplexos com esse esplêndido enxame de metáforas. Um nosso repórter metido a poeta ficou picado de inveja.
ABELHAS DE JARINU
Brilhante a reportagem de Armando Antenore (“Solidariedade fatal”, piauí_107, agosto). Um mix perfeito de ciência e espiritualidade. Casos como o narrado nos enriquecem. As pessoas, hoje, estão precisando mais disso.
GILSON MARINHO LUZ_ITAOCARA/RJ
Fui picado em 1991 por umas duas dezenas de abelhas. Eu residia, naquela época, em um acampamento evangélico. Onde se localizava? Justamente no município de Jarinu, em São Paulo, onde se passa o ataque narrado por Armando Antenore em “Solidariedade fatal”.
A água na casa estava com um cheiro esquisito, e de vez em quando uma abelha saía pela torneira. Cometi o desatino de subir à caixa d’água para verificar o que estava acontecendo. Era uma dessas caixas em alvenaria, estreita, com uma escada vertical de acesso. Comecei a mover a tampa de cimento – e as abelhas vieram. Havia uma colmeia dentro da caixa d’água. Por sorte consegui descer por aquela escada íngreme, e umas poucas abelhas envolveram minha cabeça. Pelo que minha esposa contou, ao tirar os ferrões, 25 delas me picaram. Foi apenas um susto.
Gostei das explicações do repórter. Senti muito a morte de um cidadão de Jarinu, como também lamentei o drama de sua mulher, agora viúva.
FLÁVIO MORAES DE ALMEIDA_CUNHA/SP
FALÊNCIA TOTAL DA PARÓDIA
A paródia visual é um recurso muito rico da comunicação e do humor gráfico, mas uma boa analogia visual tem que ser compreendida por si só. Quando uma publicação precisa explicar a origem da imagem inicial, é a falência total da paródia. Foi o caso da capa da edição 106, em julho, e de sua esforçada tentativa de juntar a imagem de José Roberto Marin com a de Demi Moore. A revista precisou se valer de um texto e de oito imagens auxiliares para ajudar o leitor a entender a montagem. Comunicação visual não pode vir acompanhada de manual de instruções.
Quanto aos textos da piauí, esses continuam muito bons.
SANTIAGO [NELTAIR ABREU]_PORTO ALEGRE/RS
O DILEMA DO EDITOR
Concordei com muito do que o Alejandro Chacoff disse sobre o James Salter e tudo (“O dilema de Salter”, piauí_106, julho). Se as pessoas não leem o que Salter escreve, pior para elas. Agora, bicho, a New Yorker adora um sure shot, hein? Espero que a piauí adote dela apenas o departamento de checagem e as reportagens longas. Pensem assim: “Se o Reinaldo Moraes fosse um autor iniciante, nos seus 20 e poucos anos, e tivesse acabado de escrever Pornopopéia, eu o publicaria?” As regras da “brotheragem” ditam que a resposta deve sempre ser SIM, anytime, love. E, acima de tudo, por favor não diluam a prosa de ninguém com solvente só para satisfazer algum house style estúpido. Se o autor omitir uma vírgula ou escrever uma sentença longa demais, deixem assim.
VICTOR TEODORO_SÃO PAULO/SP
NOTA NO HOUSE STYLE DA REDAÇÃO: Victor, bicho, estamos totally de acordo com você, e não apenas porque as regras da brotheragem assim exigem. Repare[1] que o próprio Alejandro Chacoff – que hoje já publica em revistas estrangeiras e critica com empáfia a New Yorker – está longe de ser um sure shot. Fomos os primeiros a apostar nos textos do rapaz. Ou, como preferimos dizer em piauispeak: “Quem apostou primeiro no rapaz?”, perguntou o leitor, palitando os sisos. Era uma tarde fria de janeiro. Pondo os sapatos sobre a mesa, o editor, que vestia calça bege e camisa azul, respondeu: “Nós. We were the first ones.”
JUÍZO FINAL
Sou leitor da piauí há pouco tempo. Fui atraído pelos perfis de matemáticos que lia no site. Desde que fiz a assinatura, nenhum outro perfil desse tipo foi publicado, mas a revista me conquistou. Na reportagem sobre a psicóloga que decide abreviar a própria vida por causa do Alzheimer (“Juízo final”, piauí_106, julho), eu me senti como o marido dela, Daryl, quando ele finalmente se dá conta do que aconteceu. No sentido de que, caramba, ela tirou a própria vida! Tem que ter uma coragem enorme para isso.
EDIVAGNER BATISTA FERREIRA_ICÓ/CEARÁ
VIVA PRESLEY
Vida longa às ararinhas-azuis – e tomara que, depois de tanto esforço de ornitólogos e amantes da natureza, elas finalmente consigam se reproduzir em cativeiro e salvar a espécie da extinção. Ainda assim chamou minha atenção, na reportagem “Presley não morreu” (piauí_106, julho), a imensa quantidade de recursos alocados num projeto específico, que demanda a mobilização de especialistas de vários continentes para salvar a todo custo um pássaro doente que praticamente já atingira o limite de sua existência (40 anos). Somando os recursos gastos nessa custosa operação de salvamento do Presley, com certeza poderiam ser preservadas diversas outras espécies em risco de extinção. Mas, é claro, elas não renderiam um emocionante relato na piauí.
DIRCEU LUIZ NATAL_RIO DE JANEIRO/RJ
Sensacional a saga do bichinho azul (“Presley não morreu”). A fisioterapia do Presley me lembrou a do lutador Anderson Silva em seus piores dias, de tíbia e coração partidos.
MARCELO DUNLOP_RIO DE JANEIRO/RJ
A DISTÂNCIA
Acabo de fazer aniversário e uma das minhas resoluções foi elogiar mais as pessoas, os livros, as revistas – enfim, tudo de que gosto muito. Assim, queria dizer que sou fã da piauí. Adoro o Diário da Dilma. Confesso que às vezes não entendo certos fatos ou nomes, já que moro fora do Brasil há muitos anos. Então, pergunto à mamãe, ao cunhado, às tias, irmãs – ou ao Google – para maior esclarecimento. Esse é o meu “momento Brasil” mais apreciado. Como dependo de doações de exemplares da revista, a família vai me mandando conforme possível. Acabo de receber o de número 102 e também a edição 106, de julho. Da piauí_102 (março), me deliciei com o artigo “Outra história americana”, da Daniela Pinheiro, e, no número 106, com o “The Fifa Herald”. Mamãe me disse que fico rindo porque não moro aí, e que na verdade deveria chorar com essas reportagens. Aprendi a curtir a piauí com o meu falecido pai, que também se sentia órfão da imprensa brasileira até a chegada dessa maravilhosa revista. Parabéns! Pensando bem, acho que agora deveria tomar duas providências: assinar a revista online e conseguir o e-mail do Renato Terra, ghost-writer da presidenta, para tirar as minhas dúvidas diretamente com ele. O que vocês acham?
MARIA AMÉLIA DE SOUZA RANGEL RESENDE_CIDADE DO MÉXICO/MÉXICO
NOTA ÀSPERA DA PRESIDENTA: Minha querida, você parece ser boa menina e não tem nada a ganhar conhecendo esse Renato Terra. Trata-se de um carreirista que vive a mercadejar a sua proximidade comigo. Não me espantará se for filiado ao PMDB. Mantenha-se longe. Quando achar que já se afastou o suficiente, dobre a meta.
[1] Ou, em inglês, Take notice, informação desnecessária inserida aqui só para justificar esta notinha de rodapé em homenagem a Foster Wallace.