cartas_120
| Edição 120, Setembro 2016
A IMPLOSÃO DO NINHO
O triunfo efêmero de João Doria, semelhante a Trump, está mais relacionado a suas, digamos, relações interpessoais, do que a partidos e ideologias (“A guerra do cashmere”, piauí_119, agosto). Julia Duailibi apresenta esse questionamento, quase idiossincrático, mas creio que é na força da Opus Dei associada à maçonaria que reside a implosão gerida pelo guardião-mor, governador do estado. Premiado e premido pela questão hídrica, Geraldo Alckmin está apoiando essa candidatura como forte balão de ensaio para suas pretensões presidenciais. E tudo nos chega como se fosse a renovação política em curso na metrópole. Ignorantes e imbecis, vamos abençoar mais um senhor feudal.
ADILSON ROBERTO GONÇALVES_CAMPINAS/SP
O governador Alckmin deveria ter saído do PSDB desde a traição de José Serra contra ele na campanha para prefeito, quando o atual chanceler apoiou descaradamente Gilberto Kassab. Isso foi coisa de partido? Onde estavam sombras como Alberto Goldman e José Aníbal? Sombras, pois não têm luz própria, vivem do resultado de terceiros, como Andrea Matarazzo, que se orgulha de seus 27 anos de psdb e na primeira derrota cai nos braços de Kassab para ser vice de Marta Suplicy. Geraldo, sim, é homem de partido, aguentou sucessivas traições e puxadas de tapete, o partido em São Paulo existe por sua causa.
MARCOS UGEDA_SÃO PAULO/SP
Sou leitor da piauí desde a primeira edição. Compro na banca, pois gosto de ir ao local. Porém, a foto do J.R. Duran no perfil do João Doria me fez pensar em assinar a revista. Uma obra-prima.
SANDRO HENRIQUE PEIXOTO_ARMAÇÃO DOS BÚZIOS/RJ
PIAUÍ_119
A edição de agosto está muito boa, com assuntos atuais e abrangentes. Julia Duailibi nos brindou com um trabalho cheio de nuances (“A guerra do cashmere”), penetrando no mais recôndito da alma tucana. É incrível como o PSDB luta contra o PSDB. Eles não se acertam. Debaixo da fleuma tucana, de seus jantares, vinhos raros e finos, podemos ver a guerra de falcões, ávidos por poder e reconhecimento. Esta próxima eleição só confirma a tendência tucana de embates.
Tivemos ainda duas ótimas matérias sobre a saída do Reino Unido da União Europeia. É difícil para nós, moradores e viventes da América do Sul, avaliar o real impacto de tal decisão. Para fechar meus não tão parcos comentários, devo dizer que a matéria de Ben Taub (“O arquivo Assad”) expõe de maneira cruel e absolutamente verdadeira os desmandos e terrores que fazem parte da rotina dos sírios. Confesso que sempre imaginei que a Síria vivesse sob um império ditatorial e nefasto, mas Bashar al-Assad superou, em muito, o que dele eu esperava e/ou imaginava. O homem sempre se mostrou desprezível em vários aspectos da história da humanidade, mas a crueldade, a tibieza e a frieza com que age em seus domínios só podem nos envergonhar de sermos humanos.
ANTONIO CARLOS DA FONSECA NETO_SALVADOR/BA
FASCISMO LIGHT
O relato de Rafael Cariello de seu frustrado almoço com o respeitado jornalista inglês do Financial Times Martin Wolf, velho conhecido nosso por seus preciosos textos semanais no Valor Econômico, nos oferece uma análise profunda do que realmente ocorreu na surpreendente decisão do Brexit (“Sem almoço no FT”, piauí_119, agosto). A campanha pelo Leave acabou por ser a vencedora, contrariando prognósticos e frustrando sobretudo os mais jovens, que deixaram de comparecer às urnas, subestimando a aliança de setores mais atrasados da classe trabalhadora com a direita xenófoba. Outra análise precisa é a do jovem filósofo Tom Whyman (“Nenhum país é uma ilha”, piauí_119, agosto), que se sentiu nocauteado pelo Brexit e faz um prognóstico muito pessimista dessa ruptura, principalmente pelos males que atingirão a economia do Reino Unido, reduzindo as oportunidades no mercado global da União Europeia.
DIRCEU LUIZ NATAL_RIO DE JANEIRO/RJ
Gostaria de parabenizar Rafael Cariello por seu maravilhoso texto “Sem almoço no FT”, construído em torno da entrevista com o jornalista Martin Wolf, analista econômico do Financial Times. O refinamento da escrita que o repórter nos entregou potencializou ainda mais a clareza das ideias de Wolf.
Para quem faz da escrita seu ofício, observar o resultado final do trabalho de Cariello, certamente fruto de um artesanato de grande dificuldade, que tomou tempo e requereu lapidação, é sempre alentador, porque traz a certeza de que é possível mesclar à forma do texto a importância e a força das ideias que se quer desenvolver – e essa propriedade é fundamental inclusive para que possamos construir para nós mesmos a organicidade necessária à expressão escrita do nosso pensamento. Obrigada, Rafael Cariello, pelo melhor texto que li este ano na piauí. Seu jejum não foi em vão…
ANA FLÁVIA GERHARDT_VOLTA REDONDA/RJ
NOTA DO DEPARTAMNETO DE NUTRIÇÃO: Rafael Cariello está passando uma temporada em Paris, onde, como se sabe, não há alma que jejue. Nesse sentido, a ida a Londres provavelmente foi terapêutica. Suspeitamos que o homem esteja uma baleia.
MILAN ALRAM
Ao ler a despedida da última edição (“Rio em obras”, piauí_119, agosto), emocionou-me o trabalho de formiguinha de Milan Alram ao longo de todas essas décadas, documentando as transformações do Rio de Janeiro. Uma cidade que, quase por definição e falta de opção, se vê sempre com nova cara. Numa era de reestruturação forçosa e massiva do Rio para se tornar palco de megaeventos, será que há alguém como ele zelando pelo passado e pelo presente da metrópole? Alguém que esteja registrando as remoções, bota-abaixos, VLTs, bulevares e arranha-céus da gestão de nosso Pereira Passos da era da internet?
DANIEL SALGADO_RIO DE JANEIRO/RJ
NA ILHA COM DARWIN
Como sempre, Vanessa Barbara foi genial e me possibilitou fazer um paralelo entre a seleção natural e a sobrevivência do jornalismo (“No zoológico de Darwin”, piauí_119, agosto). Se antigamente sobrava dinheiro para que as tevês, revistas e outros veículos mandassem in loco seus intrépidos jornalistas para cobrir eventos, hoje esse expediente me parece muito raro. Vanessa é uma das poucas repórteres que, num cenário onde a tevê insiste em aniquilar nossa imaginação, consegue nos transportar pela palavra. Portanto, piauí, da próxima vez, quando o orçamento realmente apertar e nem voo na classe econômica for possível, é só escalar a Vanessa para fazer essas reportagens sobre outros locais, mesmo ela não estando lá de fato. Ela será nossos óculos de realidade virtual. No fim, só Vanessa sobreviverá…
DANILO WEINER_SÃO PAULO/SP
NOTA DO DEPARTAMENTO FINANCEIRO: Aprovamos com entusiasmo a sugestão e defendemos que seja estendida a todos os repórteres da revista, inclusive àqueles que não conseguem nos transportar pela palavra. Escrever sem deixar a firma, ou seja, “não estando lá de fato”, melhorará muito as nossas contas e, por conseguinte, o bônus de fim de ano. Só o equilíbrio fiscal salva.
LUGAR NENHUM
O texto de Tiago Ferro (“Já não era mais terça-feira, mas também não era quarta”, piauí_119, agosto) foi vibrante e comovente. A expressão da saudade e amor pela perda de um ente querido mostra como não somos preparados para situações assim.
DENIS MELLO_SANTO ANDRÉ/SP
THE OLYMPIC HERALD
Dirijo esta carta à redação apenas porque não encontrei em nenhum lugar o e-mail de Olegário Ribamar, onipresente editor do Herald. Tenho achado as piadas daquele suplemento cada vez mais sem graça. Lendo The Piauí Manual of Sobrevivência Herald (piauí_119, agosto), me senti sentado à mesa com o tiozão do pavê ou pacumê. Cadê o esforço humorístico que já encontramos, por exemplo, no flagrante do ministro Aldo Rebelo no lago Paranoá, no Tourist Herald da edição 92? Ou a sagacidade gostosa do antológico “Bilhete de Chico Buarque à diarista é considerado magistral” (blog The piauí Herald, 16 de agosto de 2011)? Sei que o clima no país é de melancolia, mas o próprio Arauto nos acostumou a esperar mais.
ÍTALO ALVES_PORTO ALEGRE/RS
NOTA SEM GRAÇA: Foi o melhor que pudemos fazer. Desde o ocaso político de José Sarney que Olegário Ribamar perdeu a verve satírica. O homem está triste.
SEM LUZ
Escrevo para parabenizar Guilherme Novelli, autor da reportagem “No breu” (Esquina, piauí_119, agosto), tanto pelo achado jornalístico quanto por sua narrativa. Fiquei intrigado ao tomar conhecimento da existência real de um personagem abatido por uma condição neurótica digna da literatura de Kafka, na solidão de um apartamento qualquer na capital paulista. Parece que a vida urbana tem contribuído cada vez mais para nosso gradativo enlouquecimento.
RICARDO MARQUES_RIO DE JANEIRO/RJ
BOAS-VINDAS
A piauí pareceu adivinhar que a edição 118 seria minha estreia como assinante: me deu as boas-vindas com a melhor edição que já li no desabrochar de meus 23 anos e de uns dois ou três como leitora da revista. Primeiramente, quando toquei o exemplar, repeti para mim mesma, umas duas ou três vezes, bem baixinho e apaixonada: Olha essa capa! E depois de uns dias, terminada a leitura, o fogo se concentrou: um diário de Nuno Ramos (“Fooquedeu”), um relato sensível sobre um eclipse (“Sideral”), as esquinas deliciosas, uma exposição precisa sobre a tragédia de Mariana (“A onda”)… Li tudo me sentindo presenteada e bem-vinda.
Obs.: Elogio em demasia é capaz de cegar. Não me decepcionem, sim?
Obs.2: Gostaria de sugerir uma seção que funcionasse como “estágio” ou “laboratório”, em que estudantes pudessem contribuir com suas reportagens.
JÉSSICA DE ALMEIDA_BELO HORIZONTE/MG
NOTA DA REDAÇÃO: Muitos jornalistas – recém-formados ou ainda na faculdade – publicaram o primeiro texto na imprensa na seção Esquina. De certa forma, ela é o laboratório que você menciona.
É A LAMA
Na matéria “A onda” (piauí_118, julho), mais uma vez fica claro que há uma grande distância entre o marketing e a realidade das empresas. Na busca incessante da maximização do lucro com redução de custos, os CEOs das companhias não medem esforços para atingir suas audaciosas metas de gestão. Seja nos bancos quebrados de 2008, seja na montadora que frauda laudo de emissão de poluentes, nas empresas públicas saqueadas ou na mineradora de Mariana, todas as empresas mentem ou omitem suas reais intenções quanto ao respeito ao meio ambiente ou às pessoas, e tudo é mascarado pela eficiência do marketing corporativo. O mero atendimento a normas ambientais já não é mais suficiente para garantir a segurança dos ecossistemas, é preciso que as empresas sejam mais verdadeiras e que a preservação dos recursos naturais, que são de todos, seja um valor intrínseco do negócio.
MARCOS PICCININ_JOINVILLE/SC
MATEMÁTICA
Desejo sucesso ao simpático e competentíssimo matemático Marcelo Viana, pelo trabalho que desenvolve para a realização do Congresso Internacional de Matemáticos de 2018 no Rio de Janeiro (“O calculista”, piauí_118, julho). Cérebros como o de Viana e de Artur Avila são patrimônios do Brasil, propulsores do progresso e geradores de riquezas, elevando o PIB do país. Como ambos trabalham no Impa, no Rio de Janeiro, têm muita influência e por isso espero que consigam dar impulso a melhores resultados no ensino da disciplina no Brasil, principalmente no ensino básico. Sabemos que a aprendizagem da matemática é cumulativa e a resolução de equações, exercícios e problemas mais avançados depende de conhecimentos básicos.
JACYRA VARGAS SUPERTI_CHAPADA/RS
Tenho 17 anos e sou vestibulando de matemática pura. Ler a matéria com o Marcelo Viana foi uma puta de uma felicidade, um verdadeiro prazer. Comecei a ler a piauí este ano, enquanto procurava um texto de Suzana Herculano-Houzel de que tinha ouvido falar na internet. Conhecer a revista foi uma das melhores coisas descobertas em 2016, e olha que este ano descobri a vodca. Ao Rafael Cariello, soarei repetitivo para de novo agradecer-lhe a leitura. É um grande incentivo para alguém que sonha estar no Impa em alguns anos.
P.S: Fiquei DECEPCIONADO com o impeachment. Quando li o Diário da Dilma e percebi que seria a última edição, foi como ser obrigado a assistir a um filme de Adam Sandler depois de ter visto um filme do Wes Anderson. Acho que vou torcer pela Dilma no julgamento. Quem sabe a coluna volta.
MATHEUS H. POPST DE CAMPOS_SOROCABA/SP
NOTA ETÍLICA DA REDAÇÃO: Você chegou a combinar as tuas duas descobertas do ano? piauí com vodca é o último grito nas boates mais chiques de Nova York, Berlim e São Luís. Também recomendamos piauí com rum, conhaque, tequila e licor de jenipapo. Quanto mais bêbado o leitor, melhor fica a revista.
METAMORFOSE
Numa noite fria de julho, me vi folheando uma revista magra, de folhas finas e tamanho médio, muito similar às mais intragáveis revistas semanais. De repente percebo se tratar da piauí! O projeto gráfico era deplorável e o papel cheirava à mesquinharia. Acordei assustado depois desse pesadelo, perguntando-me, confuso e sonolento, por que cargas d’água eu tinha sonhado aquilo. Só espero que os senhores não tenham planos infelizes à vista.
RODRIGO BORGES CARRIJO_RIO DE JANEIRO/RJ
NOTA PERPLEXA DA REDAÇÃO: Raios, vazaram os piauí papers!