cartas_124
| Edição 124, Janeiro 2017
LEITOR RECONVERTIDO
Foram doze revistas recebidas na minha casa, por um ano de assinatura. Confesso que me arrependi de ter assinado, não gostei muito da forma com que era abordada a crise política no Brasil, com os posicionamentos aparentemente favoráveis ao governo Dilma, para não falar das posições sarcásticas que não me agradaram.
Ontem, 12 de dezembro, fiz o cancelamento da assinatura e ironicamente decidi abrir a edição do mês de dezembro, que ainda estava ensacada, pronta para ir para o lixo, assim como as demais. Fui muito bem surpreendido com a matéria escrita pela Daniela Pinheiro (“O jornalismo pós-Trump”, piauí_123, dezembro), os detalhes narrados, o volume de informações que nos trouxe e o excelente delineamento crítico exposto na matéria que fala das eleições americanas.
A Daniela conseguiu expor muito bem as críticas feitas pela própria imprensa americana, bem como os aprendizados que todos nós levaremos para a formação do conhecimento numa época inundada de pós-verdades nas redes sociais.
Bem, sem querer me estender, mas já me estendendo, PARABÉNS A TODOS OS ENVOLVIDOS!
ALBERTO LOPES_SÃO PAULO/SP
NOTA ESPERANÇOSA DA REDAÇÃO: A gente torce para que o editor não tenha escolhido o título da tua carta movido apenas pela ilusão. Sem sarcasmo nenhum: volta, Alberto, volta.
ESQUERDA X DIREITA
Parabéns! Mais uma vez a excelente qualidade cultural da revista aparece no confronto de ideias. Refiro-me à seção Tribuna livre da luta de classes, na qual se encontram o artigo de Ruy Fausto (“Reconstruir a esquerda”, piauí_121, outubro) e o de Samuel Pessôa (“A armadilha em que a esquerda se meteu”, piauí_123, dezembro).
Concordo com os argumentos de Samuel Pessôa: realmente a esquerda brasileira se meteu numa armadilha que pode acabar num suicídio se não se livrar dos dogmas “castro-bolivarianos”, anticapitalista e antissocial-democrata.
Na Itália, após a Segunda Guerra Mundial e até a década de 80, o Partido Comunista Italiano (PCI) chamava os sociais-democratas de sociais-traidores. Depois a cúpula do partido caiu na real, percebendo que os próprios militantes não gostariam de viver como os cidadãos dos países socialistas, e sim como os da Inglaterra ou da Suécia.
Então o PCI tirou foice, martelo e estrela vermelha de suas bandeiras e mudou de nome e de essência. Hoje é o Partido Democrático (PD), assimilado ao Partido Democrático USA de Clinton e de Obama.
Será possível um itinerário político parecido na esquerda brasileira ou esta continuará demonizando a social-democracia?
GIANFRANCO BELLINZONA_RIO DE JANEIRO/RJ
Excelente, por didático, esclarecedor e fluente, o artigo (ou seria contra-artigo?) do professor Samuel Pessôa expondo as vísceras da hipocrisia petista reveladas no artigo de Ruy Fausto, da piauí de outubro.
Como na imensa maioria das análises que leio, o professor comete o deslize de atribuir razões filosóficas a ações que são, na base, fruto de decisões egocêntricas e autocráticas de psicopatas no poder. Considerado isso, não há como esperar uma revisão do que quer que seja, pois instituições não se revisam, se protegem. Apenas indivíduos com sua “vontade de poder” podem “revisar” por desejo de fazer valer suas “verdades”.
A grande armadilha sugerida existe, mas é sempre a posteriori. Lula, antes de se eleger, proclamava que programas como o Bolsa Família serviam apenas para comprar o eleitor. Eleito, fez o que fez. Agora, a esquerda (seus líderes), fora do poder, se coloca, como antes de 2002, contra tudo e contra todos. Simplesmente porque o único caminho de voltar ao poder é ser contra quem lá está. Ouvir gente como Marilena Chaui e Lindbergh Farias é um exercício de autoflagelação.
Minha discordância pontual se restringe apenas ao apoio que o professor confessa dar ao programa de cotas, o que, para mim, por conceito, é inadmissível para o capitalismo, onde o mérito é um alicerce fundamental deste sistema que ele mesmo defende.
PAULO VOGEL_PETRÓPOLIS/RJ
Enfadonha a troca de ideias entre Ruy Fausto e Samuel Pessôa. Embora sejam debatedores de alto nível, parecem deslocados no tempo, e não falar para ninguém. Fausto parece estar escrevendo em 1992 para os antigos militantes do Partidão, propondo um programa teórico social-democrata que não tem base política, viabilidade ou leitura de contexto. Fica difícil separar seu próprio programa do que ele chama de adesismo, estando suas propostas restritas a boas intenções e uma reforma tributária sem muita profundidade.
Já Pessôa esforça-se para defender o legado de uma época que não deixou saudades a quase nenhum dos brasileiros, os anos FHC. Batendo na tecla thatcherista de que não há alternativa, afirma que o governo tucano foi social-democrata. Não surpreende, dado que sua métrica é a carga tributária, provando assim que o período Reagan, por exemplo, não representou qualquer retrocesso social nos Estados Unidos. Ora, nenhum teórico da social-democracia diria que é o tamanho do Estado o fator principal, mas o quanto este é capaz de garantir segurança e dignidade material a seus cidadãos, sendo o pacote social-democrata clássico a garantia desmercadorizada de saúde, educação, habitação, transporte e assistência social.
Inconsistências à parte, o anacronismo de ambos salta aos olhos, ao se constatar que são incapazes de avançar sobre os desafios atuais, que pressionam os mercados e as sociedades: o tsunami da automação, que ameaça o trabalho como nós o conhecemos, a estagnação econômica mundial crônica e o colapso da ordem liberal.
Fica a sugestão para que a piauí amplie a discussão que alhures está fermentando sobre tudo isso: David Graeber, Peter Thiel, Elon Musk, Mike Konczal seriam ótimos perfilados, na linha das ótimas traduções de Wolfgang Streeck que a revista já vem publicando.
THOR RIBEIRO_SÃO PAULO/SP
O EXORCISTA
Parece que belzebu está mandando muito bem (“Vade retro, Satanás!”, piauí_123, dezembro). Pelos critérios da Igreja Católica e num cálculo raso, 3,71 milhões de pessoas – nas quais alegremente me incluo – estão possuídas pelo dito-cujo. Haja exorcista.
JOSÉ ANÍBAL SILVA SANTOS_TEÓFILO OTONI/MG
NOTA PERPLEXA DA REDAÇÃO: Teófilo Otoni, quem te viu, quem te vê. Uma cidade tão pacata…
GREVE
A Esquina de dezembro (“Escola partida”, piauí_123) referente à ocupação do Colégio Pedro II Humaitá, no Rio de Janeiro, é incompleta e superficial no tocante aos já crônicos problemas desse colégio tradicional – cujo agravamento os fatos mais recentes apenas confirmam. Omitiu-se, na pequena reportagem, que os servidores estão em greve desde outubro, sendo esse o verdadeiro motivo de não haver aulas. A ocupação, por sua vez, foi consentida e estimulada por pais e professores, como um meio de, ao menos, os alunos poderem manter contato entre si durante a greve e se responsabilizarem pela escola. Não é nada similar ao que se dá no resto do país e não subsistiria se não houvesse greve. A greve, por sua vez, é profundamente injusta, porque é um protesto contra emendas constitucionais em tramitação e contra o governo. Só se pode entender uma greve por essas razões – um processo legislativo correndo em normalidade constitucional –
quando se compreende que o sindicato está partidarizado e atua como braço de um partido (o PSOL), para ocupar espaço que deveria estar sendo disputado no Parlamento. O clima das decisões que levaram à greve – uma tônica que se mantém há anos – é de irresponsabilidade com os alunos, pobres ou não, que estão sofrendo com a descontinuidade do ensino e estão prestes a perder o ano. Que a revista possa expandir sua investigação sobre o Pedro II, para expor o que há por baixo dessa aparente insubordinação dos alunos: uma greve partidarizada, irresponsável, autoritária e inconsequente.
JOÃO FERNANDO DE OLIVEIRA COELHO (PAI DE ALUNO)_RIO DE JANEIRO/RJ
PIAUÍ_122
Após ávidos esclarecimentos para não “piauianos” sobre a deleitosa forma de jornalismo que a piauí apresenta, e que tantos contestam, não me restou escolha: tive que partir para a prova documental. Assim sendo, abri mão da minha queridíssima edição 122 (deixando de lado qualquer favoritismo), e a cedi para os estrangeiros.
A comoção foi imediata. Domesticados abruptamente pelas Esquinas, os mais novos piauianos emudeceram. Seus cérebros mastigavam cada palavra como leões apanhando uma presa. Agora lhes pergunto (sem temerismos): como recuperar meus amigos e, principalmente, a minha revista?
LUIZ FERNANDO PADILHA _VILA VELHA/ES
NOTA DA SEÇÃO DIPLOMÁTICA DA PIAUÍ: A partir da publicação desta, considere-se cônsul-geral da piauí para a Comarca de Vila Velha e arredores. Em resposta à tua pergunta: quanto aos amigos, não sabemos; já a edição 122 segue pelo correio.
DESCONFORTO
Sou fã e leitora da revista piauí, mas me incomodo muito com o formato da revista.
Alguma chance de reduzirem o tamanho para o formato padrão das principais revistas?
Ou vender em dois tamanhos, a exemplo do que já acontece com algumas publicações femininas?
Agradeço a gentileza e atenção ao pedido que não é só meu, mas de muitos outros leitores e potenciais leitores e admiradores da piauí.
Parabéns a toda a equipe pela excelência do trabalho de vocês.
MARIA PIA BASTOS-TIGRE BUCHHEIM_RIO DE JANEIRO/RJ
NOTA DA REDAÇÃO: Há dois ou três anos chegamos a fazer testes com dois tamanhos – o nosso e outro menor –, mas não deu certo. Era preciso diagramar cada edição da revista duas vezes e faltava braço. Nascemos grandalhões e não temos coragem de mudar. Espero que você compreenda. (O pessoal do Departamento de Arte manda avisar que é o.k. dobrar a revista. Não resolve tudo, mas ao menos permite atochar a piauí numa bolsa de mulher ou mochila.)
PIAUÍ_123
A Chegada e a Esquina da piauí 123 me fizeram refletir – para além da variedade de interesses e gostos humanos – que ainda há esperança quanto ao lado bom do homem: seja quando este se preocupa com espécies de plantas ameaçadas (“A volta das que não foram”), quando preserva o imaginário nacional do folclore (“Saci na luta”), quando joga um futebol alternativo (“Fair play”) ou quando crianças e adolescentes protestam contra o atual panorama político e econômico do país (“Escola partida”). Contextos e cenários diferentes em cada história, talvez até aparentando certo idílio, mas quem sabe um dia tais forças não se unam, mostrando que o homem não precisa ser o lobo do homem?
MARIANE SAUER_JARAGUÁ DO SUL/SC