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    ILUSTRAÇÃO: ANDRÉS SANDOVAL

esquina

Cláudio, o estofador

A arte de recauchutar sofás

Anna Virginia Balloussier | Edição 109, Outubro 2015

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Cláudio Gomes Ferreira já perdeu a conta de quantos bundões cruzaram seu caminho. O de Cláudio Besserman Vianna, o Bussunda, por exemplo, costumava deixar manchas de suor no sofá, “o que é normal para quem é gordão”.

Certo dia, “dona Angélica”, mulher do Casseta morto em 2006, decidiu que os móveis da cobertura da família no Leblon precisavam de uma recauchutagem. Mandou chamar o estofador. Ao chegar lá, Ferreira quase teve um faniquito. “Tinham comprado uma fazenda feia pra caramba, uma coisa abóbora, de que eu não gosto”, contou.

Aí pela mesma época a mãe de Bussunda, a psicanalista Helena Besserman Vianna, morta em 2002, também precisou dos serviços de Ferreira. O estofador garante ter feito “dona Bussunda” dar risadas quando, no consultório dela, ele não se absteve de criticar o divã revestido de veludo vermelho onde se deitavam os pacientes. “A pessoa já vem pirada, deita num troço desses, não vai ficar pior?”, argumentou o profissional, hoje com 68 anos, três quartos deles dedicados a reformar assentos que já acomodaram muitas poupanças da elite carioca.

 

Nascido Claudionor, Ferreira deixou para trás o “nome de samba” e decidiu se fazer chamar de Cláudio, o estofador. É a ele que “muitas donas” – de famílias que ele enumera com mal disfarçado orgulho, como os Niemeyer, os Bandeira de Mello e os Coelho Lisboa –, com suas mesas de jantar “com mais de doze cadeiras”, recorrem para dar um trato no mobiliário esgarçado pelo tempo.

Às vezes é uma costurinha aqui e outra ali; noutras, o estrago é maior. Tal um Sherlock Holmes dos estofados, Ferreira diz ser capaz, só de bater o olho na peça, de identificar o problema. Sem citar nomes, contou que o “pessoal da tevê” é o pior: torra uma dinheirama em sofás e poltronas de couro, depois “suja tudo com baseados de maconha”.

 

Ferreira é um senhor baixo e franzino, com cabelos brancos só nas laterais e uma cartela involuntária de expressões faciais exageradas, ao modo do comediante Costinha. Veste-se com rigor, camisa social de manga comprida para dentro da calça de cós alto. Tem sobrinhos na polícia, e gosta de dizer que se dá bem com “fardados”, embora prefira não emitir opiniões sobre política com a mesma liberalidade com que critica móveis e tecidos.

 

Disse já ter forrado, com tecido comprado nos Estados Unidos, o sofá de um dos filhos de Emílio Garrastazu Médici, o general que comandou a ditadura militar de 1969 a 1974. Também ostenta proximidade com outro poderoso, o delegado Brandão Filho, guarda-costas de Getúlio Vargas que no início dos anos 60 virou vice-presidente de futebol do Botafogo – um sujeito bronco, cercado por seguranças, que chegou a oferecer dinheiro para Elza Soares mandar Mané Garrincha passear. “Esse me adorava.”

Ferreira também se gaba da intimidade com antigos craques do Botafogo, clube ao qual prestava serviços nos anos 60. “Era tudo de náilon porque os jogadores suavam muito”, lembrou ele, que torce pelo Fluminense e enfeita sua oficina com pôsteres amarelados de campeonatos vencidos por seu time e pela Seleção Brasileira.

 

Seja quem for o titular do talão de cheque, Ferreira não baixa a crista. Com ele, a máxima de o cliente ter sempre razão se desfaz mais rápido do que espuma vagabunda em sofá de loja popular. Se o sujeito insistir em forrar com tecido de poliéster, ganha bronca: “Isso aí é espanta visita.” Quando uma madame exigiu que ele diminuísse além da conta o espaldar de uma cadeira, decretou: “Nesse móvel só senta o Nelson Ned.”

 

Antes de estofar sofás para a grã-finagem, Ferreira era o “guri da calça azul” que fazia carreto na feira e ganhou refrigerante e biscoito champanhe por ter sido eleito, em “tempos imemoriais”, o melhor aluno de sua escola. Aprendeu o ofício na adolescência, com “um russo” que vivia no Rio, disse.

Cláudio Ferreira tem saudade do “pessoal de antigamente”, gente “que tinha coisa pra deixar pros filhos”. Hoje o movimento é fraco, ele admite. Nas duas vezes em que estive em sua oficina, nos meses de junho e julho, quase ninguém bateu a sua porta. Um dos poucos possíveis clientes na verdade havia se enganado: era uma garota que confundiu o endereço com o da sua aula de pilates. A loja funciona há três décadas numa rua comercial de Botafogo, na Zona Sul do Rio.

Numa dessas visitas, enquanto o estofador falava, o barulho dominante era o de um velho ventilador, usado para secar a capa de uma almofada bege. O som do rádio de um vizinho chegava abafado ao interior da loja, um espaço não muito grande, com móveis entulhados, paredes brancas de pintura desgastada, três retratos antigos, em fotopintura, da família (ele, a mulher e a filha única) e um recorte de jornal dos anos 90 com a foto de todos os presidentes do Brasil até Itamar Franco.

“A crise afetou os negócios”, ele disse, coçando a cabeça. O problema mesmo, completou, é anterior à conjuntura econômica: já não há muita gente que queira reformar móveis e estofados, e pagar por um trabalho que vai durar. O que prevalece é “essa mentalidade dos Estados Unidos de comprar e jogar fora”, avaliou. “As fábricas querem vender pro povinho, não querem fazer nada personalizado.”

Não muito longe da oficina de Ferreira fica o tradicional Cemitério São João Batista, onde repousa boa parte da elite carioca – e de sua clientela. Ele comenta que a sua hora de também descansar num “estofado” de madeira e mármore vai chegar. Espera ser lembrado como o homem que fazia sofás para durar uma vida inteira. “Boto coisa boa, espuma de primeira, fecho ecler de náilon.” Ferreira acredita que, quando seus clientes tiverem alguma reclamação a fazer ou os móveis que ele reparou precisarem de ajustes, ele já não vai estar mais aqui.

Anna Virginia Balloussier

Repórter especial da Folha de S.Paulo, escreve sobre religião, política, eleições e direitos humanos. Autora dos livros O Púlpito - Fé, Poder e o Brasil dos Evangélicos (Todavia) e Talvez Ela não Precise de Mim: Diários de uma Mãe em Quarentena

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