Adoção à brasileira: nos últimos cinco anos, a Polícia Federal instaurou 120 inquéritos para apurar casos de tráfico de bebês em todo o país – um número baixo, segundo especialistas CRÉDITO: BETO NEJME_2024
Vendem-se bebês
Por que é tão fácil comprar um recém-nascido no Brasil e mandá-lo para o exterior
Allan de Abreu | Edição 214, Julho 2024
A Santa Casa de Valinhos, no interior paulista, fez 77 partos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) apenas nos meses de outubro e novembro de 2023. Dá uma média de pouco mais de um parto por dia. Em meio a tantos nascimentos, dois chamaram a atenção do pediatra José Maria dos Santos Lopes Junior. As mães não eram da região onde fica o hospital – uma delas vinha de Marabá, no Pará, e a outra, da cidade de São Paulo, a quase 80 km de distância. As duas deixaram o hospital horas depois de darem à luz seus bebês que, curiosamente, foram registrados como filhos de um mesmo pai: Márcio Mendes Rocha, um empresário português.
O primeiro bebê, Magda,[1] nasceu no dia 28 de outubro e logo teve alta. O segundo, Evandro, veio ao mundo 24 dias depois, mas permaneceu internado por causa de um problema cardíaco. Durante uma das visitas feitas pelo pai ao bebê no hospital, o pediatra decidiu abordá-lo. “Tenho vontade de ter filhos também, mas não estou conseguindo”, disse o médico. “Mas isso não é um problema no Brasil: é muito fácil conseguir uma barriga de aluguel”, respondeu o pai de Evandro. O pediatra ficou intrigado com a resposta, ainda mais vinda de quem acabara de ter dois filhos quase ao mesmo tempo com duas mulheres diferentes. Resolveu alertar a direção do hospital.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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