CRIANÇAS DE CORAL – NIGREDO/COIVARA III (2024-2025) – 33 x 25 cm: Esta obra faz parte de uma série em que Antonio Obá usa carvão sobre tela para retratar meninos ou meninas cantando. Ele buscou as fotos na internet e criou leves distorções em cada uma. “Não é uma simples reprodução”, diz. “Eu distorço principalmente a boca e os olhos, áreas de maior expressividade, para que as crianças pareçam cantar, mas também gritar ou chorar”
De volta à terra
Um artista em diálogo com as próprias origens
Tatiane de Assis e Antonio Obá | Edição 229, Outubro 2025
Antonio Obá nunca tinha visitado Olhos d’Água. O distrito de Alexânia (GO), a 100 km de Brasília, é famoso pelas festas populares e pelo artesanato. Em junho de 2013, quando recebeu o convite para conhecer o vilarejo, o artista vivia uma fase de hesitação criativa. Insatisfeito com seu trabalho, que julgava excessivamente influenciado pelo pintor britânico Francis Bacon e o escultor suíço Alberto Giacometti, Obá buscou expandir os horizontes de duas maneiras: jogando capoeira angola e integrando um grupo de gravuristas. Todo ano, o coletivo levava sua produção para a Feira do Troca, principal evento de Olhos d’Água.
As barraquinhas de artesanato, roupas, alimentos caseiros e antiguidades, nas quais o público se rende à velha prática do escambo, ficam armadas na Praça Santo Antônio. Parte da população local se espreme ali, entre uma porção de turistas. “Fui à feira por sugestão dos gravuristas e passei o dia inteirinho com o grupo”, relembra Obá, que mora em Vicente Pires, região administrativa do Distrito Federal. “À noite, já perto da madrugada, decidi voltar a pé para a pousada.” Ele não sabe precisar por quantos minutos andou, mas recorda que o zum-zum-zum do vilarejo lotado diminuía ao longo do percurso. “Caminhei sozinho, me afastando cada vez mais do Centro.” Numa rua ladeada de casas, um cheiro o paralisou por um instante. “Eu não conseguia nomeá-lo. Não era um cheiro específico”, conta.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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