Delfim dá pano para manga
| Edição 97, Outubro 2014
O PODEROSO DELFIM
Excelente matéria sobre o professor Delfim Netto (“O chefe”, piauí_96, setembro) – sem dúvida nenhuma, uma das personalidades brasileiras mais curiosas do século XX. Estendendo seus “tentáculos” de influência por onde quer que seja, construiu uma rede sólida de informantes, calcada na lealdade e empatia que exercia sobre mentes tão brilhantes quando a sua. Repito: excelente matéria. No decorrer da leitura, porém, percebi que Delfim foi pouco instigado a falar sobre alguns aspectos da ditadura, tais como a tortura e o exílio de opositores. Como ele foi ministro da Agricultura e da Fazenda naquele período, era óbvio que a conversa girasse em torno dos fatos que protagonizou. Mas, em tempos de grande mobilização nacional acerca dos segredos de nossa ditadura civil-militar, ver o grande Delfim Netto “dar com a língua nos dentes” seria incrível. Que grandes segredos esse homem guarda, hein?
IVAN DIAS T. RODRIGUES_SANTANA DE PARNAÍBA/SP
Muito bom o perfil de Delfim Netto feito por Rafael Cariello. Ele, Daniela Pinheiro, Malu Delgado e João Moreira Salles têm realizado reportagens como não se veem em outros veículos.
Vamos agora aos reparos. A reportagem sobre Delfim escolheu revelar algo dos bastidores nos quais se movia o ditador da vida brasileira nos anos 60 e 70. O texto conseguiu flagrar o bom Antonio com sua avidez por poder e sua capacidade de exercê-lo implacavelmente. O caminho para o perfil teria de ser esse, está certo. Mas, ao adotá-lo, o jornalista se esqueceu de ressaltar a brutal concentração de renda ocorrida naquele período.
Há dados acessíveis sobre esse tema. Bastaria recordar que, em agosto de 1977, sob a gestão do general Geisel, que tomara posse em março de 1974, o governo admitiu que os índices de inflação haviam sido adulterados. Esses índices regiam os reajustes salariais; os trabalhadores tinham perdido 34,1% de seu poder de compra naqueles anos. Os dados procedem de História Concisa do Brasil, de Boris Fausto.
Os patrocinadores do milagre econômico não foram apenas a disponibilidade de recursos no cenário mundial, que propiciou empréstimos em penca, e a entrada direta de fartos investimentos no Brasil. O principal patrocinador do milagre parece ter sido mesmo o povo (“a população menos as elites”), com a tremenda mais-valia arrancada dos trabalhadores, sobretudo os mais humildes, em condições muito favoráveis ao regime: sindicatos sob vigilância, imprensa sob censura, parlamentos manietados. Faltou à reportagem ressaltar isso.
Escrevi porque sou fã do trabalho de Cariello, a quem devemos, por exemplo, o conhecimento da origem dos programas sociais que começaram a ser adotados no fim do segundo mandato de Fernando Henrique – que, no entanto, não os ampliou, o que seria feito, em larga escala, pelo governo Lula (“O liberal contra a miséria”,piauí_74, novembro de 2012).
Pois é: já nos anos 70 falava-se em “desenvolver o mercado interno”, ao que Delfim ou seus porta-vozes na imprensa respondiam que era preciso primeiro “deixar o bolo crescer”. As tarefas que Lula e colaboradores realizaram nos anos 2000 já poderiam ter sido cumpridas há três décadas!
O crescimento econômico podia ter ocorrido com alguma justiça. Talvez fosse menos espetacular, mas teríamos agora um país mais generoso, mais estruturado, menos violento.
Eis a herança de Delfim, admitida pelo próprio em artigo de janeiro deste ano, quando escreveu na CartaCapital: “Desde a Constituição de 1988 [o Brasil] vem se empenhando em projetos de inclusão social como raramente em outras ocasiões de nossa história, conseguindo nos governos Lula e Dilma importante redução nos níveis da pobreza e corrigindo para melhor os índices de desigualdade pessoal e regional. Enfim, é um país que mudou de cara, tornou-se diferente no período.” Pois é, Delfim também se tornou “diferente no período”.
JOSÉ FERNANDO MARQUES DE FREITAS FILHO_BRASÍLIA/DF
BARRIGA DE ALUGUEL
Foi tocante observar a luta – a palavra é essa – da jornalista Teté Ribeiro para conseguir viabilizar o nascimento de suas duas filhas (“Duas meninas”, piauí_96, setembro). Confesso que nada sabia sobre a posição de destaque que a Índia ocupa, no cenário mundial, em se tratando do ordenamento, digamos assim, das barrigas de aluguel. Só me cabe parabenizar Teté e seu marido pela perseverança, coragem, destemor e força de vontade para viabilizar os seus sonhos.
ANTÔNIO CARLOS DA FONSECA NETO_SALVADOR/BA
PROFISSÃO REPÓRTER
O artigo “Repórteres ou missionários?”, de Adam Shatz (piauí_96, setembro), é esplêndido! Está entre os melhores que já li na revista. O autor versa com propriedade sobre os desafios enfrentados na cobertura jornalística de uma das regiões mais instáveis do planeta, o Oriente Médio, mas vai além ao reconhecer honestamente as posições políticas e convicções pessoais que interferem na condução de seu trabalho. A mensagem que se extrai é a de que o exercício constante da autocrítica e o pensamento livre são indispensáveis ao rigor jornalístico. Sem eles estará fadada ao fracasso a mais nobre missão do repórter: a busca pela verdade.
JORGE ROCHA NETTO_CAXIAS DO SUL/RS
O CASEIRO
Parabéns por acompanhar este rapaz honesto e corajoso, Francenildo dos Santos Costa, que enfrenta grandes males (Esquina, “O processo”, piauí_96, setembro).
PAULO FERREIRA_RIO DE JANEIRO/RJ
MAPA-MÚNDI
O “ativista gestor” Pedro Henrique de Cristo, localizando geograficamente o alvo de suas atividades (“Não trabalho para Paris, mas para o mundo majoritário”), apontou um mapa-múndi invertido na tela de seu computador (Esquina, “Laboratório Vidigal”, piauí_96, setembro). Eu conheço esse mapa-múndi em que o sul fica em cima. Inclusive, por motivos astronômicos, considero ser mais correto que o padrão eurocêntrico – mas é impossível “América Latina, África e Ásia” ficarem em cima. Espacialmente falando, a América do Sul está mais ao sul, a África a meio caminho e a Ásia mais ao norte. Se um está em cima, é inevitável que o outro fique embaixo. Podem, por favor, indicar um link para eu encontrar esse mapa inusitado?
PAULO VIANNA DA SILVA_FLORIANÓPOLIS/SC
NOTA DO DEPARTAMENTO CARTOGRÁFICO: De fato, no mapa-múndi invertido a América do Sul fica acima da África e esta da Ásia, como nota o leitor. A descrição na reportagem decorreu de uma leitura, digamos, política, já que o antigo “Terceiro Mundo” da Ásia – países como Índia e Indonésia – fica, no mapa invertido, acima do restante do continente. Caridoso, o leitor não retrucará jogando na nossa cara os exemplos da Mongólia e do Cazaquistão, nações mais para pobrecitas que, nessa configuração invertida, vão direto para o hemisfério Sul.
E AGORA, NOBRE?
Numa das melhores análises políticas que já vi na piauí, Marcos Nobre escreveu (“A volta da polarização?”, piauí_86, novembro de 2013):
De novo, agora, há o fato de que o PT já não tem mais como objetivo absoluto, único e indiscutível, a reeleição de Dilma. Pela primeira vez em vinte anos, o partido agora atribui tanta importância à reeleição da presidente quanto às eleições dos seis maiores colégios estaduais do país: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e Paraná.
E acrescentou: É claro que o jogo não está jogado. E essa nova tática repousa sobre o diagnóstico de que a reeleição de Dilma será a disputa presidencial mais fácil da vida do partido.
Agora que a vida deu cartão vermelho para um dos jogadores, como fica esse jogo? Caso Marina consiga conter a caça às bruxas de Dilma, como ficam o PSDB e o PT? E a disputa nos estados, foi pras cucuias? Se a revista puder contatá-lo para ao menos uma resposta breve, gostaria de saber o que Marcos Nobre teria a dizer. Muito obrigado!
CÁSSIO LOREDAN BARBOSA_BELÉM/PA
VELHICE
Assino piauí desde a edição 85, e portanto me considero ainda um marinheiro de primeira viagem. Estou atrasadíssimo nas leituras, e por isso só agora escrevo para elogiar o texto do Roger Angell (“Eu, um velho”, piauí_93, junho). Para um jovem que acabou de entrar na casa dos 20 e sempre teve um medo profundo da morte, o relato de Angell – que aos 93 anos reflete sobre a proximidade do seu último ato sobre a Terra, morrer – me trouxe várias reflexões sobre a vida e os relacionamentos humanos.
LIMA JÚNIOR_JUAZEIRO DO NORTE/CE
DIÁRIO DA DILMA
Escrevo porque estou com medo destas eleições! Se Dilminha perde, como ficarei sem seu Diário? Com o fim anunciado de Mad Men, em 2015 já terei que me despedir do Don Draper; queria, pelo menos, que fosse ao lado da presidenta. Imaginem o que seria um diário da Marininha: ela iria querer nos passar suas dietas macrobióticas, nos indicar programas do Discovery Channel, e ia tentar agradar a todos.
RENAN GUERRA_SANTIAGO/RS
NOTA DE MARINA: O meu diário será escrito com uma pena de luz sobre papel reciclado de pólen de boldo e carqueja. A qualquer hora o leitor poderá fazer dele uma infusão medicinal que o curará dos males do lumbago, da “doença de guachemim” e do preconceito contra documentários do Discovery Channel.
MEU PINGUIM
Acabei de receber a piauí de setembro e, como de costume, comecei pelas cartas. Não contive minha empolgação ao ler a carta da Monique França, do Rio de Janeiro, e ver que nossa história é praticamente igual! A piauí também chegou a mim durante uma aula enfadonha, na faculdade de psicologia, e foi amor à segunda vista, pois no começo também me perguntei se todas as matérias eram reais. Em pouco mais de dois dias, porém, já estava sugerindo à professora de psicologia organizacional e do trabalho a leitura do “Setembro negro da Sadia” (piauí_38, novembro de 2009), que veio a ser o tema do estudo de caso daquele semestre (obrigado, piauí, tirei 9!). A diferença entre Monique e eu é que não tenho um pinguim sequer, enquanto ela já tem dois! Como faço para ganhar um? Prometo que ele será bem tratado. Meu pinguim terá nome e a oportunidade de conhecer São Bernardo e os cafezais de Manhuaçu!
LUCAS ELESBÃO CHAGAS DE SOUZA_SÃO BERNARDO DO CAMPO/SP
NOTA DA REDAÇÃO: Caro Lucas, se você acompanha as notícias alarmantes sobre o aquecimento global saberá que uma das espécies mais afetadas pelo fenômeno é a dos pinguins, cujos números se reduzem a cada dia que passa. Já dizia o Santo Livro que há tempo para todo propósito debaixo do céu. O de dar pinguins já passou. O que é uma pena, pois, para quem já teve a sorte de ver, não há espetáculo mais comovente na natureza do que um pinguim flanando pelos cafezais de Manhuaçu.
Sou leitor assíduo desta revista desde a sua primeira edição e assinante desde a segunda. Até hoje nunca soube que havia a possibilidade de ganhar um pinguim revolucionário. Será que também posso ter o meu para decorar minha geladeira?
SIDNEY LUZIO JR_SANTOS/SP
NOTA REDUNDANTE: Ver acima.
MISSIVISTA INFLAMADO
Escrevo para pedir algumas coisas e, de quebra, tento manter a tradição do missivista inflamado que caracteriza a imprensa brasileira de todas as épocas. Em vista da existência de uma seção de Cartas invariável numa revista de resto bem variável, infiro que a piauí respeita essa tradição – tradição, como disse Diogo Mainardi, um tanto quanto masoquista. Portanto, eu venho por meio desta, espuma no canto da boca e tudo, é mesmo pedir. Até reivindicar. Até mesmo encher o saco.
A primeira coisa que peço é que vocês acabem com a seção de Cartas. É a porção mais mal aproveitada da revista. E imagino que a Suzano Papel e Celulose ainda não esteja lhes dando de graça o pólen soft de cada mês. Usem o espaço para propaganda, para cartuns, para poemas. Ou mesmo para nada, criando, nas páginas agora em branco, uma seção de rascunhos. Os leitores mais enfurecidos poderiam deixar ali sua cota de descontentamento mensal com a revista.
O segundo pedido me veio à cabeça quando encontrei, publicado pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, o livro O Melhor da Senhor, sobre a revista que foi ancestral indireta de piauí e direta do Pasquim. Para minha surpresa, os textos, principalmente os de humor, eram muito parecidos com os de piauí. Fiquei também muito admirado com o apuro gráfico dos caras. Meu segundo pedido vem daí: se não for falir a revista ou aumentar além do razoável o preço do exemplar, será que não seria possível uma ousadia gráfica de vez em quando?
O último pedido diz respeito aos textos propriamente. Como leitor esforçado, posso dizer que, quando comecei a ler a revista em meados de 2010 – ainda com 17 anos e sonhando em passar no vestibular –, lia tudo de capa a capa. Nas páginas da revista, conheci caras que estão hoje no meu top 5 de todos os tempos, como David Foster Wallace. Pode ser que seja uma incipiente maturidade ou uma fase depressiva periódica, pode ser a revista querendo se adequar ao jeito banal da vida. O fato é que hoje dificilmente passo da metade dos textos. Será que não seria possível uma ousadia editorial de vez em quando? That’s all, folks. Agora eu vou enxugar a baba e esperar que algum dos meus pedidos – ou reinvindicações, ou encheções de saco – seja atendido.
VICTOR JOSÉ DE SOUZA TEODORO_SÃO PAULO/SP
NOTA DA REDAÇÃO: Para cada missivista inflamado há um editor-chefe furibundo. Fica decretado que, a partir do mês que vem, a revista terá apenas páginas em branco seguidas de uma seção de Cartas. É ousadia gráfico-editorial para Senhor nenhuma botar defeito. Se o leitor não reconhecer, passará por mal-agradecido. De resto, torcemos para que nosso editor-chefe esteja em dia com suas doses de antirrábica.