Uma década de incansável porfia em defesa da ética, de Sarney e da obra Lorenzônica
Dez anos de piauí
Uma década de incansável porfia em defesa da ética, de Sarney e da obra Lorenzônica
| Edição 13, Outubro 2007
Dez anos. Cento e vinte edições, incluindo as duas que foram apreendidas – injustamente – pela Delegacia de Costumes. Foi uma esplêndida caminhada, com alguns percalços, muitas alegrias e permanente labuta. A visita dos fiscais da Receita nos pegou no contrapé, é verdade. Mas o saldo geral, além dos cinco dias na carceragem em Benfica, onde contratamos nosso novo diretor financeiro, foi a ventura de mostrar que é possível fazer uma revista com o gume afiado de piauí num país malemolente como o nosso Florão da América.
A despeito do ceticismo inicial de parte da indústria, do mau-olhado dos colegas, das desculpas esfarrapadas dos anunciantes em potencial, dos leitores eternamente insatisfeitos, da recusa de dom Eugênio Salles em publicarmos suas salientes memórias de meninice, da rebelião dos colaboradores contra o atraso no pagamento e da hostilidade militante dos umbandistas, sobrevivemos. Alguém já disse: “Só Exu é grande e Aécio é seu profeta!” Tendemos a concordar.
Temos do que nos orgulhar. Fomos os primeiros a noticiar que Xuxa e o Duende Radiativo havia sido selecionado para concorrer à Palma de Ouro em Cannes – e só não ganhou porque Abbas Kiarostami e Luiz Carlos Barreto urdiram, maldosamente, os vis estratagemas que, com descortino, denunciamos nestas páginas.
Foi motivo de orgulho o fato de o nosso leitor Sidarta Pederneiras, de Arapiraca, que na edição de agosto de 2009 tão bem encaixou a frase “Os arpejos de mamãe me levaram ao suicídio”, ter se tornado um escritor de renome internacional, como atestam o Juca Pado e o prêmio Juan Rulfo, com os quais acaba de ser laureado.
Nosso jornalismo investigativo provou sua têmpera e soube resistir à pressão dos poderosos (os fracos e oprimidos nós tiramos de letra). Foi em nossas páginas que o Brasil tomou conhecimento das estripulias do ministro João Dória Jr. Na época à frente da secretaria de Assuntos para Daqui-a-pouco, o cansado Dória Jr. desviara verbas da secretaria de Assuntos para Mais-Tarde, que, por sua vez, em flagrante desrespeito a determinações do Tribunal de Contas da União, usou recursos pouco ortodoxos na construção de uma caixa d’água em Cariacica, no Espírito Santo, de atribuição precípua da secretaria para Assuntos de Longuíssimo Prazo.
A crise deflagrada pela nossa reportagem provocou, como se sabe, a renúncia do presidente Lula e seu posterior exílio na Namíbia. Lutamos e conseguimos provar por a + b aos nossos familiares que os interesses da revista estavam tão-somente ligados ao sagrado dever cívico de bem informar, e nada tinham a ver com as manobras (militares) que acabaram levando Onyx Lorenzoni ao Planalto. A oposição, sempre guiada pela má-fé e por “intrinhúnculas” boçais, protestou, mas foi aplastada pela memorável sentença do excelso presidente do Supremo Tribunal Federal, Eurico Miranda, que atestou a legalidade constitucional do tour de force juridique arquitetado por Jorge Bornhausen, o causídico teuto-barriga-verde.
Se, assim como José Sarney, apoiamos Lorenzoni, foi porque acreditávamos – como continuamos a acreditar – no seu espírito público, na sua capacidade executiva, na sua visão histórica, no seu indomável espírito empreendedor, além de admirarmos o seu rarefeito topete. Só os maledicentes vêem relação de causa e efeito entre nosso apoio à obra lorenzônica e a decisão do governo de tornar obrigatória a leitura de piauí (e da obra literária de Sarney) em todas as salas de aula do Brasil.
A reportagem sobre o caso João Dória Jr. recebeu o primeiro Prêmio Pulitzer Cone Sul & Adjacências, que nos foi entregue, em Nova York, numa noite gélida e feérica, pelo jornalista Bob Woodward, assessor de imprensa do presidente David Letterman. Perdoe-nos, distinto leitor, mas não resistimos à pequena soberba, ao pecadilho de reiterar a já famosa declaração do eminente jornalista, no momento em que nos entregou a láurea reluzente: “Gostaria de trabalhar com vocês”. Infelizmente, nossa redação estava completa, inclusive a chefia da sucursal parisiense, ocupada, com a brejeirice e o pundonor que a notabilizaram nas lides de Guttenberg, pela sublime colega Mônica Veloso.
Outrossim, resistimos também à agressiva oferta de compra da piauí por Rupert Murdoch, que, diante da nossa intransigente negativa, em boa hora optou por aceitar a sugestão de sua melindrosa noiva, a suave Heloísa Helena, e comprou na bacia das almas o simpático e injustamente esquecido estado que dá nome à revista. Rechaçamos, agora e sempre, os avanços inconvenientes do bispo Macedo, como era conhecido, antes de comprar o Vaticano, o atual pontífice Macedão I. Com fibra e determinação, com vontade férrea, com os olhos postos em nossa missão histórica e sob a vigilância severa da Receita, continuamos independentes. Repitamos, para que não restem dúvidas: independentes.
Foi em nome dessa independência, temperada pelo espírito conciliador que caracteriza o sestroso povo brasileiro, que aceitamos a Medalha do Pacificador, que nos foi concedida pelo presidente Lorenzoni. E gostaríamos de rechaçar uma vez por todas: o fato de a comenda vir associada a uma cadeira cativa no Maracanã não nos seduziu nem nos corrompeu. Se defendemos o cargo vitalício de Ricardo Teixeira à frente da CBF é porque cremos que ele é o homem certo para todo o sempre da eternidade ludopédica.
Por fim, no ano passado, logo depois de abrirmos nossa sucursal internacional em Lutenblag, Molvânia, e de lançarmos a edição internacional de Piauí Herald, mudamos nossa sede para Little Teresa, como foi carinhosamente rebatizada a capital piauiense, desde que assim se referiu à cidade, no longínquo ano de 2009, a atual interventora do estado, Heloísa Helena Murdoch. Do nosso novo posto de comando, vislumbrando o fulgurante porvir que se descortina no horizonte, agradecemos a fidelidade de nossos mais de 600 000 leitores, sem contar família e apaniguados.