anais da República
Do fim da era Vargas à vitória do atraso
Uma leitura dos Diários da Presidência de FHC
Celso Rocha de Barros
Como Hamlet, os Diários da Presidência de Fernando Henrique Cardoso trazem uma peça dentro da peça: enquanto escrevia suas anotações (e governava o Brasil), FHC leu os diários então recém-publicados de Getúlio Vargas. Esse encontro de presidentes-escritores é importante: em mais de um momento, FHC declarou sua intenção de encerrar a “Era Vargas”.
Não era tarefa fácil. Afinal, se contarmos a Era Vargas como o período que se iniciou com a Revolução de 30 e terminou com o fim do regime militar, ela foi, na maior parte do tempo, um enorme sucesso. O Brasil esteve entre os países que mais cresceram no século XX. Mas o modelo de desenvolvimento capitaneado pelo Estado, que começa com Vargas e chega a seu limite com Geisel, esgotou-se nos anos 80. Embora já fosse um intelectual internacionalmente reconhecido, foi nos anos 80 que nasceu o político FHC, e é nítido como essa experiência formativa o marcou. Na p. 425 do vol. 3 dos Diários, por exemplo, o ex-presidente escreve sobre a necessidade de “um programa viável para o Brasil sair da situação em que foi deixado pela década que vai, na verdade, dos anos 1980, 82, a 92”.

Celso Rocha de Barros
É doutor em sociologia pela Universidade de Oxford e colunista da Folha de S.Paulo