Dom João VI no Brasil: parte do seu poder se constituía graças à capacidade que tinha de dar festas, demonstrações de grandeza e títulos de nobreza, ou apenas distribuir privilégios CRÉDITO: ROBERTO NEGREIROS_2022
Dom João abre os cofres
Como os gastos do monarca desorganizaram as finanças públicas do Brasil
Rafael Cariello e Thales Zamberlan Pereira | Edição 191, Agosto 2022
Na alvorada do dia 13 de maio de 1808, assim que “os primeiros resplendores do Sol alumiaram o horizonte”, o Rio de Janeiro foi acordado por estrondosos tiros de canhão vindos do mar. É possível que a intensidade das descargas naquele horário inusitado tenha feito um ou outro carioca pular da cama, ou cair da rede, assustado. Não se tratava de guerra, contudo, nem de nenhum tipo de hostilidade. As próprias autoridades locais haviam ordenado os disparos, apressando-se a comemorar, tão cedo quanto possível, o 41o aniversário da “preciosa e inestimável existência” de dom João. As armas das fortalezas que guardavam a entrada da baía, bem como as dos navios de guerra portugueses e ingleses ancorados no porto, faziam fogo em homenagem ao príncipe regente.
Não era para menos. Pela primeira vez, o aniversário de um monarca seria celebrado com a presença de sua majestade na cidade, onde desembarcara havia apenas dois meses. As salvas de canhão, parte das demonstrações de “obediência e vassalagem” dos súditos sul-americanos, eram, de toda forma, apenas o começo. Ao longo do dia, numa complexa e exuberante cerimônia, a comemoração dos anos de dom João se confundiria com o teatro de instalação do Estado português no Brasil e a reafirmação de poder da Coroa, recém-fugida da Europa.
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ASSINEJornalista, foi editor da piauí. Publicou Adeus, Senhor Portugal: Crise do Absolutismo e a Independência do Brasil (Companhia das Letras), em coautoria com Thales Zamberlan Pereira
É doutor em economia pela FEA/USP e professor da Escola de Economia de São Paulo (FGV/EESP)