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Drama encenado

Uma sessão de constelação familiar

Tiago Coelho | Edição 142, Julho 2018

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“Quem saberia resolver seus conflitos melhor que vocês?”, perguntou a mulher baixinha de cabelos brancos no centro do salão. Sentados em círculo, cerca de trinta homens e mulheres se entreolharam em silêncio. Os ouvintes estavam reunidos na Vara de Família de um fórum no subúrbio carioca de Olaria, atentos às palavras mansas e pausadas de Ruth Barbosa. Filósofa de formação, Barbosa atua como mediadora de conflitos da constelação familiar, uma terapia coletiva indicada a quem entra com uma ação ou é processado naquela vara.

Os participantes pareciam tentar decifrar o que as perguntas de Barbosa tinham a ver com seus processos. Muitos a olhavam com desconfiança, de braços cruzados. “Sabem o motivo de estarem aqui?”, continuou a mediadora. “É porque todo mundo quer ser feliz. E, se tiver conflito, não dá pra ser feliz.” Os ouvintes assentiram com a cabeça sem muita convicção. Ninguém ali se conhecia previamente – eram todos partes envolvidas em diferentes processos que tramitavam na Vara de Família. Na grande maioria, os casos envolviam pedidos de pensão, disputas pela guarda de crianças e alienação parental.

Barbosa afirmou que os filhos tendem a reproduzir o comportamento dos pais, perpetuando um vínculo familiar marcado por traumas. Filhos de alcoólatras, por exemplo, podem até criar ojeriza à bebida, mas muitas vezes acabam buscando parceiros amorosos dependentes do álcool, reproduzindo um padrão familiar. A melhor maneira de romper com esse ciclo vicioso, disse a mediadora, é tomar consciência dele.

 

Para o exercício daquela tarde de junho, os participantes foram divididos em grupos de três – cada um encenaria uma situação familiar com pai, mãe e filho. Para representar o pai num dos trios, Barbosa chamou a auxiliar de serviços gerais Isabel Reis Freitas, de 37 anos; a mãe seria a atendente de telemarketing Luany Dabda, de 25 anos; e o filho, o vendedor Flávio dos Santos, de 46 anos.

“Relaxa, você está muito tenso”, disse Barbosa para acalmar o homenzarrão que, com o corpo retesado, estava visivelmente desconfortável diante das mulheres que representavam seus pais. A mediadora perguntou-lhe o que ele admirava e o que não gostava no pai. O vendedor respondeu que se tratava de um homem sincero e trabalhador, mas também grosso e ríspido. Barbosa quis saber se ele agia da mesma forma com o próprio filho. “Não tanto quanto meu pai”, respondeu Santos. “Tento ser mais amoroso do que ele foi comigo.”

Em seguida, a mediadora pediu: “Agora, olhe para sua mãe e diga: ‘Eu te agradeço por ter escolhido ele como meu pai.’ Olhe para seu pai e fale: ‘Eu te agradeço pelo fluxo de vida que recebi de você. Faço valer a vida que recebi, mas sigo com o que é meu.’” Santos repetiu as frases com relutância, olhando para os sapatos. “Diga mais alto”, ordenou Barbosa. Ele girou os olhos com impaciência e reproduziu as frases com mais ênfase. “Se sente aliviado?” O homem reagiu com um gesto vago. “Sim”, emendou em tom áspero, antes de esvaziar vigorosamente o ar dos pulmões.

 

O vendedor parecia contrariado quando a sessão terminou. “Você sabia que haveria esse teatro?”, ele perguntou a Isabel Freitas. “É um teatro? Não entendi muito bem para que serve”, respondeu a auxiliar de serviços gerais. “Mas, sabe, fiquei realmente aliviada com tudo isso.”

 

Não era propriamente teatro; os praticantes da constelação familiar às vezes a definem como um psicodrama – uma atividade grupal onde os envolvidos dramatizam seus conflitos com o intuito terapêutico de conhecer mais a fundo os sintomas que caracterizam seus relacionamentos conturbados. Criada pelo terapeuta alemão Bert Hellinger, a técnica se popularizou na década de 90.

O juiz Sami Storch, do interior da Bahia, foi um dos primeiros a adotar a constelação familiar no Judiciário brasileiro, em 2010. Histórias sobre as sessões promovidas por ele começaram a circular – ficou conhecido o episódio em que uma mãe pediu na Justiça a internação compulsória da filha viciada em crack. Para resolver a questão, Storch convidou as partes envolvidas a encenarem o caso – um voluntário foi convocado para representar a pedra de crack, colocando-se entre mãe e filha para simbolizar a incomunicabilidade entre elas. Depois da sessão, a filha recebeu tratamento médico e voltou a se entender com a mãe.

 

Em 2016, uma reforma do Código de Processo Civil abriu margem para a adoção de métodos alternativos para resolver litígios sem a necessidade de levar o processo até o fim. Alinhado com as novas diretrizes, o juiz André Tredinnick, do Rio de Janeiro, convidou o colega da Bahia para palestras e passou a adotar a constelação familiar na Vara de Família de Olaria.

Acostumado a ver contendas que terminavam em brigas e agressões nos corredores do fórum, Tredinnick se surpreendeu com o resultado. “Nos casos que incluíam sessões de constelação familiar, 80% dos processos se resolveram em acordos promovidos num encontro de mediação, onde não é necessária a presença do juiz”, disse o magistrado. Nos casos em que a técnica não foi adotada, o índice foi de apenas 60%.

Isabel Freitas tinha acionado o ex-marido para pedir aumento de pensão. Desde que descobriu que a filha tinha vitiligo, seus gastos com remédios e o pagamento de uma cuidadora haviam aumentado. Pediu também que os cuidados com a pequena fossem divididos. “Ele a ignora e ela sente muito a ausência dele”, disse em tom pesaroso.

No fim da tarde, ao deixar a sala, Freitas perguntou a um dos consteladores se o pai de sua filha também tomaria parte de uma encenação. “Queria mesmo que ele participasse, vai que desperta alguma coisa nele.” Foi informada de que a atividade é voluntária e que o ex-marido não poderia ser obrigado a aderir. Dali a quinze dias, ambos se encontrariam na sala de mediação para buscar um acordo. Se não chegarem a um consenso, caberá ao juiz arbitrar sobre suas vidas.

Tiago Coelho
Tiago Coelho

Repórter da piauí e roteirista de cinema

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