"Fizemos vários cliques no jardim do hotel e nos despedimos com abraços constrangidos e apertos de mão entre os de sexo diferente. Vanita deu vários beijinhos nas cabecinhas das bebês" FOTO: ARQUIVO PESSOAL
Duas meninas
Uma viagem à Índia para buscar minhas filhas gestadas numa barriga de aluguel
Teté Ribeiro | Edição 96, Setembro 2014
Chego à Índia por Ahmedabad, capital do estado de Gujarat. O voo que saiu de Dubai aterrissa às quatro e meia da madrugada. Sou surpreendida pelo saguão vazio do aeroporto: estava preparada para encontrar muita gente, em todos os lugares. Lá fora, na escuridão, dá para ver um amontoado de tecidos, montes de sacos de roupas, praticamente grudados na enorme parede de vidro. Só consigo espiar o horizonte acima da montanha de panos, e não vejo ninguém. Espero pela bagagem e penso que sair de lá pode ser minha primeira grande aventura, já que não anotei o telefone do guia contratado, o sr. Uday. Mas me garantiram que não tem erro, ele vai me encontrar.
Assim que as portas automáticas se abrem, os sacos de pano começam a se mexer. São pessoas, centenas, que estavam agachadas ou dormindo no chão, e agora, acordadas, colam a cara no vidro. O sr. Uday estará entre eles? No país todo, o acesso ao aeroporto só é permitido a quem tem cartão de embarque; familiares e amigos dos passageiros ficam do lado de fora. Já é começo de inverno aqui e faz 18 graus, muito frio para os indianos. De repente, um senhor de gorro preto acena em minha direção, segurando um celular. “Ribeiro, Ribeiro?” É a primeira vez que me chamam assim. Ele insiste: “Ribeiro, Ribeiro, eu vim buscar você.” É o sr. Uday, intuindo que eu seja eu. Ele iria se tornar uma personagem marcante da minha estadia.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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