No estado do Kansas, nos Estados Unidos, um silo de mísseis foi convertido num complexo subterrâneo de 15 andares com apartamentos de luxo, capaz de abrigar 75 pessoas por até 5 anos ILUSTRAÇÃO: EXCLUSIVEPIX MEDIA
É o fim do mundo
Como milionários americanos se preparam para o colapso da civilização
Evan Osnos | Edição 127, Abril 2017
Steve Huffman, de 33 anos, cofundador e CEO do site Reddit, avaliado em 600 milhões de dólares, era míope até novembro de 2015, quando fez uma cirurgia corretiva a laser. Não por conforto ou vaidade, mas por um motivo sobre o qual não costuma falar muito: com isso, espera aumentar suas chances de sobreviver a um desastre, natural ou criado pelo homem. “Se o mundo acabar – não só se o mundo acabar, mas se tivermos problemas –, conseguir lentes de contato ou óculos vai ser uma amolação”, ele me disse recentemente. “Sem eles, estou ferrado.” Huffman, que vive em São Francisco, tem grandes olhos azuis, uma cabeleira loira e uma curiosidade inquieta. Sua preocupação maior não é com uma ameaça específica – um terremoto na falha de San Andreas, uma pandemia, uma bomba atômica –, mas com suas consequências, ou seja, com “o colapso temporário do governo e suas estruturas”, nas palavras dele. “Tenho várias motos. Uma porção de armas e munição. E comida. Acredito que assim possa me entrincheirar em casa por algum tempo.”
O sobrevivencialismo, a prática de se preparar para o colapso da civilização, em geral evoca certa imagem: o ermitão com seu chapéu de papel-alumínio,[1] o histérico com o estoque de feijão, o catastrofista religioso. Contudo, nos últimos anos, a prática se expandiu para localidades mais abastadas, estabelecendo-se no Vale do Silício e em Nova York, entre executivos de tecnologia, gestores de hedge fund e seus pares da área econômica.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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