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    ILUSTRAÇÃO: ANDRÉS SANDOVAL_2007

esquina

El Fuego

Dramas da fronteira em chamas

| Edição 14, Novembro 2007

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Antes de começar a listar as áreas da região metropolitana de San Diego que ardiam em chamas e aquelas que tinham abrigo para evacuados, a apresentadora do telejornal da CBS achou necessário se explicar: “Peço desculpas pela pronúncia dos nomes que vou ler, pois posso não estar inteiramente correta”, avisou no terceiro dia de labaredas. De fato, seria difícil para um latino adivinhar que, por trás da barafunda de inexistentes vogais pronunciadas pela jornalista anglo-saxã, escondiam-se nomes como El Cajón, San Pasqual, Encinitas, San Dieguito ou Chula Vista.
Mesmo em tempos de lavas incandescentes descendo-lhes pelas encostas, os americanos procuram não se desviar do discurso de integração das minorias. Em San Diego, isso se traduz por uma cautela toda especial em relação à população hispânica. Mais do que compreensível, visto que já em 2010 haverá 30% de hispânicos para 41% de brancos na região metropolitana da cidade.

Por isso, foi com luvas de pelica que se tentou tratar do único caso de prisão envolvendo desabrigados no Estádio Qualcomm. Desde as primeiras horas da explosão de fogo, que engoliu mais de 1 500 residências e casas comerciais da região, o local foi adaptado para receber os sem-teto que aportassem ali. Organizada, eficaz e acolhedora, a operação montada no estádio tornou-se rapidamente o símbolo da capacidade de reação de San Diego.

Até que, na manhã do quarto dia, com o Qualcomm atendendo a quase 10 mil pessoas, um boato se espalhou pela feiosa instalação com mais velocidade do que os ventos escaldantes: estaria em curso uma operação policial para identificar imigrantes sem documentos entre os refugiados do fogo. O boato surgira depois da voz de prisão dada a sete hispânicos envolvidos numa arruaça em frente ao portão D. Coincidência ou não, todos eles tinham cruzado a fronteira do México de forma ilegal. Entretanto, pela estranha lei americana, quem não tem documentação em ordem só pode ser detido, com essa justificativa, por agentes da imigração ou guardas da fronteira dos Estados Unidos, jamais por um guarda de trânsito, um policial comum ou um agente do fisco.

 

Para alívio dos guardiões da harmonia compulsória entre desabrigados, a história, na verdade, tinha outro colorido. Os sete detidos chamaram a atenção de uma das equipes de voluntários pela quantidade de alimentos e roupas que retiraram já no primeiro dia. À diferença dos outros flagelados, que naturalmente dormiam no próprio Qualcomm, o grupo dos sete apenas recebeu as doações, socou tudo dentro de uma van e partiu. Retornaram no dia seguinte, entraram na fila de novo e repetiram a dose. No terceiro dia, a equipe de distribuição soou o alarme; chamaram a polícia e a turma foi levada para o distrito. Um dos detidos, de 17 anos, admitiu que a coleta diária se destinava à revenda para patrícios clandestinos – como eles, igualmente flagelados.

Caso encerrado, então? Não, apenas o início de uma curiosa questão jurídica e, por extensão, de um filão a ser explorado por advogados sempre em busca de nova clientela. Se a comida e as roupas em questão haviam sido doadas sem qualquer cláusula condicionante e distribuídas ao grupo por livre e espontânea vontade, não haveria ilícito. Os detidos poderiam ser considerados espertinhos, mas não criminosos. Ademais, a quem caberia legislar sobre o destino final de colchonetes e cobertores, uma vez distribuídos aos quase 700 mil deslocados que as queimadas já haviam produzido até o quarto dia?

Enquanto a questão era acaloradamente discutida no Estádio Qualcomm, o fogo provocava uma tentadora brecha na fronteira entre os Estados Unidos e o México, a menos de meia hora dali: a Guarda de Fronteira havia sumido. Fora incorporada aos esforços de combate ao fogo, e os sensores que monitoram o movimento dos ilegais estavam inutilizados, por derretidos.

 

Em tempos normais, o terreno onde ocorrem as tentativas de travessia já é, em si, inóspito. Com os incêndios, que espalharam a devastação até o lado mexicano da fronteira, o solo foi aplainado por uma espessa massa negra de cinzas e desapareceram as trilhas clandestinas que serviam de referência para os imigrantes ilegais. Bem ou mal, elas os orientavam na longa marcha até seus “coiotes”, que, por sua vez, entregariam a mercadoria humana a um motorista, a quem caberia conduzi-la até San Diego, tudo por 1 500 dólares a cabeça.

“Cuidado, o fogo está fora de controle, não corram riscos”, anunciavam os alertas transmitidos pelas rádios e TVs mexicanas, na tentativa de desencorajar os mais afoitos. Na localidade de Dulzura, junto à fronteira, quarenta casas haviam sido calcinadas.

Ainda assim, cinqüenta andarilhos iniciaram a marcha rumo ao inferno. Tiveram de se entregar à primeira patrulha americana que encontraram, já no primeiro dia, alguns com queimaduras horrendas. Ingressavam, assim, na máquina de resgate montada na Grande San Diego, com direito a receber atendimento médico-hospitalar, comida e roupas, tratamento com o qual jamais poderiam sonhar. Quando estiverem recuperados, serão mandados de volta ao México e provavelmente haverão de fazer novas tentativas de ingresso clandestino ao longo da vida.

 

El Cajón, San Pasqual, Encinitas, San Dieguito – até 2010, os apresentadores da CBS terão muitos nomes novos a aprender.

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