O friorento Aderbal, diante do aquecedor na nossa casa, em ilustração de Andrés Sandoval, de 2010: um gato que amava mamão, se inebriava com o cheiro das flores e odiava o som do violão ANDRÉS SANDOVAL_2010
Em memória de um gato
Aderbal e nossos dezoito anos
Roberto Kaz | Edição 218, Novembro 2024
No fim de junho, dia 26, publiquei um texto longo em meu perfil no Instagram. Começava assim: “Ontem terminou a passagem, nesse mundinho, do meu amigo Aderbal. Foram dezoito anos juntos, dezoito anos em que ele me acompanhou por 12 apartamentos, 3 cidades, 2 países. Aderbal foi meu companheiro quando saí da casa do meu pai, morei sozinho, casei, me separei, voltei para o meu pai, quando aluguei um apartamento com amigos e quando voltei a morar só. Foram raros os dias em que não me deu o privilégio de dividir, com ele, a minha cama.”
O texto seguia: “Gatos e cachorros não são filhos, ainda que muita gente goste de chamá-los assim. Um filho deve sobreviver a você. Um bicho, não. O ponto de partida da relação com um bicho é a consciência da finitude: você envelhecerá alguns anos, enquanto ele irá de filhote a idoso. O fim está contratado. É bonito que a natureza nos dê o privilégio de acompanhar esse ciclo. E é mais bonito que esse ciclo possa ser acompanhado pela lente do amor.” Eu explicava, em seguida, que apesar de não ser meu filho, Aderbal era minha família: “E meu protetor. Isso é uma certeza que carrego: meus bichos são meus orixás, sempre regulando a energia que me cerca.”
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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