Encontrando Leff e esperando João
| Edição 113, Fevereiro 2016
ENCONTRANDO LEFF
Sempre me deliciei com a extensão das reportagens publicadas por piauí: jornalismo literário na sua melhor forma, com espaço de sobra para escritores competentes demonstrarem todo o seu talento. Foi por isso que passei a assinar a revista. Na edição de janeiro não foi diferente: Rafael Cariello deu uma aula de reportagem, indo à fonte e comprovando ainda estar vivo um professor que o meio acadêmico já reputava morto (“À procura de Leff”, piauí_112, janeiro). Está de parabéns pela diligência e pela decência do gesto. Ainda mais, merece aplausos por apresentar esse gênio ao grande público – eu nunca havia ouvido falar de Nathaniel Leff, e fiquei interessadíssimo nas possibilidades abertas pela obra dele. Continuem assim!
GABRIEL CORDEIRO MARTINS DE OLIVEIRA_SÃO PAULO/SP
Gostaria de parabenizar o repórter Rafael Cariello e a revista piauí pela reportagem “À procura de Leff”. Como brasileiro e economista, comecei a ler o texto por curiosidade. Terminei a leitura emocionado.
RODRIGO MENDES_RIO DE JANEIRO/RJ
Comecei a ler a edição de janeiro na internet, e logo pelo fantástico artigo sobre Nathaniel Leff. Assim que terminei o texto, tive que ir a um sebo comprar os livros do economista. Ainda na edição online, me dediquei à reportagem sobre o novo presidente da Argentina, Mauricio Macri (“O C.E.O.”). Passei aos demais textos quando recebi a revista em casa. Só tenho elogios. Um exemplar digno de ser guardado, como os bons vinhos.
WILHELM MILWARD MEINERS_CURITIBA/PR
NÃO GOSTEI
Não, piauí! De novo? Na edição anterior vocês vieram com o tendencioso artigo de André Singer (“O lulismo nas cordas”, piauí_111, dezembro), justamente demolido pelos leitores da revista. Agora Graciela Mochkofsky vem nos falar do governo Macri, sem que tenha transcorrido nem um minuto de jogo (“O C.E.O.”, piauí_112, janeiro). Um texto do tipo “não vi e não gostei”.
A articulista encontrou “mais de 100 mil pessoas” a se despedir da presidente Cristina Kirchner, quando Clarín e La Nación falaram apenas em “milhares”; trata a saída da mandatária pela porta dos fundos como uma maldade antidemocrática do novo presidente; e cita a inflação de 23% em 2015 sem esclarecer que o índice no país vizinho é manipulado, e que esse é o número do órgão oficial do governo. E ainda achou muito bom um déficit fiscal de 6,5% do PIB, que tia Cristina vinha cobrindo com dinheiro bolivariano. Sobre corrupção, aparelhamento do Estado, enriquecimento do casal K., perseguição à imprensa, caso Nisman: nada. Graciela queria mesmo é baixar a lenha no Macri – e, como não podia deixar de ser, “singerianamente” e para não perder a oportunidade, também na classe média descontente. Ela chega a especular, vejam só, que Macri chegou à Presidência “pelo desejo de provar que o pai estava errado”!
Sei que papel aceita qualquer coisa, mas eu esperava da revista filtros melhores. Pelo menos, os mesmos que são usados para os colaboradores habituais da revista (os que aparecem no expediente, ao lado das cartas), que quase nunca escrevem barbaridades como as perpetradas por esta senhora. Sem contar, por fim, que um artigo sobre o novo presidente argentino seria muito mais rico, informativo e efetivo daqui a uns seis meses, quando as primeiras ações de governo começassem – ou não – a mostrar resultados. A propósito, hoje, um mês depois da posse de Macri, o risco Argentina já é menor que o tupiniquim.
WANDERLEY RODRIGUES_RIO DE JANEIRO/RJ
ESPERANDO JOÃO
O relato de Consuelo Dieguez sobre o imbróglio quanto à reedição dos três primeiros LPs de João Gilberto (“Esperando João”, piauí_112, janeiro) demonstra o extremo rigor do artista com sua obra. Em 1988, para comemorar os 75 anos da gravadora, a EMI-Odeon lançou um CD, O Mito, que reunia Chega de Saudade, de 1959, O Amor, o Sorriso e a Flor, de 1960, e João Gilberto, de 1961, porém sem obedecer à ordem original das músicas e com alterações que desagradaram o artista. O baiano mantém sua intransigência e ainda não liberou a reprodução dos discos. Vida longa ao João, o retrato perfeito do artista consciente da grandeza de sua obra.
DIRCEU LUIZ NATAL_RIO DE JANEIRO/RJ
Em relação à reportagem “Esperando João”, é preciso dizer que os shows programados para a comemoração dos 80 anos de João Gilberto, mencionados na matéria e que acabaram por não se realizar, são objeto de um processo judicial em curso. Na qualidade de advogado de João Gilberto, verifiquei que a reportagem contém uma alusão ao referido processo que reflete somente a versão de uma das partes. Vale dizer que tal processo é público e com acesso disponível a qualquer pessoa no site do Tribunal de Justiça. Ou seja, nem mesmo havia a necessidade de entrevistar alguém para que a reportagem trouxesse à tona as duas versões sobre o cancelamento dos shows, sendo certo que até o momento nenhuma dessas versões foi ratificada por sentença transitada em julgado.
A reportagem deixou de dizer que João Gilberto também é autor de ação, no mesmo processo. A questão que motiva a defesa do cantor e o seu pedido de indenização, nessa ação, é simples: principalmente, ele não recebeu o cachê ajustado, nas datas acordadas no contrato, além de outros descumprimentos contratuais. A sentença de primeira instância foi desfavorável a João Gilberto, que interpôs o recurso de apelação. Faltou, portanto, dizer que a questão está em juízo, e que ainda não houve um pronunciamento final da Justiça, sequer um julgamento em segunda instância.
LEONARDO ORSINI DE CASTRO AMARANTE_RIO DE JANEIRO/RJ
LULISMO NAS CORDAS
A piauí nos mostra ser plural em suas singularidades. É isso que alimenta o desejo de ler mensalmente os artigos dessa grande revista. Na edição de dezembro, André Singer mantém suas convicções ideológicas, mesmo nesses tempos em que buscam nos fazer crer que as ideologias não existem mais. Singer fala com propriedade e conhecimento de causa sobre “O lulismo nas cordas”, sem ser pedante ou acadêmico demais. Passamos por uma década de construção de políticas voltadas à inclusão social, algo inegável, mas essa construção pode estar fadada a desaparecer caso a confiança no governo, já liquefeita, se evapore. Ou caso seja substituída por um projeto – menos provável, de imediato, com o refluxo do movimento de impeachment – alimentado mais pelo ódio ilógico do que por um desejo de mudança.
ADILSON ROBERTO GONÇALVES_CAMPINAS/SP
A Tribuna Livre da Luta de Classes, tradicionalmente uma das seções de qualidade mais duvidosa da piauí, na qual os velhos luminares de nossa intelligentsia abandonam suas torres de marfim nos departamentos de humanas para reciclar a retórica da Guerra Fria, atingiu seu nadir com a publicação do texto “O lulismo nas cordas” (piauí_111, dezembro), em sua edição de dezembro.
André Singer publica uma verdadeira hagiografia do primeiro mandato de Dilma e do projeto de poder lulopetista, omitindo completamente as evidências de incompetência e corrupção dessa quadrilha que há doze anos comanda o país. Ao se referir ao processo de impeachment como “golpismo”, ignora completamente as pedaladas fiscais – prática contumaz do governo Dilma Rousseff, vedada pela Lei de Responsabilidade Fiscal e, por isso, crime de responsabilidade – para criar uma espécie de conspiração burguesa encabeçada por Sergio Moro, Eduardo Cunha e a mídia.
É, sinceramente, vergonhoso ver um texto que não passa da defesa apaixonada de um projeto de poder corrupto ocupar papel central numa edição da piauí. Que a revista há muito penda para a esquerda não é novidade nenhuma, mas validar uma matéria completamente oposta à realidade do país é um verdadeiro desserviço aos seus leitores.
IGOR FRASSY_MACEIÓ/AL
PARIS NÃO É UMA FESTA
Durante a Segunda Guerra Mundial, os jovens que serviam no Exército usavam as horas vagas de que dispunham para dançar, beber e namorar. Será que deveriam ficar recolhidos, lendo tratados sobre estratégias de guerra ou estudos sociais? As pessoas que viveram o recente trauma coletivo na capital francesa decidiram ler um livro cujo título é Paris É uma Festa, e Alejandro Chacoff não consegue entender a razão dessa escolha (“Paris não é uma festa”, piauí_112, janeiro). Por que não Balzac, Camus, Barthes ou Foucault, muito mais representativos da cultura francesa? Como o próprio Chacoff afirma, “luto coletivo é um processo complicado”. A cultura ocidental, ele também diz, se mostra hoje “nebulosa e indefinível”. Sim, mas, para tentar melhor compreendê-la, mais vale um pouco de psicologia e de empatia do que se recolher em leituras de semiótica e estudos sobre o poder.
EDITH ELEK_SÃO PAULO/SP
VÍDEOS DA PIAUÍ
Em primeiro lugar, obrigado. Em segundo, parabéns. Os vídeos que a piauí passou a fazer, baseados em suas reportagens (www.revistapiaui.com.br/videos), são como filmes inspirados por livros: assistir a eles provoca êxtase. Sei que pode soar exagerado, mas o que aparece nas imagens é tão bom quanto são as reportagens impressas.
RICARDO FERNANDO DOS SANTOS_SÃO PAULO/SP
VEM, MONSTRO!
O repórter João Brizzi, ao escrever sobre o programa de Léo Stronda (Esquina, “Vem, Monstro!”, piauí_112, janeiro), afirma que “piadas e comentários às vezes preconceituosos, homofóbicos ou machistas são uma constante nos episódios de Monstro na Cozinha”. Gostaria de ser apresentado a piadas que não sejam preconceituosas; mais ainda, me desmancharia de prazer se escutasse uma piada politicamente correta que fosse engraçada.
PAULO VIANNA DA SILVA_FLORIANÓPOLIS/SC
NOTA HUMORÍSTICA DA REDAÇÃO: Um motoqueiro negro, homoafetivo e muçulmano seguia pela estrada recitando o melhor da poesia quilombola. Ia assim distraído quando atropelou um passarinho. Alarmado, correu até a ave e encostou o ouvido em seu peito, cuidando para que o gesto não contivesse nenhuma conotação sexual. Foi com alívio que constatou que o coraçãozinho do bicho ainda batia. Agradeceu a Alá, Jesus, Zaratustra e Oxóssi, acomodou o pássaro na concha da mão e chispou para casa, onde seu companheiro fanho, já alertado pelo celular, o aguardava com uma gaiolinha provida de água pura e pão sem glúten. Puseram o termostato numa temperatura amena, ligaram baixinho o CD de canções do Burundi e, com a porta entreaberta, ficaram de vigília na sala ao lado. Corria a madrugada quando o pássaro despertou. Olhou em volta, viu as grades, a água e o pão e exclamou: “Macacos me mordam! Matei o motoqueiro!”
LEDO ENGANO
Sou leitor eventual da revista, que compro em banca, umas três ou quatro vezes por ano. Ao ver a capa da edição de janeiro, imaginei que iria ler uma excelente reportagem sobre o PMDB, Temer e Cunha. Ledo engano: a edição trouxe material sem graça e maçante. A única exceção era o Diário da Dilma. Acho que vou ficar um tempo sem comprar a piauí.
EDUARDO LAMPREIA_RIO DE JANEIRO/RJ
NOTA DA DILMA: Faz bem, meu querido. Eu mesma vou parar de escrever pra esse pasquim. Já dei aviso prévio. Além de pagar mal, a revista não é distribuída no Canadá, de modo que todo mês eu tenho de despachar um exemplar pelos correios para o Justin. Não ganho pra isso.
DIFERENTÃO
É impressão minha ou está havendo uma queima de estoque de pinguins? O que aconteceu? Algum contêiner chinês interceptado no porto pela Polícia Federal? Quem decide quem deve ganhar? O Moro? É por sorteio? Se for, será tipo quermesse, com números escritos em folhas de caderno? Precisa ser tão honesto quanto o Lula para poder concorrer? Será que só eu nunca escrevi pedindo o pinguim da piauí?
Sim, só você:
o que tem o DVD do filme Os Pinguins do Papai
o que assistiu a Madagascar só por causa dos pinguins
o que mora no Polo Sul
o que já viu A Marcha dos Pinguins oito vezes
o orgulhoso
o que só compra no Ponto Frio
o que só usa roupas Penguin
o que só lê livros da Penguin
o que só toma Antarctica
PS: Aceito que me mandem um exemplar da família Spheniscidae.
PEDRO FELIPE DE CAMARGO_GETÚLIO VARGAS/RS
NOTA DESAPONTADA DA REDAÇÃO: Quase, Pedro. Pena você ter se esquecido de mencionar que o Pinguim é teu arqui-inimigo predileto do Batman. Temos critérios, somos rigorosos. Não mandamos nossa mascote para qualquer um.
DEBATE NAS CARTAS
Percebo que o autor da carta “Loucos de palestra”, publicada nesta seção em janeiro, vocifera contra mim – só que minha “alfabetização acrítica” não foi capaz de captar quais foram os seus contra-argumentos. No meu comentário, explicitei o que me incomodou na reportagem “No país dos caubóis” (piauí_109, outubro). Em sua carta, ele apenas parafraseou meus tópicos. Estou de acordo quanto à importância da matéria, mas isso não rebate minhas críticas à forma como os assuntos foram filtrados e o texto, redigido: a reportagem deixou a desejar. A repórter não fundamentou os adjetivos que usou, e seu texto dá a impressão de que começou a ser escrito como um perfil, chegou mais gente para almoçar, colocaram água no feijão – e virou outra coisa.
IURI BAPTISTA_PORTO ALEGRE/RS
Na seção de cartas da piauí de janeiro, um leitor deu um piti ao comentar a minha crítica à reportagem “No país dos caubóis”. Se os leitores não pudessem criticar e questionar – educadamente, quanto a isso estou de acordo com o leitor – o conteúdo das reportagens e a opinião de quem as escreveu, então com que finalidade a revista manteria este espaço, aberto a todo tipo de palestrante? Aberto aos que criticam as reportagens, aos que criticam as críticas às reportagens, aos críticos dos críticos das críticas. Todo mundo querendo aparecer! Todos loucos de palestra! Parece que o leitor que me critica tampouco está imune ao clima polarizado que alguns querem impor a qualquer debate hoje no país, quando ele também dá a impressão de enxergar o mundo – e o que os outros têm a dizer – dividido em “certo” e “errado”. Insisto que os leitores desta revista não estão devidamente informados sobre o tratamento conferido aos animais nos rodeios.
GABRIELLA RINALDI_SÃO PAULO/SP