Nas celebérrimas fotos de 10 de março de 2011, Caetano aguarda para atravessar a rua no Leblon, então atravessa a rua no Leblon e depois senta-se num banco de estacionamento como quem espera que o manobrista lhe traga o carro no Leblon: “Foi então que eu explodi. Bum!” CREDITO: FAUSTO CANDELÁRIA_AGNEWS_2011
Eu existo!
Muito prazer, sou a jornalista que estacionou o carro de Caetano no Leblon
Elisangela Roxo | Edição 175, Abril 2021
Aarhus (Dinamarca), segunda-feira, 8 de março de 2021.
Caro Caetano Veloso,
Espero que esta carta encontre você e sua família em perfeita saúde. Que todos estejam seguros nestes tempos tão sombrios… Escrevo por um bom motivo. Depois de amanhã, completam-se dez anos de um curioso e desconcertante fenômeno: o dia em que a internet ficou odara e eu virei lenda (sim, uma lenda, embora você não saiba disso). Muita gente ainda se lembra da reportagem que publiquei no portal Terra em 10 de março de 2011, com um título longuíssimo: Caetano Veloso Passeia pelo Leblon e Estaciona o Carro. Era uma notícia nada noticiosa, sem dúvida, mas acabou se transformando num marco do jornalismo brasileiro. A matéria – banal como um bichinho de avenca, poderia dizer o Nelson Rodrigues – somava apenas 49 palavras e saiu sem assinatura. Pois bem… Eu existo! Sou a autora daquelas mal traçadas linhas e chegou a hora de você conhecer os bastidores do elo invisível que nos conecta há uma década. Prazer, meu nome é Elisangela.
Você deve imaginar que todo jornalista sonha em escrever histórias inesquecíveis, né? Eu sonhava. Em A Sociedade dos Sonhadores Involuntários, romance do angolano José Eduardo Agualusa, uma personagem conta ser capaz de detectar na própria alma um tumulto de sentimentos nunca nomeados. Ela imagina que, depois de muitos anos, talvez esses sentimentos se tornassem comuns, quando alguém já lhes tivesse dado nomes. E afirma se sentir como um pintor que escolheu certo tom de azul para colorir o mar, antes de existir a cor e a palavra azul. Quem contemplasse as ondas nas telas, pintadas com uma cor até então impossível, não conseguiria esconder a estranheza. Era assim, mergulhada num tumulto de sentimentos ainda inomináveis, que eu mesma me encontrava naquele 10 de março de 2011, uma quinta-feira pós-Carnaval.
Comecei como redatora júnior no Terra um mês antes, em fevereiro de 2011. Fui contratada temporariamente para trabalhar na Diversão, editoria que tratava de música, teatro, cinema, tevê e celebridades. A redação ficava no bairro paulistano do Brooklin Novo – mais precisamente, no 12º andar da Torre Norte do WTCSP, o World Trade Center de São Paulo. Aos 26 anos, eu ganhava o equivalente a 4,3 salários mínimos da época. Meu contrato tinha a duração de dois meses e meio, a mesma da 11ª edição do Big Brother Brasil, o reality show da Globo que me incumbiram de cobrir prioritariamente. Não era o emprego dos meus sonhos, mas sempre gostei de televisão.
Havia na redação um aparelho ligado 24 horas no canal pay-per-view do BBB11, que eu não parava de olhar. Aquela edição do programa versava principalmente sobre o triângulo amoroso entre a modelo Maria, o playboy Mau Mau e o médico Wesley. Era engraçado acompanhar a personagem inventada por Maria, uma mocinha à la Dona Flor e Seus Dois Maridos, que se atirou de cabeça no jogo e ganhou o prêmio de 1,5 milhão de reais. Como dispunha de uma equipe jovem e gentil, o Terra tinha um ambiente de trabalho muito agradável e até divertido. Quando Maria entrava de biquíni no banho, alguns colegas se aglomeravam em frente ao vídeo. “Uau! Que gostosa!”, festejavam. Ou então: “Aposto que a Maria vai pagar peitinho…” Disso eu não gostava, claro, mas ficava na minha.
A importância que o Terra dava para a música me passou a impressão inicial de estar no lugar certo, na hora certa. Eu queria cobrir os shows cujos ingressos eram caros demais para o meu bolso. Também imaginava fazer entrevistas transcendentais com artistas que admirava. Minhas sugestões de reportagem, porém, eram geralmente avaliadas como nada atraentes, ou “zero cliques”. Eu, de fato, tinha muito a aprender sobre a “dinâmica dos cliques”. Todo o pensamento crítico que o curso de jornalismo na Universidade Estadual Paulista (Unesp) tentara introjetar em mim se chocava com as novidades de então. Entre as aulas inesquecíveis a que assisti no campus de Bauru (SP), guardava no coração as de ética jornalística, ministradas pelo professor Clodoaldo Meneguello Cardoso. Ele disse à minha turma, em 2004, que era preciso entender bem os sistemas nos quais estamos inseridos para que fosse possível burlá-los, quando e se necessário. Também ensinou que a gente teria de aprender a negociar, a mediar os diversos interesses e valores que se contrapõem na sociedade – inclusive os nossos próprios – para conseguir fazer um bom trabalho como jornalista.
Em 2002, meu primeiro ano de Unesp, “clique” ainda significava estalido seco ou algo do gênero. Mas em 2011, no sistema do Terra, a palavra se tornara sinônimo de audiência. Àquela altura, eu já havia passado outros Carnavais, Páscoas, Natais e Anos-Novos em plantões nas redações de O Estado de S. Paulo e da Folha de S.Paulo. Só que ninguém falava em cliques por lá. Pelo menos não da mesma maneira que no Terra. A palavra de ouro nos jornais continuava sendo “leitor”. “O que o leitor quer ou precisa saber?”, a gente se perguntava. Existia naqueles veículos impressos tão tradicionais muita incerteza, muita ansiedade sobre o futuro do jornalismo. Era o poente da profissão como a conhecíamos. A revolução deflagrada pela internet ganhava cada vez mais força e nenhum jornalista ousava prever o que aconteceria com nossos empregos de papel. O Terra, nativo digital, surfava a onda do momento e parecia saber o que estava fazendo.
Confiante, eu ia para o trabalho pilotando um Gol Rallye. O carro, modelo 2004, cinza-prateado, ficou comigo depois da morte do meu pai. Falo com propriedade sobre automóveis por uma questão de família. Meu pai, que morreu aos 76 anos em 2008, foi um metalúrgico de sucesso na indústria automobilística do ABC paulista. Como outros jecas totais da geração dele, mudou-se da roça para a cidade grande em 1958, à procura de uma vida melhor.
Eu costumava parar o Golzinho na rua porque o estacionamento do World Trade Center brasileiro custava uma fortuna. Lembro que, naquele tempo, ouvia muito o álbum Religar, do Leo Cavalcanti, que mantinha dentro do carro. Como quase todo mundo, eu precisava pagar as contas no fim do mês e aceitei o emprego no Terra essencialmente por causa disso. O bônus eventual de cobrir música me animava, mas não bastava. Eu desejava produzir grandes reportagens sobre cultura e tecnologia. Levava muito a sério uma declaração que o diretor teatral Aderbal Freire-Filho fizera à Folha em 2008. Ele confidenciou que tinha o hábito de anotar coincidências numa agenda, na esperança de desvendar o mistério da vida. À minha maneira, eu também queria desvendar o mistério da vida, das sociedades, do planeta e trazia um bloco de anotações sempre à mão. Sem a loucura, o que é o homem, Caetano?
Meu cotidiano na redação se revelava menos interessante e mais automático do que eu gostaria. Tudo girava em torno dos tais cliques. Quantos mais conseguíssemos, melhor. Eu trabalhava das 10 às 18 horas e, quando não estava de olho no BBB11, escrevia principalmente sobre as celebridades de um mundo pré-Instagram. As fontes de informação eram sites norte-americanos, assessorias de imprensa e agências de paparazzi brasileiros, como a AgNews, que nos enviavam fotos exclusivas por e-mail. À época, o Terra já fazia parte do grupo espanhol Telefónica. No business do jornalismo de celebridades, disputava espaço com o Ego, da Globo, OFuxico, criado e mantido por Esther Rocha, ex-assessora do apresentador Gugu Liberato, e o Gente, do portal iG, que pertencia à Oi. Dos três concorrentes, só o Ego não existe mais.
No diversao.terra.com.br, redigíamos notas bem pequenas, ilustradas com álbuns de fotografias ou prints de tela dos sites gringos. Chamávamos os álbuns de “galerias”. Cada galeria deveria ter no mínimo três fotos e ser publicada sempre num link próprio e com um título independente da nota. Minha função na linha de montagem era escrever pelo menos dez textos por dia, escolher as imagens que os ilustrariam, salvá-las e ajustar tanto a altura quanto a largura delas. Em seguida, eu criava um título bem chamativo para as galerias de fotos, outro para as notas e publicava tudo no site pela plataforma online Vignette (o show de um redator, caro Caetano, mora nos detalhes). No fim do expediente, eu mandava um e-mail aos editores com todos os meus títulos e links para comprovar minha produção diária. Durante uma jornada habitual de trabalho, portanto, eu precisava fazer mais de uma nota inédita por hora.
Naquela ocasião, epidemia era coisa de filme de terror, e “viral”, um termo restrito a agências sanitárias ou de marketing de guerrilha. Não se falava em seguidores nem em digital influencer. O empresário e youtuber Felipe Neto, opositor ferrenho do presidente Jair Bolsonaro, ainda se limitava a ser um vlogger de óculos escuros que não gostava dos filmes da saga Crepúsculo. Para nós, do Terra, artista era quem produzia algum tipo de arte, como você, Caetano, ou quem saísse na capa de certas revistas. Por exemplo, no dia 15 de fevereiro de 2011, às 17h28, recebemos um e-mail com o seguinte assunto: “Dani Sperle faz ensaio ousado em banho de leite.” O assessor de imprensa da moça, Cacau Oliver, nos escrevia para divulgar que, em março, sua cliente – modelo, musa de duas escolas de samba paulistanas e ex-namorada de famosos – seria capa da revista Sexy. Às 18h41, publiquei a nota Ex de Alexandre Frota se Lambuza com Leite para Ensaio Sexy. Associei à notícia uma galeria com três fotos tiradas por Vanessa Dalceno e fiz as legendas: “Dani Sperle experimenta o leite direto da garrafa no ensaio da Sexy”, “Dani Sperle joga leite no próprio corpo em ensaio sensual da Sexy” e “Como uma gatinha, Dani Sperle bebe o leite do pratinho”.
Mal concluí a tarefa, uma parte de mim desejava derrubar tudo à minha volta: os computadores, as mesas, as cadeiras, as estantes, os livros. “Vocês não estão entendendo nada!”, senti vontade de gritar, exatamente como você em 1968, ao ser vaiado no Festival Internacional da Canção por causa de É Proibido Proibir. No entanto, mais de quatro décadas depois, eu precisava ser bovinamente profissional. Hoje ainda carrego o arrependimento de ter cedido ao machismo e relacionado Dani Sperle a Alexandre Frota no título da nota. Eu deveria tê-la chamado apenas de musa da Tom Maior e da X9, que é o que ela era afinal. A consciência de classe me veio muito antes da consciência de gênero. Uma pena… Será que você se arrepende de algo que fez aos 26, Caetano?
Em março de 2011, durante o plantão de Carnaval, meu turno passou a ser das 14 às 22 horas. Na minha frente, se amontoavam dezenas de possíveis galerias com musos e musas das folias organizadas no Rio de Janeiro, em São Paulo e na Bahia. Já no primeiro dia de festa (4 de março), várias imagens do ator Victor Fasano chegaram por e-mail. Clicado na Praia da Barra, em Salvador, ele erguia uma sandália de borracha diante das lentes do paparazzo Wesley Costa como quem se preparava para dar uma chinelada num inseto irritante. Qual é mesmo o bicho que a gente mata com chinelo, Caetano? “Assunto quente! Vamos apurar!”, ordenou o editor da vez. Finalmente meu bloco de notas ia entrar na avenida. Fui ouvir os dois lados, como reza o primeiro mandamento do jornalismo ocidental. Liguei para Wesley Costa, que acusou o artista de agressão. Depois, telefonei para Victor Fasano, que estava no ar com o personagem Edward Teixeira Briggs em Ribeirão do Tempo, novela da Record. O ex-galã da Globo negou a acusação. Explicou que havia sacado o chinelo apenas para atrapalhar o fotógrafo e privá-lo de um bom ângulo. Também culpou a mídia por persegui-lo: “Ele [o paparazzo] não ficou satisfeito com a notícia de que eu estava andando na praia. O que dá audiência é eu tentar agredir alguém.” Lembrei-me do ator em 2005 socando a cara do humorista Rodrigo Scarpa, que interpretava o repórter Vesgo no antigo Pânico na tv e levou um murro em razão de um trocadilho tosco: “Victor, faz anos que não te vejo.” Embora estivesse encastelada no World Trade Center paulistano, resolvi não me arriscar à fúria do bonitão e peguei leve com ele. Victor Fasano Reclama de Perseguição da Imprensa em Salvador, cravei no título da nota que publiquei às 19h56. “Eu quero ter uma vida normal”, pedia o artista na minirreportagem de 234 palavras.
Em 10 de março de 2011, a hoje célebre quinta-feira pós-carnavalesca, fazia quase duas semanas que eu trabalhava sem folga. Estava cansada, mas inquieta, e continuava me submetendo ao horário especial de plantão. No dia seguinte, 11 de março, um tsunami varreria a costa do Japão e provocaria o segundo maior acidente nuclear da história, na usina de Fukushima. A Primavera Árabe tinha acabado de começar e, meses mais tarde, em setembro, iria servir de inspiração para os manifestantes anticapitalistas que ocuparam Wall Street, o centro financeiro de Nova York. Em dezembro, a presidente Dilma Rousseff terminaria o primeiro ano de seu governo com uma elevada taxa de aceitação popular. Impeachment era uma palavra do passado, e obviamente nenhuma dessas notícias seria publicada na editoria Diversão.
Na tarde do dia 10, Caetano, chegaram à minha caixa de e-mail as fotografias que captavam sua presença despretensiosa no Leblon. De início, julguei melhor ignorá-las. Mais “zero cliques” do que aquilo, pensei, só mesmo as minhas sugestões de matérias sobre bandas indie brasileiras. Todo jornalista sabe que nada de relevante costuma acontecer entre a Quarta-Feira de Cinzas e a segunda-feira em que o ano efetivamente se inaugura. O Brasil fica de ressaca, e suas imagens apenas reiteravam isso. De repente, porém, senti uma imensa empatia por Fausto Candelária, o paparazzo da AgNews que registrou aquelas cenas prosaicas. Eu não o conhecia, mas percebi que alguma coisa nos irmanava. Ele também estava de tocaia num dia morto. Provavelmente se cansara de observar os bacanas e queria apenas ir para casa. Voltei a olhar as imagens. Você trajava roupas leves. Parecia tranquilo, embora demonstrasse certo incômodo ao notar o fotógrafo. Tive inveja, admito. Quem me dera estar no Leblon como você, a flanar debaixo do sol, respirando ar fresco.
Dei uma olhada nos sites concorrentes. Nenhum arriscara publicar as fotos. É lógico, “zero cliques”. “Que título absurdo e sedutor alguém poderia inventar para essas imagens tão insossas?”, me perguntei. Se você tivesse ameaçado bater no fotógrafo, talvez valesse a pena eu dar uns telefonemas, mas não era o caso. O tempo voava, as horas morriam, e nada rolava no universo das celebridades nacionais. Você continuava à minha frente. Numa imagem, caminhava pela rua; noutra, estava sentado no banco de um estacionamento com um tíquete ou algo do tipo nas mãos. “Está aguardando o manobrista”, imaginei. Todo mundo na redação já tinha ido embora. Só eu mofava diante do computador. Foi então que explodi. Bum!
“Eles querem notícia o tempo inteiro? Pois vou lhes dar notícia, custe o que custar”, tramei em silêncio. “Eles” deviam ser meus chefes, o Terra, a concorrência, o público, a cultura do clique e sei lá mais o quê. Resoluta, invoquei o beabá das técnicas jornalísticas e mandei bala no título da galeria. Quem? Caetano Veloso. O quê? Estaciona. Onde? No Leblon. Quando? Nesta quinta-feira (10). Por quê? Por absolutamente nada. Quem se importa? Por cliques, certamente não foi. De qualquer modo, nenhum leitor poderia me acusar de disseminar fake news. Como jornalista e cidadã, segui um código de ética universal: não traí minha palavra nem abusei da confiança de ninguém. Apenas me ative às fotos e me deixei levar por certo espírito sarcástico, como quem compõe uma marchinha de Carnaval. A-lá-lá-ô, meu caro Caetano.
Caprichei nas legendas das três fotos que escolhi: “Caetano Veloso se prepara para atravessar uma rua do Leblon”, “Caetano olha para o fotógrafo enquanto atravessa a rua no Leblon” e “Caetano espera no estacionamento carioca nesta quinta-feira (10)”. Talvez também houvesse em mim algum desejo iconoclasta enrustido (iconoclastia que, aliás, aprendi com você e os demais tropicalistas). “Vamos comer Caetano, vamos devorá-lo”, ainda ouço a voz de Adriana Calcanhotto na minha cabeça. Como um Djavan às avessas, almejei descaetanear você. Quis me fazer tão profana quanto a vaca que pôs os cornos pra fora e acima da manada. Entretanto, ainda hoje me pergunto se, no fim das contas, tirei você do pedestal ou o botei mais uma vez nele.
O fato é que cumpri tabela. A última das dez notas obrigatórias daquela jornada de trabalho, com a respectiva galeria de fotos, estava pronta e publicada dentro do tempo regulamentar, às 21h14 – 46 minutos antes de dar o meu horário de ir para casa. No pequeno texto, informei que você havia sido flagrado sozinho, sem pressa, “no primeiro dia depois do Carnaval”. Mencionei ainda que, durante os festejos, você tinha sido visto assistindo ao desfile da Imperatriz Leopoldinense junto de uma namorada argentina. Eu não sabia mais o que inventar para encerrar o expediente e acabei fazendo arte. Foi muito bom.
Desculpe a minha petulância com sua imagem, Caetano, mas eu precisava rir de mim mesma naquela atividade tão carente de sentido. Precisava me satirizar enquanto satirizava o jornalismo sobre o nada, entende? Olhei para dentro e dei de cara com minha porção jornalista que sonhava entrar para a história graças a reportagens sensíveis e bem escritas. Olhei para fora e lá estava eu, solitária, em frente ao computador, já tarde da noite, numa gaiola envidraçada, com vista panorâmica para a Marginal Pinheiros. Imaginei que apenas meia dúzia de gatos pingados (e insones) iria ver a nota. Minha gracinha certamente desapareceria em meio a tantas outras pérolas publicadas por nós.
Às 22 horas, mandei para os editores o e-mail com os links do dia. Desliguei o computador e apaguei as luzes da redação. Desci doze andares pelo elevador, caminhei com pressa até o carro, também por medo de ser assaltada ou coisa pior, e dirigi até minha casa para finalmente me jogar na cama. Dormi o sono dos justos.
No fim de semana depois do plantão, saí para beber com o repórter de um veículo impresso. Mal o garçom nos serviu, meu colega perguntou se eu sabia da “bomba”. Qual?! Todos, na redação em que ele batia ponto, não paravam de comentar “uma notícia absurda” do Terra. Ai… “Estão dizendo que mataram o jornalismo, que o Terra passou dos limites.” Ai, ai… Ele sondou se eu conhecia o “coitado do redator” que tinha feito “aquela bobagem” sobre o Caetano. “Com certeza, cabeças vão rolar”, me garantiu. Ai, ai, ai… O instinto de sobrevivência me obrigou a manter a discrição. Contei a verdade para meu parceiro de copo, mas lhe implorei que não abrisse o bico. Raríssimas vezes confidenciei ser a autora da malfadada nota. Temi que “aquela bobagem” arruinasse a minha reputação profissional.
Hoje entendo haver também uma questão de gênero por trás do meu silêncio. Veja, as redações são historicamente masculinas no Brasil, apesar de a presença feminina ter aumentado nas últimas décadas. Se um redator comete algum deslize, beleza. Faz parte do jogo. Mas se uma redatora erra… Em 2017, a pesquisa Mulheres no Jornalismo Brasileiro deixou bem claro que o mar da profissão não está para sereias. Cerca de quinhentas jornalistas, que atuavam em 271 veículos de todo o país, participaram do estudo. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), a agência Gênero e Número e o Google News Lab realizaram o levantamento. Algumas conclusões:
– 53,4% das entrevistadas disseram acreditar que, nas organizações em que trabalhavam, as mulheres tinham menos oportunidades de progredir na carreira que os homens;
– 86,4% declararam já haver enfrentado pelo menos uma situação de discriminação de gênero no trabalho;
– 73% afirmaram ter escutado comentários de natureza sexual sobre mulheres dentro das redações;
– 92,3% alegaram ter ouvido piadas machistas enquanto exerciam suas funções.
Esses números impressionam você, Caetano?
Também devo acrescentar que cobrir temas socialmente identificados como femininos e de “baixa cultura” (tipo celebridades e televisão) significa arder na fogueira do desprezo acesa por colegas que se consideram mais sérios e preparados. Não à toa, no dia 12 de março de 2011, quando voltei do bar para casa e abri o Twitter, logo me deparei com um post nada amistoso. “Tsunami no Japão, Líbia em bombardeio, Kleber versus Felipão e aí chega a notícia: Caetano Veloso Passeia pelo Leblon e Estaciona o Carro”, zombou um figurão do jornalismo cultural. O tuíte dele bombou. Zilhões de novos tuítes sacanearam a minha travessura. Estava decretada a caça informal à bruxa aqui.
Uma década se passou e, em 2021, ninguém, nem os próprios jornalistas, questiona ou ironiza portais que dão manchete para o resultado do jogo de futebol enquanto uma pandemia viral mata centenas de milhares de brasileiros. Como é possível a gente não se indignar toda vez que a bola ganha o mesmo destaque de notícias sobre saúde, política e educação? Será que nos calamos pelo fato de a sociedade enxergar o circo do futebol como assunto de homens? Perguntas sinceras, juro.
No café da manhã, converso em inglês sobre esta carta com meu marido, que é psicólogo e pesquisador numa universidade dinamarquesa. Moramos em Aarhus, a segunda maior cidade da Dinamarca, depois de Copenhague, a capital. Lá fora, a neve derreteu. Os sinais da primavera se tornam cada vez mais evidentes. De verdade, ainda me incomoda a insinuação de que assassinei o jornalismo. Talvez porque, anualmente, a acusação volte a ganhar muita atenção na internet. Desde 2012, a cada 10 de março, há sempre um ou mais sites jornalísticos, um ou mais influencers, um ou mais humoristas e uma infinidade de reles mortais que ressuscitam a não notícia de você estacionando no Leblon. A coisa virou não só uma efeméride como um ímã de cliques, piadas, deboches e textões críticos sobre os descaminhos da imprensa. O estranho fenômeno me faz lembrar que o jornalismo pode gerar uma base emocionalmente segura para as nossas interações sociais. A previsão do tempo, por exemplo, abre espaço para conversinhas triviais no ponto de ônibus ou no táxi, um papo ameno que dificilmente terminará em conflito. No caso da nota que redigi, sem fato e com fotos, criou-se um lugar confortável para interações baseadas na crença de superioridade intelectual e moral dos que invocam o “causo” em relação a alguém invisível – um redator qualquer ou mesmo um estagiário (sim, muitos imaginam que um estagiário escreveu o texto, sem perceberem a deselegância com que, no Brasil, tratamos os jovens em início de carreira). O problema, galera, é que esse alguém invisível existe, e sou eu! Acordem!
Você já ouviu falar da socióloga norte-americana Wendy Griswold? Sugiro espiarmos rapidamente um dos livros dela, Cultures and Societies in a Changing World. No ensaio, a autora analisa a resposta dada por Stendhal aos críticos que o acusavam de ser um escritor sórdido: “Um romance, senhores, é como um espelho que se carrega ao longo de uma estrada. Ele refletirá aos seus olhos, às vezes, o azul do céu e, às vezes, a lama das poças na pista. E o homem que carrega o espelho em suas costas é acusado por vocês de imoralidade! O espelho mostra a lama e vocês culpam o espelho!” Seria o jornalismo de celebridades também um espelho? O que você vê nele, Caetano?
O receio que senti de virar chacota teria hoje um nome bem específico: “medo de cancelamento”. Olhe só a ironia: em dez anos, meu fantasma particular se transformou no fantasma de quase todos os que transitam pelas redes sociais no Brasil. Quando foi mesmo que normalizamos o ato de nos humilhar mutuamente em praça pública? Para minha surpresa, ninguém no Terra me repreendeu pela nota insensata. Na verdade, ninguém nem sequer a mencionou. Estávamos muito ocupados em produzir novos conteúdos clicáveis. Continuei na minha até que, uns dias depois, me convidaram para trabalhar outra vez na Folha, onde eu achava que poderia sonhar mais alto. Assim, me desliguei do Terra em 22 de março de 2011.
Antes de partir, mandei este e-mail para uma editora querida, de quem não pude me despedir pessoalmente (fui um tiquinho falsa, reconheço): “Oi! Deu tudo certo com a matéria que deixei pronta, sobre a [banda inglesa] Human League? Queria te agradecer pela oportunidade de ter trabalhado aí. Apesar do tempo curto, gostei bastante do trabalho e da equipe. Acho que pude aprender um pouco sobre a produção de conteúdo para internet. Até entendi qual o truque dos cliques, né? Enfim, obrigada por tudo. Grande beijo, Elis.” Em 6 de abril de 2011, a tal matéria saiu com o título: Cantora do Human League Diz que Kate Perry É “Par de Seios”.
Como sabemos, nossa história não terminou com meu desligamento do Terra. Passei os últimos dez anos assistindo de camarote ao inexplicável carnaval que fizeram em torno daquela nota. Às vezes, ainda escuto alguém indagar de maneira jocosa: “Quem, afinal, escreveu aquilo?” Sou o mistério mais bem estacionado do jornalismo brasileiro, Caetano! A fundadora involuntária de uma seita disparatada.
Em 2012, eu estava ocupadíssima, de volta à minha mesa de redatora barata na Folha. Provavelmente, fechava a seção de horóscopo da Barbara Abramo quando um dos poucos amigos que conheciam meu segredo me avisou pelo chat do Gmail: “Sua nota sobre o Caetano voltou aos holofotes.” Eu mesma não lembrava mais da galeria nem do texto. “Você é genial”, zumbiu meu amigo. Esqueci o que aconteceu em 2013 e 2014. Mas me recordo bem de 2015: naquele ano, vendi o Gol Rallye e fiz um upgrade para o Citroën C3. Eu havia me metamorfoseado numa redatora já não tão barata e testemunhei o nascimento da hashtag, #caetanoestacionanoleblon. O meme tinha se consolidado. O próprio Terra se pronunciou sobre o assunto no Facebook: “[Hoje] a matéria voltou a ser uma das mais vistas do portal nas redes sociais. No momento, tem 43,7 mil compartilhamentos. Nós sabemos que vocês fazem isso para rir. E acreditem: nós também rimos bastante. Afinal, quem tem quase quinze anos na internet, já errou bastante, não é? Não tem coisa melhor que rir de si mesmo.” Um erro, Caetano? Então o nosso enrosco não passou de um erro? Um erro que nunca parou de fisgar a atenção do público?
Em 6 de janeiro de 2016, vi você comentar o episódio pela primeira vez, durante uma entrevista para o canal do Deezer no YouTube. Gilberto Gil participou da conversa. “Essa manchete é incrível”, definiu você quando a entrevistadora evocou a famigerada nota. Ela lhe pediu para associar uma canção ao nosso affair. Confesso que gostei muito de ouvi-lo citar Menino do Rio. Sim, Caetano, adoro ver-te. Depois dessa, me senti autorizada a assumir para a velha turma do Terra que a “sacada do estacionamento” tinha sido minha. Em agosto de 2016, vendi o Citroën C3 e vim cursar um mestrado em jornalismo, globalização e cultura nas universidades de Hamburgo, na Alemanha, e de Aarhus. Banquei meus estudos com a grana do carro e de alguns empregos que tive na Europa (produtora de cinema, tradutora do inglês para o espanhol num aplicativo, pesquisadora numa agência de publicidade e assessora de imprensa). Hoje, como já disse, vivo nos domínios da rainha Margarida II, onde desfruto o sonho do welfare state sob o governo da primeira-ministra Mette Frederiksen. Ela é do tipo que posta foto da própria faxina no Instagram. Na Dinamarca, só a rainha não limpa a própria latrina.
Em 10 de março de 2017, no sexto aniversário da efeméride, considerei um tanto ácida a declaração que você publicou no Facebook: “Vi essas fotos com certo atraso. Pessoas amigas me mostraram e rimos sempre muito com o absurdo. Havia um pouco de indignação também nesse riso. Depois percebi que um número imenso de pessoas ria e se indignava com esse show de banalidade. Achei que há suficiente consciência do ridículo dessas coisas.” Sim, minha modestíssima obra tem algo de pesadelo recorrente para você e para mim. Em 13 de abril de 2017, fiquei confusa ao me flagrar em Caetano, o vídeo do Porta dos Fundos que tripudia sobre nosso caso. O ator Gregorio Duvivier me interpretava. Ou melhor: interpretava o repórter que os roteiristas (Gabriel Esteves e Fabio Porchat) imaginavam ter surpreendido você no Leblon. Me senti bem estranha por ser representada como um homem branco. Também preciso dizer que não achei graça na piada. “Por que o Leblon?”, perguntou o personagem de Duvivier para você, que topou aparecer no vídeo. A resposta: “Porque Ipanema fica cheia demais.” Huuuum… Prefiro o making of da gravação. Chegou a ver? O humorista Rafael Portugal, emocionado por gravar com você, deixou escapar um bastidor saboroso: “Uma vez a gente estava numa festa na casa da Maria Gadú [a cantora]. Aí, o Caetano gosta muito de misturar um uisquezinho com vinho. Só que não é qualquer vinho. É um vinho que é de uma região específica de Portugal. E a Maria tem [o vinho]. Ele começou a cantar em espanhol… Apareceu alguém com um banjo. E ele tocando banjo e cantando naquele espanhol de uísque com vinho. Aí, quando ele parou, a gente queria rir porque era engraçado, mas muito bonito.”
Em julho de 2019, nas férias de verão, vi pela primeira vez, ao vivo, um de seus shows. Foi justamente em terras lusitanas, no Coliseu do Porto. Gersi, a minha Dona Canô, sempre repete que não devemos enterrar nossos sonhos. Aliás, quero lhe contar um sonho. Sonhei em forma de documentário. Eu assistia ao filme de um diretor que havia captado a imagem de um pequeno esqueleto humano saindo de uma tumba de pedra. Era a prova definitiva de que existe algo transcendental no universo. Depois, o diretor ia de casa em casa, numa cidadezinha não identificada do interior brasileiro. Ele carregava uma campainha, cujo som acordava seres metafísicos que viviam no mesmo terreno onde se erguiam prédios modernos. Entre os seres, havia um preto norte-americano forte, com brinco de ouro na orelha, e um índio. Ambos perguntavam, com olhos serenos, o porquê de toda aquela perturbação. Despertei. Com o que você anda sonhando, Caetano?
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Quarta-feira, 10 de março.
É hoje, meu caro Caetano. Nossa esdrúxula união soma inacreditáveis dez anos. Estou um pouco cansada da relação, mas não posso mais ignorá-la. Sinto muito. Ainda assim, acredito ser possível nos reunirmos num outro nível de vínculo, como bem disse você em Oração ao Tempo. Comecei o dia ouvindo o disco Refazenda, do Gil, que vem me dando muita paz e me feito refletir sobre minhas raízes. Tenho sangue indígena, negro, português e italiano. No Brasil, nunca soube afirmar se sou quase preta ou quase branca. Sempre me vi (e me viram) como racialmente suspeita. Já a legislação dinamarquesa se refere a mim como minoria étnica de origem não ocidental.
Estou quatro horas à frente do horário de Brasília, diante do computador, de pijama, com celular, bloco de notas e caneta à mão. Vou acompanhar o frenesi que nosso decênio certamente provocará na mídia. Me sinto alegre por ter escrito, sem querer, uma frase banal na sua biografia. Minhas palavras e as imagens do fotógrafo Fausto Candelária agora estampam camisetas de pessoas que não conheço. Pôsteres e ilustrações referentes à nossa epopeia litorânea estão pendurados nas paredes de quem divulga fotos da própria parede no Instagram. Eu, o paparazzo e você inspiramos, no mínimo, um conto (está na abertura do livro Um Homem Burro Morreu, de Rafael Sperling), uma dissertação de mestrado (Fragmentos de um Discurso Biográfico: Poéticas, Políticas e Devorações do Biografema na Comunicação Contemporânea, de Luis Felipe Silveira de Abreu, apresentada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e um samba (de André Mussalem, que ele mesmo gravou no álbum Pólis). A letra da música, por sinal, é excelente. Leia um trecho dela: Alvorada na favela/Um corpo achado na viela/Caetano estaciona no Leblon/Golpes na avenida/Uma mãe se suicida/Caetano estaciona no Leblon/Lá onde o Rio é mais tranquilo/Bem longe dos medos do Brasil/Sob o esplendor do infinito/Sem ar-15, sem fuzil/Meu coração se cansa de perder tanta esperança/Caetano estaciona no Leblon. Começo a pensar que realmente iniciamos uma revolução. Pode ser também apenas um surto coletivo. Em que trauma do inconsciente brasileiro nós mexemos, Caetano?
“Hoje todos querem um pedacinho da sua glória”, me sopram amigos pelo WhatsApp. No Twitter, o fotógrafo e colunista do Globo, Leo Aversa, sugere: “Ô, @eduardopaes, tem que colocar uma estátua, um monumento ou ao menos uma placa na vaga do Leblon onde o @caetanoveloso estacionou dez anos atrás. Garanto que vai virar atração turística.” O prefeito do Rio não desperdiça a oportunidade e responde: “Né? Fato relevante e extraordinário como esse merece estátua. Avaliando aqui.” Até a sua equipe, Caetano, tira uma casquinha da efeméride e programa seu début no Tik-Tok para hoje. Primeira postagem: o vídeo sem graça do Porta.
A Folha não economiza papel e mete o assunto na capa da Ilustrada. Sem Flash, Por Favor, reivindica o título da reportagem, que discorre sobre as mudanças sofridas pelo jornalismo de celebridades ao longo da última década. Me chama a atenção o fato de a matéria vir à tona sem nenhuma das imagens de Fausto Candelária. No lugar delas, o jornal publica uma colagem em que os paparazzi de A Doce Vida, filme de Federico Fellini, se misturam com um retrato que Bob Wolfenson fez de você em 1988. A reportagem de Anna Virginia Balloussier esclarece por que, afinal, você havia estacionado o carro no Leblon: estava indo à terapia.
No Motor Show, portal sobre automóveis e motocicletas, Renato Moikano também aborda o episódio. Ele trabalhava como editor-executivo do Terra em março de 2011. “A culpa é minha!”, alardeia no simpático texto que publicou logo cedo. Como bom chefe, assume a responsabilidade por tudo que saía na editoria Diversão e não cita meu nome. Aliás, ninguém cita. Não querem invadir a minha privacidade, imagino. Que ironia…
Decido procurar Fausto Candelária. Desejo perguntar se ele gostaria de usar esta carta para também se dirigir a você. Peço que três fotógrafos me ajudem na busca e descubro que Candelária enfrentou muitos problemas. Há seis anos, amigos fizeram uma vaquinha para ajudá-lo. O paparazzo havia sido despejado do prédio onde morava no Leblon.
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Sábado, 13 de março.
Querido Caetano, Fausto Candelária não acorda mais de sonhos intranquilos. Fiquei sabendo que ele morreu de parada cardíaca no dia 19 de abril de 2020. Tinha 67 anos. Hoje, esta filha única de um soldador de automóveis conseguiu falar pelo Instagram com a filha única do paparazzo carioca. Somos, ambas, mães de menina (minha Flora completa 10 meses agora em abril). “Só quero que você respeite a memória do meu pai”, pediu a moça, que não me autorizou a divulgar seu nome. “Ele amava o que fazia e enxergava como uma grande realização ter acesso à fotografia e às pessoas famosas. Viveu sempre com simplicidade. Trabalhou como eletricista e pintor antes de virar fotógrafo. De início, tirava os retratos com câmeras emprestadas. Nunca soube escrever direito. O ator Miguel Falabella foi a primeira celebridade que o valorizou. Deixava-se fotografar numa boa e chegou a ajudar meu pai financeiramente. Adriane Galisteu, Juliana Paes, Hebe Camargo e Roberto Carlos também gostavam do Seu Fausto, como muita gente o chamava. Caetano Veloso sempre o tratou bem, com educação. Meu pai queria realizar um trabalho bonito para que todos o admirassem. No fim da vida, teve tuberculose e perdeu o fôlego. Já não podia correr atrás dos artistas na orla, mas ainda se sustentou por um tempo graças às revistas. O pessoal da Caras comprava os poucos flagras que ele conseguia fazer. Sei que agiam dessa maneira apenas para lhe dar uma força.”
Fausto Candelária é o mártir da minha revolução jornalística, Caetano. Uma revolução que vem resultando em notícias cada vez mais kafkianas. Neste ano, o UOL decidiu investigar o Kadett branco que aparece ao seu lado numa das fotos. Eu sei que, em 2011, você dirigia um Fiat preto, quatro portas. Mas e daí? “Descobrimos que o Kadett é de 1994, está registrado no Rio de Janeiro, capital, e foi licenciado pela última vez em 2014”, reportou o UOL. “Além disso, o veículo ‘famoso’ tem duas multas de trânsito, totalizando 212,81 reais. Uma delas, já prescrita e por estacionar em local proibido, com data de 22 de janeiro de 2015. No caso, a infração aconteceu longe do Leblon, na Zona Sul. Foi no bairro de Vila Isabel, no lado oposto da cidade.”
Do além, meu pai, Seu Fausto, Dona Canô e a Hebe só podem estar rindo da nossa cara.