Janio de Freitas: depois da denúncia sobre a fraude na Norte-Sul, três ameaças de morte, inúmeros telefonemas anônimos, uma tentativa de abalroar seu carro e um homem armado na garagem CRÉDITO: RICARDO BORGES_FOLHAPRESS_2017
“Eu preferia ir para o Havaí”
Janio de Freitas e a construção do furo jornalístico que sacudiu a República e marcou sua trajetória
Ricardo Balthazar | Edição 197, Fevereiro 2023
A primeira providência tomada pelo delegado José Carlos Conceição foi chamar o jornalista Janio de Freitas para um interrogatório. Era maio de 1987. A Polícia Federal acabara de instaurar um inquérito para investigar suspeitas de fraude na concorrência aberta para a construção do primeiro trecho da nova Ferrovia Norte-Sul. Dias antes, o jornalista noticiara que as maiores empreiteiras do país haviam transformado a licitação num jogo de cartas marcadas, dividindo os dezoito lotes da ferrovia entre elas, antes de submeter suas propostas ao governo. O objetivo do policial era extrair do autor da revelação mais informações sobre o conluio e seus participantes.
De início, o delegado enviou um telex para a sucursal da Folha de S.Paulo no Rio de Janeiro, onde Freitas trabalhava. Depois de receber a informação de que o jornalista não comparecera à redação nos dias anteriores, Conceição resolveu telefonar. Na segunda tentativa, conseguiu falar com o jornalista e o convidou para tomar um café e prestar esclarecimentos na sede da PF. Disse que não pretendia criar constrangimentos para o repórter e estava ciente da proteção legal ao sigilo de suas fontes de informação. Freitas concordou, mas avisou: “Desde logo esclareço que nada direi que não tenha escrito antes.”
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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